O realizador português Frederico Corado está a terminar um documentário sobre o artista britânico Terry Jones, que morreu na terça-feira, aos 77 anos, mas não sabe ainda quando o irá exibir, disse à agência Lusa.

Morreu Terry Jones, membro dos Monty Python e realizador de “A Vida de Brian”

Ainda ontem estive até às quatro da manhã a montar o filme e hoje soube da notícia da morte dele”, afirmou Frederico Corado.

O realizador explicou que o filme “Citizen Jones” está “praticamente pronto”, mas a história da sua produção é longa e remonta a 2007, ano em que filmou os ensaios para o musical “Evil Machines”, que Terry Jones encenou em Lisboa.

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Na altura, Frederico Corado propôs a Terry Jones fazer um filme sobre o percurso dele e entrevistou-o durante três horas, em Lisboa.

O realizador recorda uma pessoa “extremamente disponível, que não se recusou a nada, falou abertamente de tudo, falou da influências, sobre a vida, a carreira, televisão, teatro, escrita”.

Por falta de financiamento, a montagem e finalização do filme foi sendo arrastada no tempo, com Frederico Corado a recorrer a crowdfunding para o concluir, ao mesmo tempo que foi mantendo o contacto com o autor britânico. “Agora que ele morreu, é sempre desagradável” estar a falar sobre o filme e querer divulgá-lo, disse.

Quando estiver pronto, Frederico Corado irá mostrá-lo a todos os que contribuiram financeiramente através do croudfunding e, possivelmente, fará exibições em que as receitas revertam para instituições de apoio a quem sofre de demência.

O ator, encenador, escritor e realizador britânico Terry Jones, que cofundou o coletivo de humor Monty Python, morreu na terça-feira em Londres aos 77 anos.

Terry Jones sofria de demência desde 2015, uma doença com a qual lidou “de forma extremamente corajosa e sempre com sentido de humor”, refere a família, num comunicado citado pela BBC. “O trabalho dele com os Monty Python, os livros, filmes, programas de televisão, poemas e outros trabalhos viverão para sempre”, lê-se no mesmo comunicado.

Com uma carreira de 60 anos, Terry Jones cofundou em 1969 os Monty Python, um dos mais bem-sucedidos coletivos de comédia do mundo, do qual faziam parte também Eric Idle, Graham Chapman, John Cleese, Michael Palin e Terry Gilliam.

Apesar de ter desempenhado vários papéis nas histórias de humor absurdo e desconcertante, na lendária série “Monty Python’s Flying Circus” (1969), foi na realização que Terry Jones mais se destacou nos Monty Python, assinando o filme “A vida de Brian” (1979) e dividindo a realização com Terry Gilliam em “Monty Python e o cálice sagrado” (1975) e “O sentido da vida”, de 1983. Este último venceu o grande prémio do júri no Festival de Cinema de Cannes.

As últimas atuações de Terry Jones aconteceram em 2014 numa série de atuações dos Monty Python, na despedida dos palcos, numa altura em que o ator e encenador se terá apercebido dos primeiros sintomas da doença, diagnosticada no ano seguinte.

Enquanto realizador, Terry Jones assinou ainda, entre outros, uma adaptação de “O vento nos salgueiros” (1996), de Kennethn Grahame, e “Uma comédia intergalática” (2015).

Especialista em História Medieval, o ator britânico apresentou ainda vários documentários televisivos, foi colunista na imprensa britânica e publicou vários livros para os mais novos.

Terry Jones esteve em Portugal em 2011, a convite do Festival Internacional de Cinema do Funchal, e, em 2008, apresentou em Lisboa o musical “Evil Machines”, que escreveu com Anna Söderström e encenou, com música original do compositor português Luís Tinoco. O espetáculo foi encomendado a Terry Jones e a Luís Tinoco pelo Teatro Municipal São Luiz, na sequência do êxito de “Contos Fantásticos”, a primeira parceria destes dois artistas, estreada naquele teatro em 2006 e reposta em dezembro de 2007.

Na altura, por ocasião da estreia de “Evil Machines”, Terry Jones contou em entrevista à agência Lusa que a recompensa mais importante de tudo aquilo que fazia – escrever, representar, dirigir – era “as pessoas gostarem”.

Questionado sobre o objetivo de vida, respondeu: “Como diz o Woody Allen, fazer piadas com mais piada, fazer filmes melhores. Eu quero fazer coisas cada vez melhores – não só coisas engraçadas, coisas melhores, em geral”.