É um objeto político em vias de extinção: um congresso eletivo. Mas em Aveiro, a “capital do CDS”, a política faz-se à antiga: contactos de última hora, reuniões da comissão organizadora, procuram-se conquistar novos apoios e investe-se no aplaudómetro na sala principal. Para organizar a estratégia, cada candidato dispõe durante o congresso de uma sala no primeiro piso logo à entrada do pavilhão. Não tem nada que enganar: é subir pelas escadas, à direita da “barraquinha” das sandes de leitão. A fação do leitão já ganhava, antes das cinco da tarde, por 500 delegados, seguida de perto pela banca dos ovos moles, mesmo em frente. E a política? Numa tarde, dos cinco candidatos à liderança, dois saíram da corrida — o que teoricamente favorece Rodrigues dos Santos.
No piso superior alinharam-se estratégias, literalmente no vão de escada — onde o candidato Francisco Rodrigues dos Santos esteve alguns minutos reunido com alguns dos seus apoiantes e com o seu braço-direito, Francisco Laplaine Guimarães. Durante a tarde, ao mesmo tempo que o líder da JP descia a escada — para ir para uma das dezenas de entrevistas — Nuno Magalhães saía de uma sala que uma folha A4 denuncia a quem pertencia: “Sala João Almeida”. Nuno Melo também ali andava, também ele se deteve alguns minutos a falar com Francisco Rodrigues dos Santos. A conversa? Melo confessou mais tarde que não ia integrar nenhuma direção independentemente de quem ganhasse e que não era por falta de convite, mas por opção.
Nuno Melo fazia parte de um grupo (na moção Direita Autêntica) que, a conta-gotas, num timing estratégico, foi ao palco declarar apoio a João Almeida: primeiro Telmo Correia, depois Hélder Amaral e, por fim, Nuno Melo. Para o eurodeputado é uma vantagem que o líder esteja no Parlamento e dos candidatos só há um deputado: João Almeida. Mas também não aceitou continuar a ser vice-presidente do partido (como foi de Assunção Cristas). Os últimos detalhes deste grupo foram ontem afinados ao jantar no restaurante Maré Cheia, em Aveiro.
Na balança dos notáveis, João Almeida saiu destacado na frente durante a tarde: António Pires de Lima, do alto da autoridade de histórico, criticou violentamente Francisco Rodrigues dos Santos. Aqueceu um pavilhão frio em Aveiro — e acabou entre apupos e aplausos.
Nos bastidores das candidaturas houve toda a tarde a expectativa de que Carlos Meira e Abel Matos Santos não levariam as moções até ao fim. Pelo meio houve conversações e houve negociações. Abel Matos Santos acabou, realmente, por abdicar a favor de Rodrigues dos Santos, justificando que o partido precisava de “esperança, renovação, vida, alegria”. Carlos Meira também desistiu, mas não disse claramente que abdicava a favor de ‘Chicão’.
Minutos depois, à Rádio Observador, Carlos Meira dizia que ainda não desistiu de uma tarefa que começou num almoço no restaurante Camelo, em Viana do Castelo: “Unir Filipe Lobo d’Ávila e Francisco Rodrigues dos Santos”. Garantiu ainda que “não se vende por lugares ou votos” e que continua “livre”.
A meio da tarde, um apoiante de Francisco Rodrigues dos Santos garantia que o líder da Juventude Popular já tinha mais de 40% dos delegados, enquanto um apoiante de João Almeida dizia que — com todos os apoios revelados e com o apoio do status quo do partido — o deputado ia na frente. Dos dois lados há incerteza. Ninguém sabe como vai acabar e a perceção é de que a luta está renhida.
João Almeida, concordam apoiantes das duas candidaturas, fez um bom discurso e eficaz. Francisco Rodrigues dos Santos, concordam os apoiantes das duas candidaturas, fez um discurso empolgante e galvanizador. “Não eram só jotinhas, havia malta de muitas gerações, muitos cabelos grisalhos de pé, a aplaudi-lo”. Os dois (Rodrigues dos Santos e João Almeida) prosseguiram otimistas pelos corredores e foram cumprimentando os militantes. Todos os votos contam.
Pelo meio, Filipe Lobo d’Ávila tenta dificultar a tarefa a ambos. Conta, desde logo, com Altino Bessa, que é importante para conquistar votos no distrito de Braga. Mesmo que em Braga João Almeida tenha dois importantes apoios: Nuno Melo e Telmo Correia. Outro dos apoios importantes de Lobo d’Ávila é do membro da comissão política distrital de Lisboa, José Seabra Duque. Lobo d’Ávila revelou ainda no palanque que, durante a tarde, recebeu convites para integrar direções, mas que não se vende por lugares. E que, por isso, vai a votos. Do lado da candidatura de Francisco Rodrigues dos Santos apelava-se aos apoiantes de Lobo d’Ávila que optem pelo “voto útil” no líder da Juventude Popular para evitar a “continuidade”.
As contas para saber quem ganha são mais difíceis do que as da “barraquinha” do leitão, onde às 17h00 já tinham sido vendidas 500 sanduíches. A uma sandes por pessoa dá quase metade dos delegados.
É o que está a sair melhor no congresso do @_CDSPP: 500 sandes de Leitao até as 17h. Apurou o @observadorpt pic.twitter.com/zgGnDuSHWj
— Miguel Viterbo Dias (@miguelfvdias) January 25, 2020