“Rodrigo? Eu gosto de todos os bons jogadores. É um jogador extraordinário, amanhã pode dar-nos muitos problemas e é um jogador fulcral na equipa deles. Claro que preferia que não jogasse, mas sabemos que se não estiver ele está outro jogador qualquer. E o Valencia tem uma grande equipa com ou sem o Rodrigo”. Foi assim, de forma pouco eficaz, que Quique Setién tentou afastar os rumores de que Rodrigo, avançado espanhol do Valencia, será reforço do Barcelona ainda neste mercado do inverno. As coincidências do futebol ditavam que este sábado, no Mestalla, o Barcelona visitava precisamente o Valencia — e Rodrigo voltava a estar no olho do furacão.

Com Kevin Gameiro e Maxi Gómez na frente da ataque do Valencia, Alberto Celades deixava Rodrigo no banco e suplentes, o que levou desde logo a comunicação social espanhola a especular sobre o facto de o avançado não ser desde já titular porque a transferência para o Barcelona já está apalavrada. O mais provável, ainda assim, é que Celades tenha deixado Rodrigo no banco porque o espanhol regressou há pouco tempo de uma paragem de 20 dias por lesão: o que não impedia a imprensa do país de colocar Rodrigo como novo número ‘9’ dos catalães.

Sem Suárez e agora com Quique Setién, o Barcelona quer colmatar ainda em janeiro a ausência do indispensável avançado uruguaio — que vai estar de fora até ao final da temporada — e demonstrou um interesse real em Aubameyang, do Arsenal, em Lautaro Martínez, do Inter, e também em Carlos Vela, mexicano que tem brilhado na MLS dos Estados Unidos. Rodrigo, porém, estará na pole-position para reforçar o ataque catalão: que no pós-Valverde e com Setién tinha agora o jovem Ansu Fati como residente titular. Este sábado, frente ao Valencia e depois de um susto na Taça do Rei com o Ibiza, onde chegou a estar a perder e só carimbou a vitória com um golo de Griezmann nos descontos, o Barcelona voltava a ter Messi, que foi poupado a meio da semana, e também Arthur e De Jong no meio-campo.

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A jogar antes do Real Madrid, que só entra em campo este domingo no recinto do Valladolid, o Barcelona tinha a possibilidade de dormir pelo menos uma noite na liderança da liga espanhola, já que os dois rivais estão nesta altura no primeiro lugar da classificação com os mesmos pontos. Já o Valencia, que perdeu os últimos sete jogos em casa com o Barcelona, procurava intrometer-se entre Athl. Bilbao, Real Sociedad, Getafe e Sevilha para começar a cimentar um lugar entre as posições de acesso às competições europeias da próxima temporada. Para isso, não podia contar com a principal referência, o capitão Dani Parejo, que estava castigado e falhava a partida.

Os primeiros minutos trouxeram exatamente aquilo que se tem visto desde que Quique Setién substituiu Ernesto Valverde: o Barcelona está a regressar à ideia de tiki-taka que começou com Cruyff e ficou definitivamente apurada com Guardiola, com mais posse de bola, mais paciência com bola e mais jogo rendilhado durante vários minutos até descobrir uma linha de passe para romper a defesa adversária. Contra o Granada, na estreia de Setién, o Barcelona fez mais de mil passes, sendo que cerca de 900 foram bem sucedidos, e alcançou uma percentagem de posse de bola que não se via nos catalães desde 2011. Mas apesar do bom arranque do Barcelona, acabou por ser o Valencia a chegar à primeira oportunidade de golo, precisamente na primeira vez em que conseguiu aproximar-se da baliza de Ter Stegen.

Numa transição ofensiva, um mau alívio de Piqué acabou por deixar Gayá praticamente isolado e com um corredor aberto em direção à baliza. Quando o lateral esquerdo do Valencia já tinha entrado na grande área, Piqué derrubou Gayá e cometeu grande penalidade (10′): na conversão, Maxi Gómez permitiu a defesa de Ter Stegen e o guarda-redes alemão evitou o primeiro golo do jogo. A posse de bola do Barcelona revelava-se praticamente inofensiva e o Valencia ia aproveitando alguns erros da defesa catalã para procurar o golo, com Ter Stegen a ser novamente decisivo em dois lances consecutivos perto da meia-hora, primeiro com um remate de Maxi Gómez (29′) e depois outro de Coquelin (31′).

O jovem Ansu Fati foi titular nos três jogos desde que Quique Setién substituiu Ernesto Valverde

Na ida para o intervalo, o Barcelona estava a golear em termos de posse de bola e controlo do jogo mas não conseguia entrar nas costas da defesa adversária, terminando a primeira parte sem ter beneficiado de qualquer oportunidade de golo à exceção de dois livres diretos batidos por Messi. Nos últimos instantes do primeiro tempo, o árbitro Jesús Gil Manzano acabou por protagonizar um momento raramente visto no futebol: depois de parar o jogo numa altura em que o Valencia seguia isolado para a baliza, sem dar a lei da vantagem que era obrigatória, o árbitro espanhol pediu desde logo desculpa aos jogadores da equipa de Celades, assumindo de imediato o erro.

O Barcelona até entrou mais perigoso para a segunda parte, construindo a melhor oportunidade do jogo logo nos primeiros segundos por intermédio de Ansu Fati (46′), mas acabou por sofrer o golo que Ter Stegen tinha conseguido evitar várias vezes até ao intervalo. Num lance de insistência do Valencia, Maxi Gómez segurou a bola na direita da grande área e rematou cruzado; a bola desviou em Jordi Alba, enganando por completo o guarda-redes alemão, e o golo foi mesmo atribuído ao lateral espanhol como sendo na própria baliza (48′).

O árbitro Jesús Gil Manzano pediu desculpa aos jogadores do Valencia e às bancadas do Mestalla depois de ter cometido um erro

O Valencia passou a jogar totalmente em modelo de transição rápida depois de se ver em vantagem, colocando toda a equipa a defender as investidas catalãs para depois procurar a profundidade no ataque — com Celades a lançar mesmo Rodrigo, para potenciar a velocidade. O Barcelona tinha a primeira linha de construção para lá do meio-campo e Vidal entrou para o lugar de Arthur para jogar, em conjunto com De Jong, nas costas de Messi e numa zona numa avançada da linha intermédia. Ainda assim, e numa segunda parte totalmente controlada pela equipa de Quique Setién em que Messi desperdiçou várias oportunidades, o Barcelona não conseguiu chegar sequer ao empate e sofreu mesmo o segundo golo, novamente por intermédio de uma ação de Maxi Gómez depois de uma boa jogada de Ferran Torres (77′).

O Barcelona perdeu pela primeira em sete anos no Mestalla, perdeu pela quarta vez para a liga esta época e perdeu pela primeira vez na era Setién, ficando agora em risco de ficar a três pontos da liderança e do Real Madrid, em cenário de vitória do conjunto de Zidane este domingo. O Barça anda à procura de um ‘9’ para colmatar a lesão de Suárez mas a verdade é que ainda não tem números nem linhas suficientes para fazer bingo: há bola, há posse, há Messi e companhia e todos os ingredientes teoricamente necessários para o sucesso. Mas falta um ingrediente especial, o golo e o ato de chegar até lá, para conseguir dar sentido às ideias de Setién.