Donald Trump anunciou esta terça-feira, na Casa Branca, as linhas gerais do seu plano de paz para o conflito israelo-palestiniano. O Irão foi rápido a reagir, considerando que o plano é uma “vergonha”. A Turquia fala em “nado-morto” e mesmo em Israel há que considere que se trata de um projeto “irrealizável”. Os líderes europeus foram mais cautelosos, pedindo tempo para analisar o plano ou considerando que é uma proposta “séria”.

O presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, manteve esta terça-feira uma rara conversa telefónica com Ismail Haniyeh, líder do partido islâmico Hamas (que os EUA qualificam como grupo terrorista) que governa o enclave de Gaza, para acertar posições que visam combater o plano de paz anunciado pelo Presidente dos EUA.

Abbas comunicou com Haniyeh pouco antes da apresentação da proposta, e considerou que “a unidade é a pedra angular para confrontar e derrotar o acordo que aponta para a eliminação dos direitos legítimos” dos palestinianos.

Na mesma linha, Haniyeh apelou à “unidade” como fator “essencial para esta etapa” e assegurou que o movimento islamita está pronto para uma colaboração política, numa referência à divisão interna que mantém com a Fatah, o partido nacionalista e secular de Abas que governa na Cisjordânia.

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Os líderes de todas as fações palestinianas, incluindo o Hamas, reuniram-se em Ramallah, sede do governo palestiniano, para definir uma resposta comum, quando o plano de paz estava a ser apresentado, em Washington.

Israel pede anexação imediata de todos os colonatos na Cisjordânia

O ministro da Defesa israelita, Naftali Bennett, defendeu que a proposta oferece a Israel “uma oportunidade para determinar o território do país” e “incluir todos os colonatos israelitas na terra e Israel dentro da soberania do estado de Israel”, acrescentando que o país “não pode esperar até depois das eleições e não vai ficar satisfeito com soberania parcial”.

Bennett afirmou ainda que o seu partido “não iria permitir que o governo de Israel reconheça um estado palestiniano em qualquer circunstância”, tal como não iria permitir qualquer transferência de territórios para o controlo palestiniano, ambos incluídos no plano de Trump.

A antiga ministra da Justiça Ayelet Shaked descreveu este como um “momento histórico” e também pediu anexação unilateral da Cisjordânia. “A parte perigosa do plano, ou seja, estabelecer um estado palestino ou reconhecer um estado palestino, não acontecerá”, escreveu no Twitter.

A coligação israelita “Azul e Branco”, liderado pelo principal opositor de Benjamin Netanyahu, disse num comunicado que o plano de Trump é “completamente consistente” em relação às suas posições e “oferece uma base forte e viável para o avanço de um acordo de paz com os palestinos, preservando os acordos existentes entre Israel, Jordânia e Egito”.

“Para que a implementação seja possível, Israel deve avançar em direção a um governo forte e estável, liderado por um indivíduo que possa direcionar a plenitude de seu tempo e energia para garantir a segurança do país e seu futuro”, escreveu o partido, referindo-se às acusações de corrupção ao atual Presidente.

Plano é tão “irreal quanto atraente”, afirma grupo israelita

“A luz verde do plano para Israel anexar acordos isolados em troca de um Estado palestino perfurado é inviável e não trará estabilidade ”, disse a organização Peace Now em comunicado divulgado após o anúncio do presidente.

O grupo reafirmou que pretende uma solução de dois Estados, com Jerusalém oriental como capital de um Estado palestiniano. Qualquer outra proposta “encontrará o seu lugar no lixo da história”, acrescentaram.

Jeremy Ben-Ami, chefe da organização liberal pró-Israel J-Street, reagiu ao anúncio no Twitter, apelidando a proposta de “golpe”.

“Pessoas de bem vão ouvir Trump dizer solução de dois estados e ficarão animados. É preciso entender o que Netanyahu acabou de descrever: Israel pretende avançar com aplicação imediata de soberania a 30% da Cisjordânia”, disse ele.

Irão denuncia “acordo de vergonha”

O ministro dos Assuntos Externos do Irão afirmou que o plano anunciado está “destinado ao fracasso”, acrescentando que “o vergonhoso plano de paz da América imposto aos palestinos é a traição do século”.

Já o grupo militante apoiado pelo Irão Hezbollah descreveu, num comunicado divulgado em Beirute, o plano como sendo perigoso, alertando para as repercussões negativas que terá para a região e o povo no futuro.

“Este acordo não teria acontecido se não fosse pela cumplicidade e traição de vários regimes árabes, secretamente e publicamente envolvidos nesta conspiração”, acrescentaram, referindo-se aos países árabes do Golfo.

Segundo o comunicado, o anúncio “confirma que a resistência é a única opção” para libertar as terras ocupadas.

Turquia: plano de Trump é “nado-morto”

Para a Turquia, o plano de Donald Trump para resolver o conflito israelense-palestino é um “nado-morto”. “É um plano de ocupação que visa matar uma solução de dois estados e extorquir territórios palestinos”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores da Turquia em comunicado.

Reino Unido: é “claramente uma proposta séria”

O secretário dos Assuntos Externos do Reino Unido disse que o plano apresentado por Donald Trump é “claramente uma proposta séria” que precisou de “muito tempo e esforço”.

Anteriormente já o primeiro-ministro Boris Johnson tinha afirmado que o plano “poderia ser um passo positivo”, após uma chamada telefónica onde o discutiu com o líder norte-americano.

Alemanha vai estudar a proposta

O ministro dos Assuntos Externos alemão reagiu ao acordo, afirmando que apenas umas solução “aceitável para ambos” poderá “levar à paz duradoura entre israelitas e palestinianos”, acrescentando que irá “estudar a proposta intensivamente”, assumindo que todos os parceiros o irão fazer.

“Com base nisso, qualquer impulso com o objetivo de colocar o processo de paz no Médio Oriente de volta ao trilho correto deve ser bem-vindo”, disse em comunicado.

“A proposta americana levanta questões que discutiremos agora com nossos parceiros na União Europeia”, acrescentou, citando entre essas questões “o envolvimento das partes no conflito num processo de negociação” consistente com “parâmetros internacionais “e” bases legais reconhecidas”.

União Europeia reafirma o seu compromisso com “uma solução negociada e viável de dois estados”

A União Europeia afirmou que “vai estudar e avaliar as propostas apresentadas”. Segundo o ministro das Relações Exteriores da UE, Josep Borrell, num comunicado em nome dos 28 países membros, a avaliação será feita com base no que foi antes dito, pedindo para “relançar os esforços que são urgentemente necessários” com vista a essa solução negociada.

Embaixada norte-americana em Israel emite aviso

Após o anúncio de Trump, a embaixada dos EUA em Israel emitiu um aviso para todos os cidadãos americanos, que estão agora proibidos de viajar na maior parte da Cidade Velha de Jerusalém, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, devido aos “apelos generalizados de manifestações” por palestinianos.

“Os cidadãos dos Estados Unidos devem evitar áreas onde multidões se reunam e onde há maior presença policial e/ou militar”, pode ler-se no comunicado da embaixada.