Cinco dias depois de o procurador-geral da República angolano passar por Lisboa, onde se encontrou com a homóloga portuguesa, Lucília Gago, o Ministério Público português confirma: Angola já pediu ajuda formal a Portugal no processo aberto em março de 2018 contra Isabel dos Santos, constituída arguida por má gestão e desvio de fundos durante a sua passagem pela Sonangol, a petrolífera estatal angolana a cujo conselho de administração presidiu entre junho de 2016 e novembro de 2017.

“Relativamente à matéria ‘Luanda Leaks’, confirma-se a receção de pedidos de cooperação judiciária internacional em matéria penal. Neste, como em todos os outros casos, dar-se-á seguimento aos pedidos de cooperação judiciária internacional”, disse esta segunda-feira o Ministério Público português, questionado pelo Público.

A confirmação pressupõe que o Ministério Público liderado por Hélder Pitta Grós já tenha enviado para o congénere português uma carta rogatória a detalhar as diligências que quer solicitar e que podem incluir a audição de testemunhas, a constituição de arguidos, a recolha de elementos documentais e bancários ou a apreensão de bens, explica aquele jornal.

Vieira de Almeida alvo de ataque informático

A notícia do pedido de ajuda formal de Angola a Portugal surgiu no mesmo dia em que se soube que tinha sido Rui Pinto, o hacker responsável pelos Football Leaks, o responsável pela obtenção dos 715 mil documentos em que o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI) se baseou para fazer as revelações do Luanda Leaks.

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Footbal Leaks e Luanda Leaks. A justiça tem dois pesos e duas medidas com Rui Pinto?

Ainda de acordo com o Público, a Vieira de Almeida, uma das maiores sociedades de advogados do país — que apesar de ter garantido ao CIJI nunca ter assessorado Isabel dos Santos a título individual aparece, segundo o Expresso, “como beneficiária de uma comissão pela reestruturação da Sonangol”, por meio de uma “operação feita através de uma empresa em Malta que pertence a Isabel dos Santos” — também terá sido alvo de um ataque informático, suspeita-se que perpetrado por Rui Pinto, mas terá optado por não apresentar queixa às autoridades.

Apesar de a sociedade de advogados ter recusado comentar o assunto ou explicar sequer por que motivo não terá alertado as autoridades, o jornal avança que no ataque, que terá ocorrido entre 2017 e 2018, terão sido roubados “documentos sensíveis”, encontrados posteriormente pela Polícia Judiciária nos computadores, discos rígidos e pens apreendidos a Rui Pinto aquando da sua detenção em janeiro de 2019, na Hungria.

De acordo com o Público, parte dos documentos roubados à Vieira de Almeida estavam ligados ao “mundo do futebol”. O jornal diz que “não é claro” sobre se também terão sido levados ficheiros relativos a Angola ou a Isabel dos Santos.