Restaurante: Largo do Paço
Hotel: Casa da Calçada

Largo do Paço, 6, Amarante. 255 410 830. Menu de degustação a partir de 110€ (mais 55€ com harmonização de vinhos). Quarto duplo a partir de 125€.

Não é a única unidade hoteleira de Amarante – terra charmosa, cortada pelo rio Tâmega e casa do surpreendente Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, artista oriundo do concelho – mas é indesmentível que o seu nome se confunde com a própria cidade. Porque, também aqui, não seria suposto que um local tão periférico chegasse tão longe. Mas chegou. E, mais difícil ainda, tem sabido manter-se no topo. Construída durante o séc. XVI, para ser um dos principais palácios do Conde de Redondo, a Casa da Calçada foi recuperada em 2001, integrou a Relais & Châteaux em 2003, e conquistou a estrela Michelin em 2004, com o restaurante Largo do Paço, que já viu passar pela sua cozinha grandes chefs nacionais. Desde 2017 é Tiago Bonito quem tem continuado este trabalho, ele que é um apaixonado pela tradição. “A minha comida é mar e fogo. É fumeiro, eucalipto, pinheiro e videiras.” Não é apenas conversa. Veja-se a constituição do menu Identidade, um dos dois menus de degustação disponíveis: Caviar (peixe da lota, escabeche, raiz forte); Jardim do Chefe (tomate verde, verduras & brotos e camomila; Carabineiro (abacate, coral e kalamansi); Pescada de Anzol (amêijoa à “Bulhão Pato”, cogumelos selvagens e salsa); Leitão (batata, salada crocante e laranja; Maçã verde (pepino fumado, leitelho, shiso e morango com ruibarbo, hibisco e lima kaffir. Criações que poderiam ser pinturas de Souza-Cardoso.

© Imagem cedida pela Casa da Calçada

Restaurante: Midori
Hotel: Penha Longa

Estrada da Lagoa Azul, Sintra. 219 249 011. Terça a sábado das 19h30 às 23h. Menu a partir de 95€ por pessoa, 145€ com vinho. Quarto duplo a partir de 170€.

Quando é que começou a moda do sushi? Não foi em 1992, com toda a certeza, data em que o Midori – significa verde – abriu as suas janelas para a serra de Sintra, integrado no Penha Longa Resort. Foi um dos primeiros restaurantes japoneses no país. Quem gostava e podia, sabia que havia ali uma espécie de templo à prova de modas. A qualidade esteve sempre presente ao longo de 25 anos, mas em 2017 os responsáveis quiseram dar um passo em direção à alta-cozinha. Diminuíram o tamanho do espaço, aumentaram a ambição. Pedro Almeida, chef que já estava na casa há uma mão-cheia de anos, teve liberdade e engenho para todos os meses criar um novo menu de degustação. Testou mais de 200 pratos. O céu, ou pelo menos uma estrela (Michelin), parecia ser o limite. Chegou em 2018, tornando o Penha Longa o único resort de luxo com dois restaurantes distinguidos pelo Guia, lado a com lado o Lab, do espanhol Sergi Arola. Além dos pratos à la carte, há duas opções de degustação: o Menu Kiri, de sete momentos, e o Yama, de nove. Ambos são uma recriação dos tradicionais menus kaiseki da alta-cozinha japonesa. Ainda assim, há sempre uma surpreendente ligação a Portugal – ninguém estranhe, por isso, se acabar a comer carapau.

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© Luís Ferraz

A Tia Bia

Estrada Nacional 2, Barranco do Velho (Salir). 289 846 425. Terça a domingo das 12h às 15h e das 19h às 23h. Preço médio da refeição̧: 17€. Quarto duplo a partir de 57,50€

Praia, peixe, lingueirão, praia, amêijoas… Quando se pensa no Algarve pensa-se quase sempre no mesmo, mas a região algarvia vai muito para além do mar e da ria. Há um interior Algarvio – mesmo que só num país como o nosso se chame interior a uma terra a 30 quilómetros da costa – que esconde verdadeiros tesouros. Como o restaurante A Tia Bia, situado em Barranco do Velho, no sopé da serra do Caldeirão, em plena Nacional 2. O movimento desta estrada já não é o de outros tempos, mas A Tia Bia ainda é. Voltou a ser, sobretudo desde que Nuno Pires e a mulher, Cátia Graça, assumiram as rédeas, há cerca de três anos. Ele que era chef na Quinta  do Lago, mas preferiu regressar à terra natal, para assumir uma cozinha de onde saem, entre outros, abanicos de porco preto grelhados, espetada de porco preto, javali estufado, galo guisado em vinho tinto, cabrito assado no forno, migas com bochechas… já chega?

© Imagem retirada do site

Os nove quartos têm ar condicionado, televisão e casa de banho privativa. São “iluminados e harmoniosos, como um quarto típico da serra deve ser”, garantem. Se, noutros tempos, muitos dos clientes eram automobilistas a caminho do litoral, agora são sobretudo caminhantes. E quem caminha, já se sabe, precisa de comer bem, beber um medronho caseiro e descansar.

Hotel Berne

Santo António, Manteigas. 275 981 351. Terça a domingo das 12h às 14h e das 19h às 21h. Domingo das 12h às 14h30. Preço médio da refeição: 20€. Quarto duplo a partir de 65€.

O que nasce primeiro, o restaurante ou o hotel? Na maior parte dos casos são indissociáveis – nascem e crescem juntos, sobretudo nas unidades de luxo –, mas nem sempre é assim. No Hotel Berne, em Manteigas, em pleno coração da serra da Estrela, não foi. Primeiro veio a comida, em 1983, só depois a cama, quase dez anos mais tarde, em 1992, após os donos se terem cansado de ouvir que “depois de uma refeição destas, o que apetecia era ficar por aqui”. E o que é uma refeição “destas”? É comida regional, da terra, do rio. Trutas do Zêzere, a auto- denominada Truta à moda de Manteigas. Leite, azeite, limão ou salsa são alguns dos ingredientes, prato que deve a sua existência aos pastores que atiravam a cana ao rio enquanto passeavam os rebanhos. Há mais, muito mais, entre elas as não menos célebres Feijocas de Manteigas, que têm direito a Confraria e tudo. Migas de feijoca com enchidos e entrecosto, cabrito no churrasco com feijocas, bacalhau com broa e, surpresa das surpresas, fondue de queijo ou raclette… É certo que não estamos na Suíça, mas no outono e no inverno, e com esta localização, um prato destes cai sempre bem. Tal como a lareira no meio da sala. Cozinha e ambiente simples mas cuidado, acolhedor, à semelhança dos 17 quartos do hotel. Um ponto de partida (ou chegada) perfeito para descobrir a serra.

© Imagem cedida pelo Hotel Berne

The Yeatman

Rua do Choupelo, 250, Vila Nova de Gaia. 220 133 100. Todos os dias, a partir das 19h30. Menu de degustação: 170€ por pessoa (225€ com vinhos). Quarto duplo a partir de 225€.

Quando abriu, em 2010, houve quem torcesse o nariz: afinal não só se apresentava como um hotel vínico, como também tinha um spa especializado em tratamentos de vinoterapia. Era o primeiro spa da Caudalie em Portugal, marca que já tinha pisado muitas uvas em Bordéus, currículo que, ainda assim, não chegava para convencer os mais céticos. “O que é que as pessoas vão fazer?”, sussurrava-se. “Tomar banhos de vinho tinto?” Não só, mas também. Pese a desconfiança inicial, o hotel The Yeatman acabou por ser um sucesso, tendo recebido um sem-número de distinções internacionais. Pelo spa, pela vista – aquela piscina panorâmica sobre o centro histórico do Porto é qualquer coisa – e, claro, pelo seu restaurante. Obra e graça de Ricardo Costa, homem tímido mas cozinheiro destemido, que tinha arriscado deixar o conforto da Largo do Paço, na Casa da Calçada, onde esteve entre 2007 e 2010. E o que se faz depois de conquistar a primeira estrela? Conquista-se a segunda, em 2017. Pelo meio houve (e há) trabalho, trabalho, trabalho, sempre com muita criatividade à mistura. A cozinha tem os olhos cravados no mar e as mãos bem assentes nos produtos da terra. O menu é sazonal, fixo, composto por oito a dez pratos. Tudo bem casado com vinho, é claro. Demasiado vinho? Os 109 quartos permitem evitar a viagem de regresso.

© Imagem cedida pelo Yeatman

Restaurante: G Pousada
Hotel: Pousada de São Bartolomeu

Rua Estrada do Turismo, Bragança. 273 331 493. Menu de degustação a partir de 87,50€ (mais 25€ com harmonização de vinhos). Quarto duplo a partir de 113€.

Longe vão os tempos em que a cidade andava nas bocas do mundo devido à história das “mães de Bragança”, mulheres que se uniram contra a prostituição na cidade, caso que chegou à capa da revista Time, em 2003. Por essa altura, nem os mais sonhadores imaginariam que, em 2019, haveria um restaurante da terra a integrar o elitista e centralista Guia Michelin. Mas a verdade é que a realidade superou as melhores expectativas. Culpa dos manos Óscar e António Gonçalves – filhos dos proprietários do também afamado restaurante Geadas. Assumiram a gestão da Pousada de São Bartolomeu e, imagine-se, resolveram apostar numa cozinha de autor inspirada nos produtos locais, no G Pousada. Houve quem lhes chamasse loucos – se no Porto fazer uma cozinha de autor era, há uns anos, considerado um risco, imagine-se em Bragança. Afinal, quem é que faria uma viagem tão grande para comer cantaril com trigo e ouriço-do-mar? Ou um sargo acompanhado por carolino das lezírias e lingueirão da ria Formosa? Muita gente, pelos vistos. Estes são dois dos pratos da atual carta. Também há carne, é claro, cabrito serrano, veado, vaca mirandesa, porco bísaro. Pratos que, quem sabe, chegarão também eles um dia à capa da Time.

© Manuel Teles / G Pousada

Restaurante: Cozinha da Clara
Hotel: Quinta de La Rosa

Quinta de La Rosa, 215, Pinhão. 254 732 254. Todos os dias das 13h às 15h e das 19h às 22h30. Preço médio da refeição: 40€ por pessoa. Quarto duplo a partir de 135€.

Se os olhos também comem, todos aqueles que chegam à Cozinha da Clara – restaurante da Quinta de La Rosa, de frente para o Douro – ficam com a barriga a rebentar de paisagem. Um sítio especial: é por isso comum dar de caras com muitos dos melhores enólogos da região, Dirk Niepoort e companhia. Pelo panorama, pelo vinho, pela comida. Por Sophie. Sophie Bergqvist, proprietária da quinta, é aquilo que uma boa anfitriã deve ser: um sorriso e uma boa história. Inglesa, formada em Cambridge, assumiu os destinos da propriedade depois da morte do pai, com quem trabalhava desde 1988. “Houve alturas difíceis, em que pensei ir embora: muito dinheiro  investido, a família longe, mas nunca fui capaz.” Felizmente. Não só não o fez como em 2017 abriu o Cozinha da Clara, em homenagem à sua avó Claire, tendo encontrado no jovem chef duriense, Pedro Cardoso, o cúmplice certo. Polvo grelhado, migas de brócolos com broa de milho amarelo, bacalhau assado em azeite Quinta de la Rosa, grão de bico, chouriço & grelos são alguns dos exemplos. Sente-se, sem exagero, a região no prato. O ambiente é descontraído, seja ao almoço ou jantar, numa casa que abriu o restaurante há apenas dois anos, mas que, nota-se, já recebe há décadas. Tem 21 quartos espalhados pela quinta. E vários terraços perfeitos para um Porto tónico.

© Imagem cedida pela Quinta de la Rosa

Restaurante: Sever Grill
Hotel: Sever Rio

Rua Nova, 24, Portagem (Marvão). 245 993 458. Quinta a terça das 12h às 16h e das 19h às 23h. Preço médio da refeição: 20€. Quarto duplo a partir de 50€.

Quem diz grill diz… churrasqueira. Churrasqueira? Estamos a sugerir aos nossos leitores uma churrasqueira? Poderia ser, até porque qualquer bom viajante e amante de road trips sabe que, em determinados momentos, não há nada como um frango bem assado. Porém, o nome aqui é uma espécie de engano bem intencionado. Esqueça-se o frango, apostem-se nos cogumelos. Sim, cogumelos: este Sever Grill fica a dois passos da serra de Marvão, terra norte-alentejana, verde, fértil, exuberante, e que é um viveiro ímpar no que a estes deliciosos e complexos fungos diz respeito. Míscaros grelhados, miolada de tortulhos, tortilha de boletos, mil vezes cogumelos, sempre bem servidos e bem preparados, o que não é fácil de fazer nem de encontrar. Também há veado com castanha e pudim de castanhas – a castanha é outro dos produtos locais por excelência –, mas os cogumelos… Tudo regado com azeite Marvão. O hotel – dos mesmos donos, com o mesmo nome e de frente para o rio Sever – fica a dois minutos a pé. O suficiente para uma rápida digestão.

© Imagem cedida pelo Sever Grill

Residencial Borges

Rua de Camões, 4, Baião. 255 541 322. Preço médio da refeição: 20€. Quarto duplo a partir de 50€.

Bazulaque. Diz o dicionário que se trata de um “indivíduo gordo e baixo; miudezas; comida feita com fígado e bofes”. Sejamos sinceros: ninguém, ou quase ninguém, irá até à Residencial Borges, em Baião, de propósito para dormir – porque é isso mesmo que é suposto ser, uma residencial, um sítio confortável, neste caso com 14 quartos, todos com casa de banho privativa, TV, telefone, aquecimento e alguns com varanda e vista para serra – onde pouco mais se faz do que passar a noite, tomar o pequeno-almoço e partir. Mas há muito quem venha de propósito ao restaurante. Porquê? Porque é daqueles sítios onde a tradição continua mesmo a ser o que era. Comida de forno, aparentemente simples. Como o bazulaque, pois claro, receita que se preparava nos dias de casamento para ganhar energias nas longas deslocações. É feita com as vísceras do cordeiro, pulmão, coração e fígado, que são depois marinadas em vinha de alho e cozinhadas com batatas e pão. Tem a consistência de uma açorda. Também há anho, disponível apenas aos domingos e feriados ou por encomenda, a partir de oito pessoas, vitela arouquesa assada, alheiras e enchidos regionais. Português mais português já (quase) não há.

© Imagem cedida pela Residencial Borges

Fortaleza do Guincho

Estrada do Guincho.  214 870 491. Menu almoço: 75€ (110€ com harmonização de vinho). Ao jantar há menus de 95€ e 145€. Quarto duplo a partir de 180€.

2019 foi ano de “renovação e inovações” neste clássico cascalense. Com a saída de Miguel Rocha Vieira que, em 2015, se tinha tornado o primeiro português à frente da cozinha desta unidade Relais & Chateaux inaugurada em 1998, o jovem Gil Fernandes, de apenas 28 anos, tomou conta dos destinos da cozinha e conseguiu manter a estrela Michelin, na Fortaleza do Guincho desde 2001. Logo na passagem de testemunho, o antigo souschef prometeu uma “evolução natural e tranquila”. Consciente de que “há um ADN particular a respeitar e com o qual as suas criações devem estar sintonizadas”, está a tentar colocar “a serra de Sintra, o mar do Guincho e Portugal inteiro nos novos pratos”. É costume vê-lo por ali, circulando pelas redondezas a identificar e apanhar ervas que possam integrar os seus pratos. Como a flor de sabugueiro. Os que não conhecem ou estão com dúvidas sobre o valor deste jovem podem sempre começar por experimentar o menu de almoço, composto por três pratos. Sim, este estrela Michelin está aberto ao almoço, ao contrário da maioria, sem que isso lhe retire charme e classe. A seguir, se for preciso, dorme-se a sesta.

© Imagem cedida pela Fortaleza do Guincho

Artigo publicado originalmente na revista Observador Lifestyle nº 5 – Especial Comida (setembro de 2019).