Empresas privadas que vendem serviços médicos de diagnóstico na área do desporto oferecem 20 a 30 euros à hora, mas não explicam que só pagarão esse valor se os médicos conseguirem fazer mais de dez consultas por dia. Uma reportagem do Diário de Noticias revela este tipo de histórias que, apesar se ser bem conhecida pelas pessoas do meio, continuam a acontecer, podendo com isso pôr em risco a saúde de centenas de atletas.

De 1997 a 2017 houve um enorme aumento no número de desportistas federados (de 271.470 para 624.001, respetivamente, dizem os dados do Instituto Português do Desporto e da Juventude, o IPDJ) e isso fez com que o Serviço Nacional de Saúde deixasse de ter capacidade para dar resposta aos pedidos de exame, que acontecem quando o atleta se inscreve como federado e todos os anos depois disso. Terá sido essa falta de capacidade de resposta que motivou a criação destas empresas que começaram a vender este serviço em pacotes.

A Despormed, por exemplo, é uma dessas firmas e, segundo o relatado, promete aos seus médicos um pagamento de 23 euros à hora, mas só se o clínico examinar pelo menos dez atletas, se não o fizer o valor desce para os 2,30€. Para conseguir cumprir essa bitola teria de ter um tempo médio de consulta de seis minutos, duração muito abaixo dos 20 a 30 minutos aconselhados pelos colégios da especialidade da Ordem dos Médicos para a consulta de medicina desportiva (DR, Regulamento n.º 724/2019).

Citado pelo DN, Rui Braga, que é o gestor e proprietário da Despormed, confirma que oferecem os tais 23 euros à hora, mas não exigem “que os médicos vejam 15 ou 20 atletas, isso depende muito da dinâmica do médico e ele é que é o responsável pelo exame. Há quem veja sete ou oito atletas e quem veja 12 ou 13 numa hora. Os nossos médicos seguem os critérios do IPDJ”, argumenta.

Alberto Prata, interno de medicina desportiva e médico da seleção nacional de futebol de praia, explica que em tempos foi aliciado por essas empresas, mas recusou por achar que não davam condições para se fazerem exames corretamente. “Quem aceita fazer esse exame não pensa no nível de responsabilidade em que se está a envolver. Se houver um problema de saúde com o atleta, a responsabilidade é do médico.”

Maria João Cascais, presidente do Colégio de Especialidade de Medicina Desportiva da Ordem dos Médicos (OM), explica que “apenas 5% a 10 % dos exames são bem feitos” e isso significa que se está a deixar de conseguir identificar “problemas cardíacos”, prevenir “doenças infantis, como a obesidade e a diabetes” e evitar lesões.”

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