“Ainda se está a adaptar”. “Ainda está a criar rotinas com a equipa”. “Ainda tem de conhecer uma nova realidade”. “Ainda está a perceber um mundo diferente”. E podíamos continuar este autêntico léxico de frases feitas nesse grande dicionário em que se transformou o futebol, neste caso no capítulo dos jogadores que acabam de chegar a um clube. Um capítulo que, na Premier League, não existe. E que não tem nada a ver com o Brexit mas sim com uma cultura muito própria que contribui para que seja a maior liga do mundo. Bruno Fernandes que o diga.

Bruno Fernandes já é dos red devils: o amor que nasceu com Ronaldo, um número de peso e a estreia com os Wolves

Depois de negociações que andaram no pára arranca durante vários dias até haver uma piscadela do Barcelona que acelerou tudo até ao acordo final, o antigo médio do Sporting chegou a Manchester na noite de quarta-feira (quando o United defrontava no Etihad Stadium o rival City na segunda mão da meia-final da Taça da Liga) com família e representantes num jato privado, fez os habituais exames médicos após pernoitar no Lowry hotel, assinou o contrato que lhe triplicou o atual vencimento em Alvalade, fez as habituais baterias de imagens para uso do clube nas lojas, nas plataformas e nas redes sociais, deu a primeira entrevista aos órgãos dos red devils, foi apresentado de forma oficial, festejou o aniversário da filha, descansou, foi à boleia de Diogo Dalot para o primeiro treino em Carrington. Tudo até esta sexta-feira, véspera do encontro com o Wolverhampton. Este sábado, foi logo titular.

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“Falei com alguns dos colegas dele na Seleção de Portugal. O Nani diz que é uma contratação fantástica e que é um jogador que se vai adaptar na perfeição ao futebol inglês. O Cristiano Ronaldo disse-me também que o Bruno Fernandes é fantástico! Consegue ditar o ritmo de jogo e é muito confiante”, revelou o antigo capitão de equipa Rio Ferdinand, que jogou com os dois internacionais portugueses mas também com Paul Scholes, uma espécie de “dono eterno” do número que passou a ser do ex-médio do Sporting (18). “Está em condições físicas de jogar e certamente estará connosco. Teve dias agitados, é claro, por isso não sei ainda até que ponto vai estar envolvido no jogo. Mas estará com a equipa”, referiu Solskjaer, entre elogios ao perfil de jogador que gosta de ter: “É um vencedor. Foi um fantástico capitão no Sporting e vai chegar cá e ser um líder também”, destacou.

Depois de um período de aquecimento onde parou algumas vezes para olhar à volta de forma impressionada para Old Trafford (talvez a reparar numa curiosidade que quem conhece bem o recinto: a 15 minutos do início parece que vai estar vazio, quando o jogo começa está cheio), Bruno Fernandes aproveitou a entrada das equipas para cumprimentar de forma individual os vários portugueses no Wolverhampton, em particular Rui Patrício (com quem trocou o abraço mais longo) e Daniel Podence. Arranque do jogo, sonho cumprido pelo médio de jogar na Premier League, 20 minutos de aquecimento e a vontade de agarrar a equipa a partir do corredor central. Tanto que se tornou no melhor do Manchester United, com três remates (um para defesa apertada de Patrício), cinco solicitações para a área, 46 passes, 58 toques na bola e… algumas correções a companheiros.

O segundo tempo manteve essa tendência, com o United a ter os primeiros três remates enquadrados com a baliza a saírem dos pés do médio português, que viu amarelo por falta sobre Jiménez. No entanto, esse pormenor parecido até com aquilo que era uma regra sem exceção no último ano e meio em Alvalade não conseguiu apagar uma outra realidade que se viu em Old Trafford: enquanto teve a frescura física para fazer transições, o Wolverhampton de Nuno Espírito Santo foi mais equipa com os pendulares Moutinho e Rúben Neves, o velocista Traoré, o endiabrado Diogo Jota e o imprevisível Raúl Jiménez a fazerem a diferença no que se passava em campo.

Nos últimos 20 minutos, Rui Patrício ainda foi obrigado a três intervenções mais complicadas mas, apesar do empate, todos têm razões para recordar o jogo: Bruno Fernandes, sempre muito apoiado (em algumas alturas com passes mais verticais ou remates foi mesmo ovacionado), justificou pela primeira vez o cântico preparado pelos adeptos da casa que tanto esperam dele; e os portugueses dos Wolves, que estrearam também Podence, mostraram que têm condições para discutirem um lugar em zona europeia até ao fim… ou até um pouco mais. E, com as meias em baixo acusando talvez o desgaste pela intensidade do encontro, terminou a trocar de camisola com Podence entre muitos cumprimentos e elogios das bancadas para os primeiros 90 minutos em Old Trafford.