Carl Lewis foi um dos melhores atletas de sempre na história do desporto, com nove medalhas de ouro em Jogos Olímpicos e oito em Campeonatos do Mundo. Mais até do que isso, foi um dos mais completos, com a edição de 1984 em Los Angeles a ser exemplo paradigmático de alguém talhado para se destacar em tudo onde entrasse – foi aí que ganhou os 100 metros, os 200 metros, a estafeta de 4x100m e também o salto em comprimento, com poucos dias de intervalo entre provas. A seguir ao brilharete, o americano de 23 anos nascido no Alabama manteve-se no atletismo. Mas podia ter ido parar ao basquetebol. Ou podia ter ido parar mesmo ao futebol americano.

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Lewis é apenas mais uma estrela ligada à modalidade mais querida dos Estados Unidos. Tão ligada que foi mesmo escolhido pelos Dallas Cowboys no draft de 1984 como 334.ª escolha na 12.ª e última ronda. Mais curioso ainda: o atleta nunca tinha praticado a modalidade, nem no secundário nem na universidade. No entanto, havia a secreta esperança de poder juntar a velocidade do então homem mais rápido do mundo a um golpe comercial com grande peso na altura, seguindo as pisadas de Bob Hayes que também fez a transição das pistas para o campo. Nunca aconteceu. Nem para a NFL nem para a NBA, onde ficou como 208.ª opção do draft pelos Chicago Bulls no ano em que a equipa assegurou um tal de… Michael Jordan. Em ambos os casos, ficou a (pitoresca) ideia.

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Carl Lewis é mais um nome ligado ao futebol americano. Neste caso, nunca chegou realmente a jogar. Mas existem muitos outros exemplos de quem arriscou uma carreira na universidade um pouco à espera do que poderia mais tarde acontecer quando chegasse a altura do draft. Alguns exemplos? Tommy Lee Jones, Dwayne Johnson, Burt Reynolds, Matthew Fox, Mark Harmon ou Carl Weathers, entre outros. Num país tão grande e sendo a modalidade mais seguida, não poderia deixar de ser assim. No entanto, há uma outra curiosidade até maior do que as ligações de atletas de outros desportos ou artistas – a de políticos e personalidades que chegaram à presidência.

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Gerald Ford, ainda hoje o único a ocupar a posição de vice e presidente dos Estados Unidos (anos 70), é talvez a carreira adiada mais marcante entre esse grupo: grande figura da equipa dos Grand Rapids South durante o secundário, vencedor de vários títulos na altura, acabaria por recusar propostas dos Detroit Lions e dos Green Bay Packers em 1935 quando estava a estudar Economia na Universidade de Michigan para se candidatar ao curso de Direito na Universidade de Yale, onde era ao mesmo tempo treinador de boxe e adjunto no futebol americano. Ford ficou de tal forma reconhecido pelas capacidades e pela carreira na modalidade que, num discurso mais aceso do opositor Lyndon B. Johnson, ouviu dizer que “o seu problema era ter jogado tanto sem capacete”. Richard Nixon, presidente entre Johnson e Ford, jogou em Whittier… mas consta que fazia pouco mais que número.

John F. Kennedy, tal como muitos outros familiares, também passou pelo futebol americano… mas sem treinar nem jogar muito em Harvard, devido aos constantes problemas de saúde que o foram afetando ao longo da vida (apesar de tentar esconder sempre que possível). Ainda assim, ia conseguindo participar em eventos da modalidade, deixando uma frase que se tornou simbólica em termos nacionais: “Não queremos que os nossos filhos sejam uma geração de espetadores mas sim que participem no desporto e tenham uma vida vigorosa”. Dwight D. Eisenhower, o seu antecessor na presidência, jogou na equipa militar em posições diferentes, ficando sobretudo conhecido por ter um dia feito uma placagem a Jim Thorpe, um ex-campeão olímpico nos Jogos de 1912 que se tornaria mais tarde uma das primeiras grandes estrelas do futebol americano.

A ligação de Ronald Reagan é uma das mais curiosas: não sendo propriamente uma grande estrelas, chegou a jogar no Eureka College mas tornou-se sobretudo famoso por ter interpretado o papel de George Gipp, uma grande estrela da Universidade de Notre Dames que morreu com apenas 25 anos, no filme “Knute Rockne, All American”. Mais curioso ainda só mesmo Theodore Roosevelt. E não, Roosevelt não chegou a jogar. Mas teve um papel importante naquilo que é hoje o jogo, ao ter reunido membros de Harvard, Yale e Princeton na Casa Branca ameaçando terminar o futebol americano universitário se não houvesse alterações que tornassem o jogo mais interessante – e assim nasceu a possibilidade que não existia de fazer passes para a frente.

Há mais ligações. Harry Truman ou Barack Obama foram dos líderes americanos que assistiram a mais encontros, George H.W. Bush foi o primeiro a atirar a moeda ao ar num jogo do Super Bowl e o seu filho, George W. Bush, desmaiou e terá perdido a consciência durante o Super Bowl de 2002 entre os Miami Dolphins e os Baltimore Ravens… engasgado com um pretzel na Casa Branca. Depois, há Donald Trump. Que tem uma dupla ligação: quando estava na Academia Militar de Nova Iorque, jogou durante um ano e chegou a ser descrito por antigos companheiros como alguém que se quisesse tinha o físico e a força mental para ir longe; mais tarde, tornou-se proprietário dos New Jersey Generals, da United States Football League, sendo ainda hoje acusado de contribuir e muito para o fim desse Campeonato que concorria com a NFL. Já como presidente, ficaram célebres as trocas de palavras com vários jogadores e responsáveis, que começaram com o ajoelhar perante o hino.