Várias entidades uniram-se para fundar a Aliança para o Cancro do Pulmão, um projeto que é apresentado esta terça-feira em Lisboa e que visa “fazer frente” ao tumor que não é o mais prevalente em Portugal, mas o que mais mata.

Lançada no Dia Internacional da Luta Contra o Cancro, esta aliança foi inspirada no projeto internacional The Lung Ambition Alliance e reúne várias entidades, entre as quais a Liga Portuguesa Contra o Cancro, a Pulmonale, o Grupo de Estudos para o Cancro do Pulmão, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia e a AstraZeneca.

Em declarações à agência Lusa, o oncologista António Araújo explicou que a ideia partiu do que se observou noutros países em que “várias entidades e vários profissionais se uniram no sentido de combater uma doença que é altamente prevalente na sociedade, o cancro do pulmão, e que tem um comportamento biológico muito agressivo e, portanto, tem uma taxa de mortalidade muito elevada”. A Aliança para o Cancro do Pulmão “replica experiências que já foram feitas noutros países, nomeadamente nos Estados Unidos e Canadá, e replica uma experiência que foi feita com um organismo internacional, a Associação Internacional de Estudo do Cancro”, adiantou o diretor do serviço de oncologia médica do Centro Hospitalar Universitário do Porto.

Segundo António Araújo, todas as personalidades e entidades se comprometeram em tentar “aumentar o conhecimento público acerca desta doença, tentar combater os fatores de risco que levam ao desenvolvimento do cancro do pulmão, nomeadamente o tabagismo, e tentar unir esforços no sentido de diminuir a mortalidade que esta doença causa”.

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“Nós que há tantos anos trabalhamos nesta área temos percebido que não é o médico individualmente ou uma organização que ‘per si’ vai conseguir diminuir globalmente, a nível nacional, a incidência do cancro do pulmão e a taxa de mortalidade. Só unindo os esforços de todos é que conseguiremos atingir este objetivo e é isso que se pretende com a Aliança”, defendeu António Araújo, uma das personalidades que integra a Aliança.

Durante a apresentação do projeto na Fundação Oriente, em Lisboa, serão ainda divulgados os resultados de um inquérito à população sobre perceções face ao cancro do pulmão, uma doença que vitimou 4.600 portugueses em 2018.

O estudo revela que 34% dos inquiridos admite ter um conhecimento muito limitado sobre o cancro do pulmão, 39% um conhecimento intermédio e 19,5% diz ter algum conhecimento. Apenas 8,8% admite ter um “elevado conhecimento” sobre esta doença.

António Araújo sublinhou que um dos objetivos da Aliança passa por contribuir para “uma maior literacia da população em relação à doença”, sendo que o estudo demonstra que “há espaço e um caminho a ser feito nesse sentido”. “Este estudo vem demonstrar e mostrar que continua a haver um grande grau de iliteracia da população portuguesa no que respeita à saúde em geral e ao cancro do pulmão em particular”, vincou.

Metade da população tem pouco ou nenhum conhecimento sobre tratamentos para cancro do pulmão

Metade dos inquiridos num estudo sobre o cancro do pulmão reconhece ter “pouco ou nenhum conhecimento” sobre os diferentes tipos de tratamentos existentes para este tumor, que matou mais de 4.600 portugueses em 2018.

Divulgado no Dia Internacional da Luta Contra o Cancro, o estudo “A perceção dos portugueses sobre cancro do pulmão” teve como objetivo aferir perceções, comportamentos e atitudes da população portuguesa em diferentes áreas relativas a este tumor. O inquérito conclui que “quanto menor o grau de instrução dos inquiridos, maior o seu desconhecimento sobre as opções terapêuticas” para o cancro do pulmão.

De forma espontânea, 12% dos inquiridos com graus de instrução mais elevados referiu a Imunoterapia”, enquanto 68,5% apontaram a quimioterapia, 44,8% a radioterapia e 18,2% a cirurgia, refere o estudo que é divulgado esta terça-feira na apresentação da Aliança para o Cancro do Pulmão, um novo projeto que reúne várias entidades.

Uma das conclusões do estudo aponta que 92% dos inquiridos diz conhecer alguém que teve cancro e perto de 30% conhece ou já conheceu alguém com cancro do pulmão.

“O cancro da mama é, de forma destacada, o tipo de tumor que registou maior ‘proximidade’ entre os inquiridos (51,4%), seguido do pulmão (28,4%), do estômago (17,7%), do colorretal (15,4%), do pâncreas 11,2%, da próstata 11% e do colo do útero.

O inquérito, elaborado pela Técnica Spirituc Investigação Aplicada, indica também que 43% dos inquiridos considera o cancro do pulmão bastante mais grave do que a generalidade dos outros tumores. Os resultados indiciam que a “proximidade” com este tumor tem um impacto direto na perceção da sua gravidade e que quanto maior o grau de conhecimento dos inquiridos sobre esta doença, maior a gravidade que lhe atribuem comparativamente a outros cancros.

Questionados sobre os comportamentos de risco, 93,7% apontam o tabagismo, 42% fatores ambientais, 15,2% hábitos alimentares, 12,5 contexto profissional, 12% fatores genéticos, 8% sedentarismo, 4,7% exposição a produtos tóxicos, 2,5% outras doenças associadas e 1,8% fumar passivamente. Há 1,2% que consideram não existir comportamentos de risco, refere o estudo.

Tendencialmente, quanto maior o nível de instrução dos inquiridos, maior o número de referências que estes fazem aos fatores genéticos e ambientais enquanto fatores de risco para o cancro do Pulmão. Na perceção dos inquiridos 68% das pessoas com cancro do pulmão, são ou foram fumadoras.

Ainda que as diferenças não sejam muito expressivas, o estudo realça que “a população residente em ambiente urbano (70%) tende a associar mais o tabagismo ao cancro do pulmão do que a população residente em meio rural (64%).

Relativamente aos principais sintomas da doença, 62,3% referem a falta de ar, 46,8% tosse persistente, 35,8% cansaço, 24,7% tosse com sangue, 16,5% dor torácica, 15,3% perda de peso, 14,8% dores nas costas, 9,8% falta de apetite. Há 7,7% que não sabe identificar qualquer sintoma do tumor maligno.

A idade dos inquiridos está diretamente relacionada com o facto de nunca terem ido a uma consulta de Pneumologia. Ainda assim, quase 40% dos inquiridos com mais de 74 anos nunca foi a uma consulta da especialidade. “Se no caso dos homens, cerca de metade dos inquiridos afirmou já ter tido oportunidade ou necessidade de ser consultado por um pneumologista, no caso das mulheres, quase 70 reconheceu nunca ter ido a uma consulta desta especialidade”, sublinha.

Um terço dos inquiridos acredita que, nos próximos 5 anos, o número de doentes com cancro do pulmão curados aumentará significativamente.

O inquérito decorreu entre os passados dias 14 e 20 de janeiro e foi realizado a uma amostra representativa da população portuguesa com mais de 18 anos, com telefone fixo ou móvel, constituída por 600 questionários.