Não foi um discurso nem uma conferência de imprensa. Um dia depois de ter sido absolvido das acusações no processo de impeachment, Donald Trump chamou os seus aliados republicanos à Casa Branca para uma celebração transmitida em direto na televisão.

Sem teleponto nem guião, Trump não poupou nos ataques aos democratas que o acusaram — chegando mesmo ao ponto do ataque pessoal, chamando “pessoas horríveis” aos congressistas Adam Schiff (líder da acusação) e Nancy Pelosi (presidente da Câmara dos Representantes) — nem nas lamentações pela “caça às bruxas” de que diz ser alvo pela oposição. Mas exibiu com orgulho a manchete desta quinta-feira do Washington Post onde se lê “Trump absolvido” e resumiu o sentimento do dia quando passou o jornal à primeira-dama, Melania Trump: “Podes levar isto para casa, querida, talvez o emolduremos”.

Num discurso de mais de uma hora, perante uma plateia composta pelos seus aliados mais fiéis, Trump falou da “desgraça” a que diz ter vindo a ser sujeito. “A caça às bruxas começou no dia em que descemos o elevador, eu e a nossa futura primeira-dama. E nunca parou. Temos passado por isto há mais de três anos“, afirmou Trump. “Isto nunca devia acontecer a mais nenhum Presidente, nunca mais.”

“Passámos pelo inferno injustamente. Não fizemos nada de mal. Eu não fiz nada de mal! Eu já fiz coisas más na minha vida. Não de propósito, mas já fiz coisas más na minha vida. Mas este é o resultado final”, afirmou Trump, no momento em que exibiu a manchete do Washington Post. “É a única manchete positiva que já tive no Washington Post.”

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Trump dedicou-se depois a descrever a “situação muito injusta” que diz estar a marcar a sua Presidência. “Primeiro foi Rússia, Rússia, Rússia. Tudo treta. Depois, o relatório Mueller”, recordou Trump, referindo-se aos inquéritos a que a sua administração foi submetida no âmbito da interferência russa nas eleições de 2016. “Fomos tratados de forma inacreditavelmente injusta.”

“Foi uma desgraça. Se eu não tivesse despedido James Comey, que era um desastre, é possível que eu nem estivesse aqui. Apanhámo-lo em flagrante. Más pessoas. Se isto tivesse acontecido ao Presidente Obama, há muita gente que estaria na prisão há muitos anos”, disse Trump, antes de começar uma longa ronda de agradecimentos a todos os seus aliados depois da vitória no impeachment — “uma das maiores vitórias de todos os tempos”.

Quero agradecer à minha equipa jurídica. Levantem-se. Desde o início, eles disseram: ‘Não tem nada por que se preocupar, os factos estão do seu lado’. Eu disse: ‘Vocês não percebem, isso não interessa’. E foi verdade. Eles inventaram factos. Um político corrupto chamado Adam Schiff inventou as minhas declarações ao Presidente ucraniano“, afirmou Trump, referindo-se aos congressistas democratas responsáveis pela acusação no julgamento de impeachment.

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O Presidente dos EUA acusou depois os democratas de serem pessoas “horríveis e perversas”, por defenderem “políticas péssimas”, como a abertura das fronteiras, a proteção dos imigrantes e a subida dos impostos. “Adam Schiff é uma pessoa perversa e horrível. Nancy Pelosi é uma pessoa horrível”, disse Trump. “Pegaram numa chamada telefónica, que foi uma ótima chamada telefónica, e fazem-me um impeachment. Felizmente há uma palavra bela: absolvição total. Nunca achei que uma palavra pudesse ser tão bonita.”

Trump referia-se às acusações de abuso de poder e de obstrução de Congresso pelas quais foi julgado no Senado, relativas à pressão que o Presidente dos EUA teria feito sobre o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, no sentido de investigar suspeitas de corrupção à volta dos negócios da família de Joe Biden, ex-vice-presidente dos EUA e seu rival político, naquele país.

O Presidente dos EUA agradeceu depois a Mitch McConnell, o líder da bancada republicana no Senado, que foi o principal responsável por garantir os votos que permitiram absolver Donald Trump. “O senhor fez um trabalho fantástico”, disse Trump. “Este tipo é incrível. Agradeço-lhe, Mitch. E também já nos deu 191 juízes federais e dois juízes do Supremo Tribunal. Grande tipo.

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O único republicano que não levou um elogio de Trump foi, como seria de esperar, o senador do Utah Mitt Romney, o único senador do Partido Republicano que votou a favor da condenação do Presidente. “Há quem use a religião como muleta sem nunca a terem usado antes. Nunca o ouvi usá-la antes. Mas sabem, é um candidato presidencial falhado, podem acontecer muitas coisas quando se falha tão redondamente”, afirmou Trump. Romney justificou na quarta-feira o seu voto contra Trump com o compromisso assumido “perante Deus”. O Presidente dos EUA foi mais longe quando elogiou outro senador do Utah, Mike Lee, e lhe pediu para dizer aos residentes do estado: “Lamento pelo Mitt Romney“.