“Nos últimos tempos, fui alvo de uma campanha negra, sistemática, de ataque ao carácter e à honra, como há muito não se via em Portugal”, começa por escrever Abel Matos Santos, num texto intitulado “A minha defesa”, que o próprio enviou ao Observador depois de ter abandonado a comissão executiva do CDS-PP, esta semana, quando foram reveladas publicações suas na rede social Facebook, entre 2012 e 2015, elogiosas a Salazar e à PIDE e a qualificar o cônsul de Portugal em Bordéus, Aristides Sousa Mendes, de “agiota dos judeus”. No texto, o fundador da Tendência Esperança em Movimento reconhece que hoje não voltaria a utilizar o Facebook como um “espaço de discussão livre”, mas frisa que o móbil da campanha está no “mau perder dos derrotados no Congresso”. Já sobre as posições que publicou sobre Salazar e a PIDE, o psicólogo garante ser um “profundo humanista”, “defensor acérrimo da liberdade” que rejeita “regimes ditatoriais” de qualquer natureza.

Fala de “filtragem policial” à sua página no Facebook, em busca de publicações que pudessem causar escândalo, e justifica o comentário “agiota de judeus”, cuja expressão garante não ser sua, como a resposta a uma notícia que dava conta de uma acusação feita pelo embaixador de Israel a Portugal, em 2012, com o título: “Embaixador de Israel diz que Portugal tem uma “nódoa” que os judeus não esquecem”.  No texto de defesa, rejeita ser anti-semita, “um insulto miserável contra quem, em nenhum momento da sua vida, teve posições dessas, nem alguma vez se confundiu com o nazismo, que abomino” e diz que “agiota de judeus” é uma expressão de “investigadores que estudaram o caso disciplinar e publicaram sobre ele”. Apesar de tudo, admite que a citação “foi infeliz“.

Abel Matos Santos entrou na corrida à sucessão da ex-presidente do partido, Assunção Cristas, mas não chegou a levar a sua moção a votos, tendo desistido no Congresso centrista a favor do atual presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos. E com essa decisão, diz, criou um problema: “Há quem não aceite perder em jogo limpo. E responde com jogo sujo”, lamenta Matos Santos, que denuncia que “ataques” a partir do interior do CDS: “Sei bem que os ataques me foram movidos por alguns daqueles que perderam o Congresso do CDS e se prepararam para isto, para praticarem a baixa política, o que revela exatamente o que são e o que querem. Tudo isto já estava colecionado e armazenado nos dias do Congresso. As munições estavam guardadas para depois e foram servidas em mão, por detrás do biombo, a jornais escolhidos”.

Em comunicado divulgado esta semana, a Comissão Executiva dos democratas-cristãos explicitou que no partido “não há espaço para o racismo, para a xenofobia, para o antissemitismo, para a intolerância ou para qualquer saudosismo de regimes que não assentem na liberdade”, numa reação à polémica que os posts de Matos Santos provocaram. O dirigente demissionário diz não guarda rancor à nova liderança e explica que saiu porque quis “preservar o partido”: “Espero que a liderança se mantenha firme no caminho que anunciou e que levou muitos militantes a apoiá-la e a vencer claramente o Congresso”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR