Frederico Varandas, presidente do Sporting, foi-se resguardando com o passar das semanas para resolver aquelas que eram para si as grande prioridades conjunturais dos leões: a reestruturação financeira e o mercado de inverno (com a saída de Bruno Fernandes no topo das pastas por decidir). Passados esses dois pontos, ainda que no plano financeiro não esteja ainda tudo devidamente solucionado, deu uma grande entrevista ao jornal Record. E, em condições normais, ficaria por aí. No entanto, a agressão a Miguel Afonso, vogal da Direção do clube, este domingo acabou por inverter essa ideia e o líder verde e branco foi à Jornal da Noite da TVI.

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“É injusto meter toda a gente no mesmo saco. O problema desta Direção não é com as claques, é com as direções destas claques. Fiz parte de uma claque, conheço pessoas que fazem parte de claques e não têm este tipo de comportamentos. No caso da Juventude Leonina, há senhores há mais de dez anos que se julgam acima dos estatutos, dos presidentes e dos mandatos. Esse tem sido um dos sérios problemas do Sporting. Eu não decidi ter esta guerra mas temos de defender como órgãos sociais o clube mas a Direção não consegue fazer isto sozinho. Enquanto a maioria do Sporting for silenciosa vai ser muito mais difícil. Faço este apelo aos sócios do Sporting, eles sim os donos do clube. A minha missão é que o Sporting continue dos sócios e não sequestrado por claques. Não decidi ter esta guerra com as claques. No momento mais importante, como se viu, a maioria silenciosa dos 70% aparece como apareceu”, começou por dizer o presidente do Sporting.

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“Chegámos ao Sporting e tinha havido o ataque a Alcochete, um ataque onde curiosamente a Juventude Leonina fez um comunicado no próprio dia a demarcar-se de Alcochete. Agora voltaram a fazer… Já vi as imagens. Não foi um incidente menor, foi um incidente premeditado. Dois elementos que se conseguem identificar muito bem que são da Juventude Leonina, cujas caras se conseguem identificar, que agrediram ao pontapé um segurança ARD, um elemento do Conselho Diretivo, três vezes, agrediram também Filipe Osório de Castro, neste caso com menos gravidade. Vão ser expulsos? Se forem sócios serão. Depois a filha cuspida três vezes na cara. Não vamos pactuar com isto, o Sporting não pode pactuar com isto. As imagens vão ser dadas às autoridades e se esses elementos que se podem identificar forem sócios serão expulsos”, assegurou a propósito daquilo que se passou.

O ataque de Alcochete nem há dois anos foi, houve uma invasão à garagem, o arremesso de pedras no Pavilhão no final de um jogo, agora este ataque… Pergunto: o que é a Juventude Leonina? Apresentem-se. Quem é a direção da Juventude Leonina? O presidente está detido, quem são os outros? Os vices, os vogais. Vivem de quê? Apresentem-se aos sócios, apresentem-se ao país. Toda a gente sabe quem são Salgado Zenha, Frederico Varandas, Miguel Afonso, toda a gente sabe. E estes senhores, quem são?”.

“Dissemos sempre que dávamos apoio para apoiarem. Propusemos uma Gamebox a um preço de 120 euros a cada elemento da claque mas que fosse vendido nas bilheteiras, para ser o mais transparente possível, para termos certeza que seriam comprados por aquele valor. O que queriam era bilhetes de época sem nome para revendê-los mais tarde. À terceira jornada fui insultado e ameaçado quando o Sporting estava em primeiro, em Portimão. O que mudou foi que cerca de 300 a 400 mil euros que eram dados acabaram. Acabámos com o negócio deles. Ontem, em Alvalade, o golo do Portimonense foi festejado pela claque do Sporting quando começaram a ganhar. Temos uma claque que deseja que o Sporting perca. Jogar em casa nestas condições?”, acusou Varandas.

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“O Sporting tem de ser um grande clube para sobreviver a tudo isto em dois anos. O Sporting vai sobreviver e ser mais forte mas é preciso rasgar de vez com algumas coisas do passado. Nunca mais uma direção de uma claque pode fazer cair treinadores. Os dirigentes foram ameaçados de que se não se demitissem seriam espancados. Se eu já fui ameaçado? ‘N’ vezes, desde 24 de maio de 2018. Mas ao contrário de outras direções, que não tiveram mais paciência e demitiram, não vou abandonar o Sporting e deixá-lo a esta gente”, prosseguiu, falando então sobre a capacidade que o clube teria também no plano financeiro para aguentar a atual turbulência, antes de falar também da Assembleia Geral destitutiva que ligou também às claques no arranque da resposta.

“Falando como sócio do Sporting, houve uma Direção que foi destituída em toda a história do Sporting em 114 anos. Uma direção que teve agressões a jogadores, staff, criou órgãos sociais, congelou contas… Vou esquecer como esta direção pegou no clube, vou esquecer como teve de pagar 40 milhões ou não estaria nesta altura nas provas europeias. Se uma direção, seja qual for, do Manel ou do Joaquim, cai por resultados desportivos, passados 16 meses, o próximo presidente não dura sequer um ano. Neste Sporting, há transparência e seriedade e separação de poderes, não vou dizer nada sobre a Assembleia Geral porque há órgãos competentes. Sporting alguma vez foi unido? Não. Existe união com pessoas que fizeram o que fizeram ontem? Existe união de quem grita ‘Alcochete Sempre’? Existe união com quem atira tochas a atletas? Não. União existe para quem tem opiniões divergentes. Agora união com isto? Não, isso não”, destacou antes de falar num âmbito mais geral.

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“A fuga ao fisco, comunicados de baixo nível, agressões… Acho tudo uma vergonha. Lutamos pelo Sporting sem abdicar dos nossos princípios e queríamos que o Sporting mudasse em relação ao seu passado recente. Acredito que é possível ter gente como nós no futebol mas no meio disto acabo por ser o ET. Se calhar sou muito mais incómodo que presidentes que fazem isso, que são reféns das claques e que alimentam as claques. Existe algo que me dá muita força, que é o desprendimento ao lugar. Não estou agarrado ao lugar e isso dá-me força. A minha missão é entregar o clube melhor. Se admito não terminar voluntariamente? Foi eleito pela maioria dos sócios. Mandato tem duração de quatro anos. Vamos levá-lo até ao fim. Vamos entregar o clube muito melhor do que estava. Esse é o nosso objetivo. Sobre o ruído e ameaças físicas, não nos vamos demitir”, concluiu.