O pack salarial acordado entre a Renault e Luca de Meo traduz o “empenho” com que a Renault procurou um CEO capaz de substituir Carlos Ghosn, afastado após as acusações da Nissan. Depois de ter entregue a liderança primeiro a Thierry Bolloré (também ele deposto por pressão da Nissan) e depois a Clotilde Delbos, a Renault decidiu avançar para um CEO definitivo, capaz de recuperar a liderança indiscutível como a que Ghosn usufruía e que mantinha a Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi coesa.

A Renault revelou que de Meo irá auferir cerca de 5,8 milhões de euros por ano, um valor que não difere muito do que era pago a Ghosn pela marca francesa, mas que representa mais 57% face ao que Bolloré levou para casa em 2019. Em 2020, tendo presente que só começará a trabalhar em Julho, o italiano irá receber um rendimento fixo de 1,3 milhões de euros e uma variável que pode ascender a 150% do salário fixo, a que se juntam 75.000 acções da Renault.

Comparativamente, Thierry Bolloré recebia 900.000€, a que podia juntar uma remuneração variável de 125% e até 50.000 acções, dependendo, como agora, dos objectivos atingidos. Mas se Luca de Meo começou a sua carreira na Renault, tendo depois passado pela Toyota e Fiat Chrysler Automobiles, onde era o número dois de Sergio Marchionne, é bem provável que tenha pela frente um dos períodos mais delicados do seu trajecto na indústria automóvel.

O gestor italiano não só tem de gerir bem a empresa – similar em tudo à função que manteve na Seat –, como tem ainda de conseguir controlar os japoneses da Nissan e Mitsubishi, empresas que a Renault controla (a primeira directamente e a segunda indirectamente), sem ferir susceptibilidades. Ou, então, encontrar uma forma de “dobrar” os japoneses, o que pode não ser difícil face à situação (menos boa) em que ambas as empresas se encontram. E tudo isto apesar de ter o Governo francês como accionista minoritário (15%), o que não o impede de se imiscuir em algumas das decisões da empresa.

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