Polop de la Marina, na província de Alicante, é uma pequena cidade espanhola, de pouco mais do que 4 mil habitantes, a apenas 13 quilómetros da estância turística de Benidorm. Era lá, numa discoteca barra bar de alterne (“puticlub” é a expressão utilizada pelos media espanhóis), que o português trabalhava em 2007, como porteiro. E foi lá, no Mesalina, contou em 2009, dois anos depois do crime, à polícia e repetiu agora no final de janeiro em tribunal, protegido por dois biombos e sob anonimato, que lhe ofereceram 35 mil euros para assassinar o então presidente da Câmara de Polop, Alejandro Ponsoda. Apesar de não ter aceitado o negócio, o português, ex-mercenário, hoje com 41 anos, identificou não só os mandantes como os alegados autores materiais do crime, que terão dito que sim depois de ele ter dito não.

Foi há já mais de 12 anos que Ponsoda, autarca de Polop filiado no Partido Popular, a cumprir o terceiro mandato consecutivo e a gozar de uma popularidade sem precedentes entre os eleitores (teve sempre maioria absoluta), foi assassinado. Eram 21h da sexta-feira, 19 de outubro de 2007, quando foi surpreendido por dois homens na rampa da garagem da casa onde morava, ainda dentro do Renault Laguna que tentava estacionar. Dispararam três tiros, um deles atravessou o vidro e alojou-se-lhe na cabeça. Oito dias depois, Ponsoda estaria morto; tinha 55 anos menos uns dias e duas filhas, Fátima e María, ainda menor.

Em tribunal, em julgamento pelo crime que abalou a cidade, estão sete homens, todos apontados a dedo pelo português, a quem poucos conhecem o nome e que é a principal testemunha da acusação: Juan Cano, à data do homicídio vereador do Urbanismo de Polop e depois disso sucessor de Ponsoda na presidência da Câmara; Salvador García, empresário local seu amigo; Pedro Jesús Hermosilla, proprietário do Mesalina; Ariel Alberto Gato, gerente do bar de alterne; Raúl Montero, traficante do droga; e dois alegados assassinos a soldo de nacionalidade checa, Robert Frank e Radim Rakowski. Detalhe: estes últimos três terão sido recrutados por indicação do próprio português que, “por amizade”, explicou em tribunal, não aceitou o trabalho mas tratou de dar referências de quem pudesse fazê-lo.

De acordo com o português, Juan Cano, também filiado no PP, conhecido como El Diretor, frequentador assíduo das zonas VIP dos prostíbulos da zona, a quem terá inclusivamente uma vez fornecido cinco gramas de cocaína, terá sido o mandante do crime.

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Em tribunal, escondido dos reús e dos jurados, o português contou como lhe ofereceram 35 mil euros — metade na mão e o resto depois, em 15 contas diferentes, e em prestações de 999 euros por mês, “para que não soassem os alarmes dos bancos”— para assassinar o presidente da Câmara. Apesar de ter indicado o nome dos dois amigos checos que, como ele, “viviam dessas coisas”, fez questão de declarar desconhecer se “no final tinham sido Robert e Radim” a cometer o crime.

Revelou ainda como um advogado tentou comprar-lhe entretanto o silêncio e como, quando também recusou, começaram as ameaças: “Os rapazes estão zangados, tem cuidado com o que dizes se não ainda te acontece alguma coisa”.

Questionado pela juíza Cristina Costa sobre se teria retirado algum proveito da delação do crime, em portunhol, a principal testemunha da acusação respondeu: “O que eu ganhei foi viver mal e a ameaça de morte que tenho sobre a minha vida. A única coisa boa foi ter saído daquele lixo de vida”. Depois explicou como, desde 2009, juntamente com a família, mudou oito vezes de casa, de cidade e de país, alternando entre Espanha e Portugal, sempre com a pretensa proteção da Guardia Civil.

Já Juan Cano, que tal como os demais acusados pode enfrentar uma pena de prisão entre os 25 e os 27 anos, garantiu perante os jurados que não cometeu — nem encomendou — qualquer tipo de crime. Mais: jurou que tinha uma ótima relação com Alejandro Ponsoda e revelou que o autarca estava a pensar abandonar a Câmara. “O Alejandro estava cansado e não queria continuar, e eu limitei-me a pedir-lhe que se demitisse apenas alguns meses antes do fim da legislatura para eu perceber se gostava ou não de ser presidente.”

Esta versão não foi corroborada pelas filhas de Ponsoda, que em tribunal acusaram o sucessor do pai de seu um “eterno vice” sedento de poder e garantiram que, logo no dia do funeral, se aperceberam da sua ambição e do ódio que nutria pelo pai.