A intervenção da ex-presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, não passou despercebida no seio socialista. No espaço de intervenção na TVI24, a antiga ministra insinuou que a eutanásia teria sido a moeda de troca do PS para a abstenção do Bloco de Esquerda e Ana Catarina Mendes responde que o assunto “não é suscetível de nenhum jogo”.

Quando Manuela Ferreira Leite diz que há negociata entre o PS e o Bloco de Esquerda para aprovar o Orçamento em troca dos votos na eutanásia, isso é brincar com o sofrimento das pessoas”, disse a líder parlamentar dos socialistas numa declaração aos jornalistas nos Passos Perdidos da Assembleia da República.

Manuela Ferreira Leite. Eutanásia foi moeda de troca para conseguir aprovar o Orçamento do Estado

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Já era conhecida a posição do PS sobre a oposição à realização de um referendo à morte medicamente assistida, mas Ana Catarina Mendes fez questão de o sublinhar: “O PS é totalmente contra o referendo. Em 2018 [quando a eutanásia foi discutida e chumbada no Parlamento] ninguém reclamava um referendo, esta matéria não é referendável”.

A líder parlamentar dos socialistas recusou ainda alguns dos argumentos que têm sido usados para tentar contrariar a despenalização da morte medicamente assistida — que parece já uma certeza, atendendo à atual configuração parlamentar. Recordou a moção levada a congresso dos socialistas em 2016, o “debate elucidativo no Parlamento em 2018” e as discussões em fóruns “por todo o país nos últimos quatro ou cinco anos”.

Eutanásia pode mesmo ser aprovada. O que querem os partidos?

Sobre as críticas à rede de cuidados paliativos no país, Ana Catarina Mendes responde que “acaba de ser aprovado o Orçamento de Estado com o maior aumento de sempre no SNS”. Segundo a líder parlamentar, isso “implica também os cuidados paliativos e a aposta nos cuidados paliativos.

Confiantes na aprovação do diploma, os socialistas “não excluem” que alguns deputados na bancada “estejam contra” a despenalização. Ana Catarina Mendes argumentou ainda que é necessário alterar o Código Penal português para que o “médico que ajuda quem quer acabar com o sofrimento não seja perseguido”.

Sobre o debate, a líder parlamentar pede ainda para que seja “sereno e esclarecedor” já que a matéria em discussão toca a “dignidade de cada um quando confrontado com um sofrimento que não dá dignidade”.