Primeiro foi o presidente da Assembleia Constituinte da Venezuela e aliado de Nicolás Maduro, Diosdado Cabello, a fazer as acusações: “Os portugueses pensam que nós somos idiotas”. Agora é o Governo a que Juan Guaidó se opõe, que diz que a transportadora aérea portuguesa TAP “violou padrões internacionais” para permitir ao tio do opositor de Maduro, Juan José Márquez — que foi entretanto detido —, viajar com explosivos para Caracas.

O Governo português nega e fala em “tentativas de intimidação”, a TAP não comenta. Marcelo Rebelo de Sousa, de visita à Índia, excusou-se a tecer comentários, dizendo apenas que “é conhecida a posição portuguesa” e que Portugal tem defendido a “realização de eleições presidenciais que legitimem o processo pacífico e evolução futura” da Venezuela.

O início das acusações: Diosdado Cabello diz que “TAP não é nenhuma santa”

O presidente da Assembleia Constituinte da Venezuela, Diosdado Cabello, aliado do presidente Nicolás Maduro, acusou a TAP de ser conivente com uma tentativa de entrada de explosivos em território venezuelano, de acordo com imagens da televisão venezuelana divulgadas pela RTP.

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Juan Guaidó, autoproclamado presidente do país, tinha passado por Lisboa e regressou a Caracas na transportadora portuguesa. À chegada ao aeroporto, as autoridades prenderam Juan José Márquez, o tio do político venezuelano, por alegadamente transportar explosivos e coletes à prova de bala, sendo agora acusado de terrorismo. A oposição venezuelana garante que as provas foram plantadas e que Juan Guaidó foi agredido.

“A companhia aérea, como se chama? TAP? É assim que se chama. Não é nenhuma santa e terão aqui uma averiguação, porque isto foi permitido pela companhia aérea. E eles são muito rígidos lá”, disse Diosdado Cabello. “Os portugueses pensam que nós somos idiotas. Os donos da companhia aérea pensam que somos idiotas. E o seu embaixador foi para lá [ao aeroporto]. E nós temos de nos calar, porque pertencemos ao terceiro mundo, estamos em via de desenvolvimento”, afirmou ainda o presidente da Assembleia Constituinte da Venezuela.

Venezuela. Juan Guaidó foi agredido à chegada a Caracas

Governo da Venezuela acusa TAP de violar “padrões internacionais”. Companhia não comenta

Depois das acusações do presidente da Assembleia Constituinte da Venezuela, Diosdado Cabello, também i Governo venezuelano fez várias acusações à TAP, inclusive imputando à transportadora aérea portuugesa o crime de violação dos “padrões internacionais”, por ter alegadamente permitido o transporte de explosivos e por ter alegadamente ocultado a identidade do líder da oposição, Juan Guaidó, num voo para Caracas.

As autoridades venezuelanas acusam ainda o embaixador português em Caracas, Carlos Sousa Amaro, de interferir nos assuntos internos da Venezuela, ao interceder pelo tio de Juan Guaidó, Juan Marquez, que foi preso na terça-feira, quando aterrou no mesmo voo da TAP, acusado de transportar explosivos.

Segundo o Governo venezuelano, Juan Marquez, que acompanhava o sobrinho Juan Guaidó, transportou “lanternas de bolso táticas” que escondiam “substâncias químicas explosivas no compartimento da bateria”.

Assim, as autoridades venezuelanas consideram que a TAP, nesse voo entre Lisboa e Caracas, violou normas de segurança internacionais, permitindo explosivos, e também ocultou a identidade do autoproclamado Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, na lista de passageiros, embora a segurança aeroportuária não seja da responsabilidade das companhias transportadoras.

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Questionada pela Lusa, a TAP escusou-se a comentar a alegação.

Governo venezuelano: tio de Guaidó tinha pen com “planos de ataque”

Juan Marquez é ainda acusado de ter carregado outros explosivos em cápsulas de perfume e um colete à prova de balas, bem como uma ‘pen’ informática dissimulada nos telecomandos de um veículo, com pretensos “planos de ataque”. Por estas acusações, Marquez foi detido na sede da Direção de Contra-Informações Militares, em Caracas, devendo ser transferido para um tribunal em La Guaira, uma cidade costeira da Venezuela.

As autoridades venezuelanas dizem que o embaixador português em Caracas tentou interceder por Juan Marquez, mas descartou qualquer possibilidade de o libertar. O Governo acusa mesmo Carlos Sousa Amaro de “interferência abusiva em assuntos internos” da Venezuela.

Juan Guaidó, que regressou no voo da TAP com o tio após um périplo político pelos continentes europeu e americano, já denunciou o “desaparecimento” do seu tio materno, responsabilizando o Presidente eleito, Nicolas Maduro, por “tudo o que acontecer com ele”.

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Ministro dos Negócios Estrangeiros: “Gravíssima crise na Venezuela não se resolve com detenções arbitrárias”

O Governo português já reagiu às acusações venezuelanas à TAP e ao embaixador português em Caracas, bem como à detenção de um tio de Juan Guaidó, acusado de transportar explosivos. No Fórum da rádio TSF, o ministro dos Negócios Estrangeiros português começou por dizer que “infelizmente já não é a primeira vez” que acusações do tipo se ouvem e que há “tentativa de intimidação do presidente Guaidó” e garantiu que a acusação “não tem sentido”.

O ministro português lembrou que a posição de Portugal face à situação venezuelana é a mesma “da União Europeia, do Grupo de Contacto Internacional, de muitos outros países”: todos entendem, afirmou, “que a gravíssima crise que se vive na Venezuela não se resolve com intimidações, com detenções arbitrárias”.

O Governo português ordenou uma averiguação para apurar os factos imputados à companhia aérea TAP pelo Governo venezuelano, que a acusa de ter violado “padrões internacionais” de segurança, anunciou esta quinta-feira o gabinete do Ministro da Administração Interna.

“Face às declarações das autoridades venezuelanas referindo uma alegada falha de segurança num voo com origem em Lisboa, o Ministro da Administração Interna determinou à Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI) a realização de uma averiguação para apuramento dos factos”, indicou o Ministério, em comunicado.

Marcelo frisa que Portugal sempre defendeu realizações de eleições presidenciais legítimas

Marcelo Rebelo de Sousa, que está de visita à Índia, excusou-se esta sexta-feira a comentar a situação. Questionado à saída da inauguração de uma instalação da artista portuguesa Joana Vasconcelos, no Museu Nacional de Nova Deli, o Presidente da República disse apenas que era “conhecida a posição portuguesa” em relação à crise na Venezuela.

“Portugal tem tido uma posição de grande serenidade, de grande bom senso e de grande racionalidade [relativamente à Venezuela], defendendo o diálogo, defendendo a prioridade à realização de eleições presidenciais que legitimem o processo pacífico e a evolução futura”, começou por dizer Marcelo. “Portugal é o primeiro, até pela comunidade portuguesa que lá existe, a querer que o processo na Venezuela seja um processo sem ruído, que não coloque do ponto de vista humano, social, da vida do dia a dia, problemas adicionais à comunidade portuguesa.”

Notícia atualizada às 11h18 com as declarações de Marcelo em Nova Deli