A morte do general iraniano Qassem Soleimani pelos EUA foi um “erro de cálculo” que reforçou o apoio no Iraque à retirada das tropas norte-americanas, objetivo há muito pretendido pelo Irão, disse esta sexta-feira o chefe da diplomacia de Teerão.

Os EUA assassinaram Qassem Soleimani em 3 de janeiro num ataque com “drone” [aparelho aéreo não tripulado] quando o comandante da Força Quds, uma unidade especial dos Guardas da Revolução, abandonava o aeroporto de Bagdad, justificando a ação com alegados preparativos de ataques contra norte-americanos.

Em declarações aos media à margem da Conferência de Segurança de Munique, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Javad Zarif, considerou que “os Estados Unidos cometeram um erro de cálculo”, ao assinalar que, desde a sua morte, os iraquianos desceram às ruas em protesto contra a presença de tropas estrangeiras no país.

Logo após o ataque, onde também foi morto Abu Mahdi al-Muhandis, comandante de uma milícia iraquiana, os deputados iraquianos aprovaram uma resolução, não vinculativa, que exige a retirada das tropas dos EUA, e desde então a questão da presença militar norte-americana tem monopolizado a política iraquiana. “O mártir Soleimani é muito mais eficaz que o general Soleimani”, disse Zarif. “Isso é visível devido às manifestações que decorrem no Iraque contra a presença dos EUA”, salientou.

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Zarif deve reunir-se com o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, à margem da conferência, para abordar os atuais esforços europeus destinados a preservar o acordo nuclear com o Irão. O acordo prevê incentivos económicos para o Irão em troca de restrições ao seu programa nuclear, num esforço para impedir o país possua uma bomba nuclear, intenção que o Irão tem negado com insistência.

A economia iraniana sofreu um novo e rude golpe após maio de 2018, quando o Presidente dos EUA, Donald Trump, decidiu abandonar unilateralmente o acordo nuclear e reimpor drásticas sanções.

Num esforço para pressionar os restantes signatários do acordo — Alemanha, França, Reino Unido, Rússia e China — a fornecerem incentivos para contornar as sanções norte-americanas, o Irão tem vindo a desrespeitar progressivamente as restrições ao seu programa nuclear.

Os EUA têm por sua vez pressionado os restantes signatários a romperem com o acordo, mas Maas disse no fórum de Munique que a Alemanha rejeita as táticas dos EUA de “máxima pressão” sobre o Irão. “Estamos firmemente comprometidos com o nosso rumo no Médio Oriente, que consiste numa redução da escalada em vez de uma máxima pressão”, disse.

Zarif reiterou a posição iraniana, pela qual todas as decisões sobre o reinício do seu programa nuclear são reversíveis “caso a Europa adote decisões significativas”.