Uma conferência internacional sobre igualdade de género realiza-se este fim de semana em Lisboa, graças ao trabalho de um grupo que nasceu da iniciativa de uma jovem de 19 anos chocada com o aumento de mortes por violência doméstica.

As notícias sobre os casos de mulheres mortas por violência doméstica deixaram Dussu Djabula em choque. A aluna da Universidade Nova de Lisboa contou à Lusa que sentiu que tinha de fazer algo.

O projeto começou no início de 2019 quando ouvi as notícias sobre o aumento de vítimas mortais. Senti que, antes de se avançar com novas políticas, era preciso haver uma maior sensibilização e consciencialização para o problema”, recordou a aluna da Faculdade de Direito.

Dussu Djabula falou com colegas do seu curso, de outras faculdades e, depois, com o movimento das Nações Unidas HeForShe, criado em 2014 para promover a igualdade de género.

Atualmente, Dussu é uma das 45 pessoas que fazem parte do grupo HeForShe – Unl (Universidade Nova de Lisboa) e usa sempre o plural para falar dos projetos do movimento: “Nós criámos o grupo HeForShe – Unl e estamos comprometidos com o movimento das Nações Unidas”, contou à Lusa. A maioria dos elementos do HeForShe- Unl estuda na Nova, mas Dussu Djabula adiantou que também conta com pessoas de fora da instituição que se quiseram juntar ao grupo que já levou a cabo dois eventos.

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Este fim de semana, os estudantes vão promover na reitoria da Universidade Nova uma conferência internacional para debater vários temas ligados à luta pela paridade, como a educação da igualdade de género, a igualdade no mundo do trabalho e a violência doméstica.

Em 2019, houve mais de 29 mil denúncias por violência doméstica e a polícia deteve 944 pessoas por este crime, o que representa um aumento de 17,5% em relação a 2018. No que toca aos jovens, só a PSP recebeu, no ano passado, 900 denúncias de violência entre namorados e mais de 1.200 denúncias de violência entre ex-namorados.

Considerando que a violência doméstica é um dos grandes dramas da sociedade atual, a aluna lembrou que este não é um problema exclusivamente feminino e que o estereótipo criado em torno dos homens acaba por se refletir nos números de denúncias.

A masculinidade tóxica é outro dos temas em debate na conferência. Este problema existe quando se espera dos homens um conjunto de comportamentos estereotipados, como por exemplo serem menos sensíveis ou mais violentos. Quando a sociedade aceita este tipo de preconceitos acaba por promover ou permitir chefes agressivos, parceiros hostis ou amigos desrespeitadores.

“A masculinidade tóxica pretende chamar a atenção para o facto de existirem determinadas expectativas para os sexos que podem ser prejudiciais”, alertou, lembrando preconceitos como as ideias de que “os homens não choram ou têm de ser fortes”. “Não são essas características que definem um homem e existem certo tipo de imposições que podem depois promover atitudes como ataques físicos ou verbais”, acrescentou.

Entre 2013 e 2015, houve um aumento de quase 15% de denúncias de homens adultos vítimas de violência doméstica.

A conferência internacional começa no sábado com um painel sobre a Educação da Igualdade de Género. Segue-se o tema da Violência Doméstica, com a presença de Daniel Cotrim, em representação da APAV, Teresa Fragoso, presidente da Comissão para a Igualdade de Género, e Rui do Carmo, coordenador da equipa de Análise Retrospetiva de Homicídio em Violência Doméstica.

O secretário de Estado para a Educação, João Costa, e o pró-reitor da Nova, Luís Mergulhão, são outros dos oradores.