A liderança da CGTP pode ter mudado este fim-de-semana, com a eleição de uma nova secretária-geral, Isabel Camarinha, a primeira mulher de sempre à frente da central. Mas o discurso está para lavar e durar. Aliás, o discurso de encerramento do XIV Congresso da CGTP, a primeira grande intervenção de Isabel Camarinha nas novas funções, retoma as mesmas ideias deixadas por Arménio Carlos na abertura dos trabalhos.

A saber: as opções do Orçamento do Estado “do Governo PS” mantêm “os milhões para os banqueiros e perpetuam o escândalo das PPP”, ao mesmo tempo que “afrontam a dignidade dos trabalhadores” da Função Pública. E dá exemplos. Os milhões para o Novo Banco.

“Sim camaradas, é de opção que se trata. Na Administração Pública, depois de 10 anos sem qualquer aumento para os trabalhadores, são propostos 7 euros para os que pior ganham, enquanto que para o Novo Banco são 650 milhões”, atirou Isabel Camarinha. Os congressistas manifestaram-se ruidosamente.

Isabel Camarinha eleita secretária-geral da CGTP

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E continuou: “Para os trabalhadores que têm salários um pouco acima são 0,3% de aumento, enquanto que para os proprietários privados das PPP rodoviárias é uma taxa de rentabilidade garantida acima dos 6% e são mais de mil milhões”.

O ataque mais forte ao Governo surgiu quando Isabel Camarinha falou da legislação laboral. “De que diálogo social fala o Governo quando dá a uma das partes, à parte com mais poder na relação de trabalho, os instrumentos para a chantagem permanente? Que diálogo é este em que nos querem enredar, para transformar os contratos coletivos no meio para impor direitos abaixo da legislação laboral? Não aceitaremos, jamais poderemos aceitar, camaradas!”, exortou a nova líder sindical. “Esta é uma batalha que vamos continuar com toda a determinação”, completou.

Também atacou, como o tinha feito Arménio Carlos, o acordo em discussão na Concertação Social, considerando que é um “pacote de mundos e fundos para as empresas” que garante “regras vagas” que os patrões precisam para “a contenção salarial”.

“Aquilo que está em desenvolvimento na Concertação Social com o acordo para a Competitividade e Rendimentos, da avaliação que fizemos, é mais um pacote de ‘mundos e fundos’ para as empresassem conjunto de regras vagas com o objetivo de garantir ao patronato a contenção salarial e um novo adiar das alterações de rumo que os trabalhadores exigem e o país precisa”.

Medidas? As mesmas: “aumentar os salários em 90 euros para todos os trabalhadores” – a exigência da CGTP em negociação na concertação – e a fixação do salário mínimo em “850 euros no mais curto prazo”. Quanto ao mais, a mesma análise sobre a “complexidade” da situação internacional, mas lida à luz da central sindical: o mundo atravessa “uma crise estrutural do capitalismo” e está cada vez “mais enredado” na “ingerência criminosa do imperialismo”.

Por tudo isso, reafirma Isabel Camarinha, a CGTP está e estará empenhada na “luta”, palavra que a nova secretária-geral usou mais de 30 vezes no discurso (incluindo as suas variantes).

“Os trabalhadores estão confrontados com problemas que persistem e exigem resposta. Os baixos salários, a precariedade, a desregulação dos horários, as más condições de trabalho e uma legislação retrógrada”, sintetizou Isabel Camarinha.

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Uma última palavra para as emoções que correram livres no palco do XIV Congresso da CGTP. Já no final do último dia, quando Isabel Camarinha se despedia dos “camaradas” que abandonam a comissão executiva – Arménio Carlos (que recebeu o maior aplauso), João Torres ou Ana Avoila – houve lugar a lágrimas. Mário Nogueira, o histórico líder dos sindicatos dos professores, emocionou-se e chorou, tal como Avoila, Carlos Trindade, entre outros.