Lurdes olha para o telemóvel. Já vai em quatro o número de mensagens que recebeu com remetente “Hospital de São João”. Apesar de tudo, são boas notícias. A sogra está paredes meias com aquela sala de espera para acompanhantes de doentes que deram entrada na urgência, mas dali não a consegue ver. É através de mensagens de telemóvel que vai sabendo dos passos que a doente tem dado lá dentro.

“Quando cheguei com ela, dei o meu contacto e perguntaram-me se queria receber em SMS a informação”. Lurdes Azevedo disse que sim, que queria. “Então comecei a receber mensagem a dizer que ela estava a ser vista pelo médico e que entretanto ia fazer exames. É o que está a acontecer”.

As cadeiras daquela sala de espera combinam com a cor da pulseira que a sogra de Lurdes recebeu na triagem de Manchester: laranja. Lá encontram-se outras duas mulheres, também com o telemóvel na mão.

São das primeiras acompanhantes de doentes a terem a oportunidade de testar o “São João MAIS”, que pretende informar os acompanhantes, em tempo real e via mensagens de telemóvel, da evolução dos pacientes que deram entrada no serviço de urgência do Hospital de São João.

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Sempre que há um evento importante em termos de percurso dentro da urgência – quer seja porque vai ser visto pelo médico, porque vai fazer análises, porque foi triado, porque vai ter alta ou porque vai ser internado — esses pontos são automaticamente gerados como informação que vai ser passada para uma mensagem recebida pelo acompanhante”, descreve ao Observador a diretora clínica do hospital, Maria João Baptista.

Trata-se de uma medida inovadora no sistema nacional de saúde, que pretende humanizá-lo, segundo a médica, “mas não substitui de todo a informação clínica que as pessoas têm o direito de saber”. Por via de mensagens não serão facultados dados clínicos dos doentes.

A observação de alguns doentes não permite a presença constante do acompanhante. Portanto, há sempre um certo afastamento. Depois há familiares que, à distância, tentam contactar por telefone e não é fácil chegar à fala com a equipa de saúde”, completa o enfermeiro chefe do serviço de urgência, Paulo Rocha.

Foi da equipa de saúde que partiu a ideia, depois de identificada a “barreira” que cria ansiedade em quem acompanha e em quem entra no sistema sem conseguir comunicar para o outro lado das paredes.

Pulseiras verdes e azuis. São João encaminha doentes não urgentes para centros de saúde

Apesar de o projeto ter como principal alvo a fluidez da comunicação, também poderá servir de medida desentupidora das urgências, ao “permitir que as pessoas lá fora não precisem de ficar muito tempo, possam sair e saber que vão receber uma mensagem”, confere Maria João Baptista.

Não é o caso de Lurdes. Mesmo a receber informação via telemóvel, não vai descolar  de dentro do edifício até haver um desfecho, seja ele a alta ou internamento da sogra. No entanto, a experiência desta manhã difere da última que teve naquele serviço. Durante uma noite inteira não conseguiu saber “nada, nada, nada sobre se ela estava bem”. “Entrou com falta de ar e eu estava preocupada, não é?”.

O serviço de mensagens, desenvolvido pela equipa de programadores informáticos do hospital e independente de trabalho humano, é ativado apenas sob a aceitação do doente, à chegada. Após essa autorização, é completamente automático.

Para a população sem telemóvel, o serviço vai ser disponibilizado também no gabinete de apoio ao acompanhante, já existente e a funcionar a 100%. Lá continuarão a ser dadas pessoalmente as informações sobre o estado dos doentes.