A campanha imbatível do Liverpool, que ainda não perdeu qualquer jogo na Premier League esta temporada, tem sido notícia no mundo inteiro precisamente porque no final da época pode dar origem à verdadeira notícia. Afinal, o Arsenal de Arsène Wenger em 2004 ainda é a única equipa na primeira liga inglesa a ter completado uma temporada inteira sem sofrer qualquer derrota: foram campeões, Thierry Henry e companhia ficaram na história e esse grupo de jogadores passou a ser identificado como “os invencíveis”. A meio de fevereiro de 2020, nunca uma equipa esteve tão perto de igualar o feito do Arsenal há 16 anos como o atual Liverpool de Jürgen Klopp.

Só que a série imbatível do Liverpool não é apenas em vitórias dentro de campo, em golos e em relação aos jogadores: também o próprio Klopp já leva cinco prémios de Treinador do Mês na Premier League, com o último a ter sido atribuído no passado mês de janeiro, superando os quatro de Pep Guardiola em 2017/18 e tornando-se o técnico mais vezes distinguido numa única época. Ora, destacadamente na liderança da tabela, no fim de semana antes do regresso da Liga dos Campeões que planeia reconquistar e ainda nos dias em que o rival Manchester City foi afastado das competições europeias durante dois anos devido ao fairplay financeiro, Jürgen Klopp poderia facilmente andar nas nuvens e com os pés a tocar apenas levemente na terra. Mas o treinador alemão garante que é necessário manter um certo realismo.

Mané já está recuperado mas foi poupado por Klopp na primeira parte, já a pensar na Liga dos Campeões, e Oxlade-Chamberlain manteve a titularidade no ataque

Para além de ter atribuído à Juventus o favoritismo na Liga dos Campeões, garantindo que a equipa de Cristiano Ronaldo é “uma das melhores” que já viu, o treinador alemão explicou que o Liverpool “não anda a sonhar”. “Sabemos que uma equipa será coroada no final da temporada, sempre foi assim, e este ano existe uma boa probabilidade de sermos nós. Isso é muito, muito bom. Mas até lá não temos mesmo de pensar sobre isso. Trabalho com os rapazes todos os dias e ninguém anda aqui a sonhar. Para nós, é importante mostrar a toda a gente o quanto significa para nós jogar neste clube, jogar com estas cores e ser a equipa certa para representar os valores deste clube”, disse Klopp na antevisão da visita ao Norwich, deixando mais uma vez bem claro que o encaixe entre treinador e clube é nesta altura mais do que perfeito.

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Este sábado, o Liverpool deslocava-se então até ao terreno do Norwich, o último classificado da Premier League. Com 55 pontos a separá-los no início do jogo, as duas equipas encontravam-se dias antes de os reds visitarem o Atl. Madrid no Wanda Metropolitano, na primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões. Por isso mesmo, já com Sadio Mané recuperado — o avançado falhou os últimos quatro jogos com uma lesão muscular –, Jürgen Klopp optou por deixar o senegalês ainda no banco de suplentes, lançando Oxlade-Chamberlain no trio de ataque. No meio-campo, a única alteração à equipa habitual era a titularidade de Naby Keita, com Fabinho a começar como suplente.

O Norwich terminou a primeira parte sem qualquer remate feito à baliza de Alisson mas construiu a melhor oportunidade de golo até ao intervalo, quando Rupp apareceu nas costas de Robertson e Van Dijk depois de um passe longo. O avançado atrapalhou-se, tentou assistir Pukki e permitiu a intervenção de Alisson, que resolveu a situação (35′). Do outro lado, o Liverpool tinha muita presença no último terço adversário mas mostrava algumas dificuldades na hora do passe decisivo ou do remate, falhando inúmeras vezes a conclusão de jogadas interessantes. No final da primeira parte em Norwich, a equipa de Jürgen Klopp precisava de fazer um bocadinho mais para ultrapassar a muralha defensiva bem organizada pelo treinador Daniel Farke.

Na segunda parte, o Liverpool foi assumindo progressivamente o controlo do jogo e colocou praticamente toda a equipa no interior do meio-campo adversário. Em oposição, o Norwich passava a ter muitas dificuldades na saída de bola, restringindo-se a defender o nulo no resultado. Os reds ficaram muito perto de inaugurar o marcador com uma oportunidade de Keita que o guarda-redes Tim Krul defendeu (59′) — Salah, que fez o remate no início da jogada, merecia o golo depois de um trabalho delicioso no interior da grande área — e Klopp decidiu Mané e Fabinho para os lugares de Oxlade-Chamberlain e de um apagado Wijnaldum.

O jogo foi abrindo à medida que o tempo foi passando, até porque o Liverpool parecia ir sentindo a crescente pressão de ainda não estar a ganhar, algo que, pelo menos esta temporada, não é intrínseco à equipa de Klopp. O Norwich voltou a protagonizar a melhor ocasião da partida até então, numa das raras aproximações que fez à baliza de Alisson na segunda parte, mas o remate de Tettey foi direitinho ao poste defendido pelo guarda-redes brasileiro (74′). Menos de cinco minutos depois, o inevitável aconteceu — Mané recebeu um passe praticamente perfeito de Henderson na grande área, dominou no ar com um movimento acrobático e rematou para abrir o marcador (78′), marcando o centésimo golo desde que chegou a Inglaterra.

Com um golo solitário do regressado avançado senegalês, o Liverpool somou mais três pontos, evitou aquele que seria apenas o segundo empate da temporada na Premier League e deu mais um passo rumo à idílica época imbatível. Mais do que isso, e apenas a alguns dias do regresso da Liga dos Campeões, aquele que tem sido o melhor jogador do Liverpool desde o início da temporada mostrou que está recuperado, pronto e preparado: Mané está de volta e o mundo parece estar constantemente a favor de Jürgen Klopp.