O candidato vencido nas presidenciais de setembro de 2019 no Afeganistão, Abdullah Abdullah, contestou esta terça-feira a vitória do chefe de Estado cessante, Ashraf Ghani, e reivindicou a vitória, anunciando que formará um governo paralelo de união.

Com base em votos biométricos próprios, a nossa equipa ganhou (…). Os que participam em fraudes são a vergonha da história e anunciamos o nosso governo de união”, afirmou durante uma conferência de imprensa em Cabul.

Segundo a comissão eleitoral independente afegã, o presidente Ashraf Ghani foi reeleito para um segundo mandato com 50,64% dos votos e o primeiro-ministro Abdullah Abdullah, o seu principal adversário político, obteve 39,52%.

De acordo com o canal de notícias afegão TOLOnews, Abdullah disse que as decisões sobre os votos contestados são ilegais, considerando os resultados divulgados esta terça-feira como um golpe contra a democracia. “Foi uma traição nacional”, adiantou, segundo a mesma fonte.

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A equipa de Abdullah Abdullah contestou os resultados definitivos das presidenciais de 28 de setembro logo que estes foram esta terça-feira anunciados, como aconteceu nas eleições de 2014.

“Os resultados anunciados pela comissão não têm legitimidade”, reagiu o porta-voz da equipa de campanha de Abdullah, Faraidoon Khwazoo, questionado pela agência France Presse. “Abandonámos o processo (eleitoral) há dois dias. As comissões não agiram de acordo com a lei e perderam a sua legitimidade“, afirmou.

O vice-presidente Abdul Rashid Dostum, poderoso antigo senhor da guerra e aliado de Abdullah Abdullah, ameaçou também formar um governo paralelo se fossem anunciados resultados “fraudulentos”.

O anúncio dos resultados definitivos das presidenciais afegãs foi adiado por diversas vezes perante queixas de irregularidades e de má conduta, mas também por causa de problemas técnicos durante a contagem dos boletins de voto.

Os resultados preliminares tornados públicos no final de dezembro já mostravam uma vitória com maioria absoluta do atual chefe de Estado afegão.

Esta eleição presidencial foi apresentada como a mais fiável da história da jovem democracia afegã por contar com aparelhos biométricos fornecidos por uma empresa alemã, que não permitiam que os eleitores votassem mais do que uma vez.

Mas quase um terço dos votos registados — quase um milhão num total de 2,8 milhões — foram invalidados por irregularidades.

Com 1,8 milhões de votos válidos, num universo de 9,6 milhões de eleitores, estas presidenciais tiveram a mais baixa taxa de participação de sempre no Afeganistão.

A população afegã e a comunidade internacional temiam uma repetição do cenário de 2014, quando Abdullah Abdullah contestou os resultados da eleição, marcada por graves irregularidades, o que levou a uma crise constitucional.