O Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) aprovou na quarta-feira uma moção de solidariedade para com os conselheiros do órgão na sequência de “ataques intoleráveis e preconceituosos” feitos ao trabalho destes profissionais.
Na moção de solidariedade, aprovada por unanimidade, o Conselho Permanente do CCP considerou os ataques “intoleráveis e preconceituosos (…), ofensivos da honra, do caráter e da qualidade do trabalho realizado pelos integrantes do CCP”, sem precisar mais a informação.
Esta moção de solidariedade surge dias depois do anúncio da demissão da conselheira Luísa Semedo, eleita em França, do cargo de presidente do Conselho Regional da Europa do CCP, devido à obrigação de uma interação direta com o partido Chega, recentemente eleito para a Assembleia da República.
Desde então, Luísa Semedo tem sido alvo de “mensagens violentas e ameaçadoras”.
Na moção de solidariedade, os conselheiros sublinham que o CCP “é um órgão político, mas apartidário, diverso e plural, porém unificado na defesa incondicional das Comunidades Portuguesas”.
No documento, salientam também que desde abril de 2016, nunca se esquivaram a debater propostas ou mesmo críticas recebidas ou por eles formuladas.
“Mas não toleraremos práticas discursivas baseadas em insultos decorrentes quer do desconhecimento das reais atribuições legais do CCP, quer de mentiras ou ilações que pretendam querer nos humilhar publicamente”, é sublinhado na moção.
O CCP lembra também que em mais de 30 anos, “apesar da histórica invisibilidade à qual as Comunidades e este órgão foram submetidos”, sempre direcionaram a sua atuação em defesa e dos anseios de quem vive no estrangeiro.
“Com o aumento exponencial dos eleitores nas Comunidades surgiram por elas interesses utilitaristas e, em alguns casos, um querer ser protagonista de nossas pautas por meio do desmerecimento do trabalho responsável e voluntário que conselheiros/as desenvolvem perante as suas comunidades locais ou junto a este Conselho no exercício dos seus legítimos mandatos”, é ainda referido na moção.
Luísa Semedo, que integra o Conselho das Comunidades Portuguesas e foi eleita em França, anunciou na semana passada nas suas redes sociais que abandonaria o seu cargo de representação dos restantes 24 membros do Conselho Regional da Europa devido à obrigação de uma interação direta com o partido Chega.
“É uma situação absolutamente impossível de fazer porque eu não considero nem o Chega nem o André Ventura como legítimos no cargo onde estão. Não vou falar com uma pessoa que é racista, fascista e tem no seu programa várias medidas intolerantes”, argumentou Luísa Semedo.
Esta tomada de posição pública de Luísa Semedo tem levado a que tenha sido alvo de várias ameaças, vendo-se obrigada a fechar a sua página de Facebook.
“Comecei a receber imensas mensagens ao mesmo tempo. Mensagens muito violentas e ameaçadoras, a dizerem que eu era pior que o Hitler e eu comecei a bloquear. Depois achei que havia coisas demasiado difíceis como ‘macaca’, ‘preta’ ou ‘morre'”, indicou.
A reunião do Conselho Regional da Europa vai realizar-se nos dias 27 e 28 de fevereiro em Lisboa, no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Nesta ocasião, os conselheiros que representam a comunidade nos diferentes países europeus encontram-se com representantes de todos os partidos eleitos para a Assembleia da República de forma a discutirem os problemas e prioridades da diáspora. A reunião vai servir também para eleger um novo presidente.
O Conselho das Comunidades Portuguesas, órgão de consulta do Governo para as questões da emigração e que elege representantes em todo o mundo, vai ter novas eleições em outubro deste ano e a conselheira em França ainda está a ponderar uma possível recandidatura.