São 23 segundos ao longo dos quais se vê uma matrícula e a parte traseira de um carro, a cujo tubo de escape a cara desfocada de um jovem, negro, é encostada, enquanto no lugar do condutor alguém acelera e liberta uma enorme nuvem de fumo. Ouvem-se gritos, alguns impropérios, muitas gargalhadas e um “Eia, vocês vão matar o gajo!”. Título: “Homem é forçado a respirar fumo de escape”.
Colocado no YouTube esta quarta-feira, o vídeo começou rapidamente a circular nas redes sociais, em posts cheios de indignação e de referências ao caso Marega — de acordo com o jornal Público, que deu conta da investigação em curso da PSP aos autores das imagens, ouve-se mesmo alguém a chamar “Marega” ao jovem aparentemente violentado.
Afinal, diz menos de 24 horas depois a PSP, em declarações à TSF, tudo poderá ter sido feito “de livre vontade” e, em vez de um ato de violência e racismo, o que as imagens mostram é o resultado de uma aposta entre amigos.
Segundo o porta-voz da Policia de Segurança Pública, o intendente Nuno Carocha, a gravação terá sido feita na noite de 17 de fevereiro, na zona da Grande Lisboa, de forma voluntária. Identificados e interrogados sete suspeitos, entre os 22 e os 25 anos, foi essa a conclusão a que chegaram as autoridades, o que não significa que o caso não possa ser enviado para o Ministério Público, na eventualidade de serem detetados danos na saúde do jovem colocado junto ao tubo de escape, ressalva ainda a notícia.
Em comunicado enviado entretanto esta quinta-feira de manhã às redações, a PSP explicou que “os sete jovens que participaram no vídeo, principalmente aquele que tem a cara encostada ao tubo de escape, foram ao final do dia de ontem identificados pela PSP, apurando-se ter-se tratado de uma aposta realizada livremente entre os intervenientes, no contexto de um grupo de amigos”.
A descrição do vídeo no YouTube — “Cientistas da Universidade de Lisboa realizam com sucesso um experimento revolucionário para transformar um homem negro em algo ainda mais negro” — já denotava um tom mais de brincadeira e menos de ódio racial.
Existem, na mesma plataforma, outros vídeos com “brincadeiras” semelhantes, onde pessoas aparentemente adultas e à primeira vista de livre vontade se posicionam junto às saídas de fumo de carros para ficarem cobertas de fuligem.