Por muito que aborreça os detractores da Tesla, o fabricante norte-americano de carros eléctricos, que só produziu o seu primeiro veículo em 2012, começa a apanhar-lhe o jeito. Depois dos grandes atrasos com o Model 3, conseguiu antecipar a produção e entregas do Model Y em quase um ano. E, como se isso não bastasse, vai introduzir no SUV pelo menos duas soluções que prometem fazer disparar ainda mais o valor da Tesla.
É um facto que o Model Y herda quase tudo do Model 3, mas não há peças em comum no chassi nem na carroçaria, dado o SUV ser mais alto e mais comprido, com o objectivo não só de os diferenciar esteticamente, como de lhe permitir transportar sete pessoas em vez de apenas cinco, como acontece no 3. Mas já que tinha de mexer em tudo o que não era puramente mecânica, a Tesla aproveitou para introduzir algumas melhorias, destinadas a encurtar o tempo de fabricação, reduzindo custos, objectivo que vai perseguir igualmente com a segunda medida: simplificar e reduzir a cablagem do modelo.
Em relação à cablagem, é um facto que todos os fabricantes tentam cortar nos quilómetros de fios eléctricos que instalam dentro de cada automóvel. Muitos cabos são sinónimo de custos, peso e tempo de montagem, três características que os construtores tentam evitar a todo o custo. Ora, parece que a Tesla fez o seu trabalho de casa e, mais uma vez, prepara-se para surpreender o mercado.
Menos cabo. 100 metros em vez de 1,5 km
Tradicionalmente, um veículo moderno tem vários quilómetros de cabos eléctricos. Aqui chegados, é bom recordar algo que já aqui afirmámos e que nos chegou pela mão dos técnicos da Continental, que enquanto um Mercedes Classe S topo de gama tem no seu interior 123 processadores, um Tesla Model S tem apenas um, o que simplica todo o processo. Paralelamente, em vez de usar dois fios eléctricos para controlar uma operação simples como os vidros eléctricos, um para abrir e outro para fechar, a Tesla monta apenas um cabo de dados, através do qual pode fazer passar as duas informações.
Um dos grandes obstáculos para o incremento da produção do Model 3, segundo Elon Musk, foi uma dificuldade maior do que antecipado em “convencer” os robôs da linha de montagem a instalar correctamente a cablagem, de forma automática. Problema só resolvido quando substituíram grande parte das máquinas por homens. Então, Musk ficou decidido a reduzir a quantidade de cabos, avançando que um Model S montava uma cablagem com cerca de 3 km de cabos, valor que depois cairia para apenas 1,5 km para o Model 3. Sucede que agora, para o Model Y, a Tesla está aparentemente apostada em fazer tudo com só 100 metros de cabo, ainda que obviamente um cabo especial, tecnologia que depois vai ser estendida à Cybertruck, ao Semi e ao resto da gama.
Painéis laterais com 1 peça em vez de 70
Quando se concebe um automóvel, pelo menos no que se refere às peças estampadas necessárias para formar o chassi, há um equilíbrio entre o equipamento que existe no mercado, para produzir as tais peças estampadas, sejam elas em aço ou em alumínio, e as necessidades do fabricante, que se conceber, por exemplo, um painel lateral do chassi com menos peças, conseguirá maior rigidez (por evitar posteriores soldaduras), menos custos (pois forma a peça com apenas uma “pancada” da prensa) e mais rigor de construção, pois ter de juntar e soldar peças entre si provoca necessariamente desvios e folgas.
Para contornar esta questão, Musk concebeu uma prensa de moldagem de grandes dimensões para painéis de alumínio, capaz de, segundo ele, produzir em apenas uma peça e uma estampagem o que até aqui necessitava de 70 peças e outras tantas “pancadas” da prensa e equivalente número de moldes. À semelhança do que aconteceu com a cablagem, também esta prensa gigante da Tesla foi patenteada, estando todos nós a dias de analisar o fruto do seu desempenho.
Com estes dois trunfos, a serem revelados juntamente com o Model Y, a Tesla estará em condições de continuar a ver a cotação das suas acções dispararem. A Tesla está a transaccionar os seus títulos hoje a 831,55 dólares, o que a atira para uma capitalização de 153,55 mil milhões de dólares, ela que ultrapassou todo o Grupo Volkswagen (a Volkswagen AG) em 21 de Janeiro, quando esta estava avaliada na bolsa em 99 mil milhões. Porém, em cerca de apenas um mês, a Tesla aumentou o seu valor em mais de 50%, enquanto o grupo alemão, transaccionado a 157€, viu o market cap baixar para apenas 78,95 mil milhões.