“É um jogador de um enorme talento, muito bom rapaz. Deve seguir a sua carreira e a sua vida sabendo que é o melhor jogador de futebol da atualidade. E também sempre desfrutei muito de ver o Leo em cada jogo que fez pela Argentina”. De um lado Nápoles, do outro Barcelona. De um lado Diego Armando Maradona, do outro Lionel Messi. De um lado El Pelusa, do outro La Pulga. De forma incontornável, os últimos dias antes do jogo a contar para a Liga dos Campeões andaram à volta de dois dos melhores de sempre. Um Deus da atualidade visitava a terra de o Deus eterno que até uma igreja tem (entre centenas de alusões em cada canto da cidade).

“Quando estava no Boca Juniors, cheguei à Europa pelo Barcelona, que era o sonho de todos os jogadores de futebol argentinos, mas tive de enfrentar muitos problemas físicos. O Barcelona abriu-me as portas da Europa mas escrevi a minha história de azul, o meu coração está com o Nápoles. Dei tudo pelo Nápoles e Nápoles também deu tudo por mim, mostrando o seu afeto. Foram anos magníficos para a equipa e pela Argentina, ganhei Campeonato, Taça UEFA e Mundial”, recordou ao Il Mattino, sobre os dois anos na Catalunha entre 1982 e 1984 e os sete anos na cidade italiana até 1991, após ter sido apanhado num teste com cocaína e parar mais de uma época. Aliás, ainda hoje o ’10’ recorda que chegou à cidade com 85.000 adeptos e saiu sem um único a seu lado (se tiver nove minutos a mais em dia de feriado, a Marca deixou um compacto do melhor de Maradona em Itália).

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“Ronaldo é um grande futebolista, muito bom mesmo, mas quando o comparam com Messi levanto-me da mesa. O Messi é muito melhor do que o Ronaldo. Agora, não se pode comparar Messi a Maradona porque não se pode comparar o terrestre com o extraterrestre. Em Nápoles, o meu ‘velho’ é Deus”, acrescentou Maradona Jr., filho do antigo campeão mundial, ao El Larguero falando sobre o duelo entre os melhores da atualidade e os melhores de sempre. Tudo servia de termo de comparação mas Jorge Valdano, um pensador no futebol que foi campeão mundial em 1986 com El Pibe, teve recentemente a melhor comparação entre Maradona e Messi, os dois que sempre disse que nunca iria comparar como sendo um melhor do que o outro. “Maradona era mais artístico, o que distingue Messi é que consegue ser Maradona todos os dias”, disse, citado pelo La Vanguardia. Ah, e convém não esquecer neste apanhado os dez mandamentos da Igreja Maradoniana, com sede no sul de Itália.

  1. A bola não se mancha como disse D10S na sua homenagem;
  2. Amar o futebol acima de todas as coisas;
  3. Declarar o teu amor incondicional por Diego e pelo bom futebol;
  4. Defender a camisola da Argentina respeitando as pessoas;
  5. Difundir os milagres de Diego em todo o universo;
  6. Honrar os tempos onde jogou e os seus mantos sagrados;
  7. Não proclamar Diego em nome de um único clube;
  8. Pregar os princípios da igreja maradoniana; 
  9. Ter Diego como segundo nome e colocá-lo ao teu filho;
  10. Não ser cabeça oca e que não te fuja a tartaruga (duas frases célebres de Maradona)

“Messi é a nossa esperança viva mas ainda falta meter o povo argentino nas ruas pela felicidade de um grande triunfo”, comentaram os fiéis da Igreja de El Pelusa, numa ideia mais pormenorizada depois por Alemão, antigo companheiro de Maradona no Nápoles. “Jogar com ele não se pode descrever, é preciso estar lá. Era um génio. Só a sua presença já trazia problemas. O Messi é um fenómeno, um jogador difícil de encontrar mas o Maradona era um génio, foi mais do que ele. Fez muito mais pela sua seleção. O Messi tem uma equipa a jogar para ele e isso nota-se melhor quando vai à seleção”, comentou numa entrevista à Marca. E foi assim, mais uma vez. O génio de Messi, que marcou quatro golos ao Eibar, esteve mais apagado do que é normal pela marcação à zona bem feita pela equipa do Nápoles mas apareceu uma equipa (e Ter Stegen) a colocar uma mão na eliminatória.

Tudo estava centrado em Maradona e em Messi mas a história acabou por ser escrita por outro ‘M’. Escrita e sem redundâncias, literalmente: numa primeira parte com raríssimas opiniões e poucos remates, Mertens marcou o único golo (e que golo!) com um remate à entrada da área ao ângulo da baliza de Ter Stegen naquele que foi o seu 121.º golo pelo Nápoles, igualando o registo do ex-capitão Hamsik – que, por sua vez, tinha superado o registo de Maradona. Tudo num jogador de 32 anos que começou nos seniores do Gent, que passou por Eendracht Aalst e AGOVV, que se destacou no Utrecht, que chegou ao PSV e que assinou pelo Nápoles já em 2013.

No segundo tempo, sobretudo depois da saída de Rakitic, o Barcelona foi conseguindo fazer prevalecer aquelas trocas de bola mais curtas e em velocidade capazes de desposicionar as defesas contrárias e chegou assim ao golo do empate: Nelson Semedo ganhou bem as costas a Mário Rui, cruzou de primeira da direita e Griezmann, ao primeiro poste, desviou de pé direito para o empate (57′). Insigne ainda colocou Ter Stegen à prova, Messi teve uma jogada em que fintou cinco adversários mas terminou o encontro apenas com um amarelo na ficha de jogo, Vidal foi expulso por acumulação no mesmo minuto (pela falta sobre Mário Rui e depois por ter encostado a cabeça ao lateral português) e o empate não mais se desfez, num resultado favorável ao Barcelona mas que ficou sobretudo marcado pela presença de Messi em Nápoles, a terra do Deus eterno Maradona.