À frente na corrida dos democratas para o lugar de candidato a presidente dos Estados Unidos, o senador Bernie Sanders tornou-se, esta noite de terça-feira, um alvo dos seus seis adversários. Sanders foi criticado por ter ideias ilusórias e foi esmiuçado num debate marcado por momentos caóticos, como descreve o The New York Times, com os candidatos a esbracejarem e a falarem uns por cima dos outros.

Ao centro dos candidatos naquele que foi o décimo debate, dias antes de arrancarem as primárias na Carolina do Sul, Sanders foi atacado pela sua posição inconsistente relativamente ao controlo de armas (defende um meio termo), a sua admiração pelos ditadores de esquerda e pelos custos do programa Cuidados Saúde para Todos. Por outro lado, os seus adversários consideram que a sua nomeação para candidato presidencial afetaria o próprio partido Democrata, como refere o The Washington Post. “Estou a ouvir  meu nome ser muito mencionado esta noite”, disse a certa altura. Mas, afinal, o que disse cada um dos candidatos?

Bernie Sanders

Sanders elogiou o governo de Fidel Castro, em Cuba, e falou naquilo que considera “intervenções malignas” dos Estados Unidos tanto no Chile como no Irão. O apoio a Cuba valeu-lhe um ataque do vice-presidente de Obama, Joseph R. Biden Jr. — que está a apostar a sua candidatura no estado de Carolina do Sul. Sanders ainda respondeu que o próprio Obama chegou a manifestar o seu apoio a Cuba, mas Biden, que reuniu com o ex-presidente recentemente, disse que ele jamais apoiou ou apoiará aquele regime.

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Mais tarde, no debate, Sanders acabaria por irritar-se com o tema Cuba, depois de lembrarem uma entrevista em que elogiava os programas de literacia naquele país, revelando-se contra o regime autoritário, mas também, mais uma vez, contra as políticas americanas anti-América do Sul e Médio Oriente.

Já de Pete Buttigieg, Sanders ouviu que, como candidato presidencial, dificilmente os democratas chegariam à Casa Branca. E não só, “a maioria no Senado está também ameaçada”. Também Bloomberg alimentou esta ideia: “Alguém consegue imaginar os republicanos moderados a votar nele?”. O bilionário disse ainda que se quisessem ganhar a Trump precisariam de um “movimento popular sem precedentes entre negros e brancos e latino-americanos, nativos americanos e asiáticos, pessoas que se levantam e lutam pela justiça”.

Biden lembrou o massacre na Igreja de Charleston, em 2015, para sublinhar as diferentes posições de Sanders relativas às armas. Nessa altura nove pessoas foram mortas por um supremacista branco. “Não estou a dizer que é responsável pela morte de nove pessoas, mas aquele homem não conseguiria comprar uma arma se o período de espera para a compra fosse o que eu sugeri”, lembrou.

Sanders acabou por admitir que chegou a arrepender-se de algumas posições tomadas em relação às armas, no passado. Em resposta a Bloomberg o candidato também negou que a Rússia estivesse a procurar apoiar a sua candidatura. “Ei, senhor Putin, se eu for presidente dos Estados Unidos, confia em mim, não vais interferir”, disse.  Tentando afastar-se da imagem de ser um “radical” e mostrando que as suas propostas, como a do plano Cuidados de Saúde para Todas, são já prática comum noutros países.

Joe Biden

Para Biden, que precisa de uma vitória em Carolina do Sul já este sábado, o debate ganhou uma importância ainda maior. E foi por isso, segundo a Reuters, a melhor forma que viu para se destacar foi a tentar derrubar o candidato que está mais à frente na corrida a candidato presidencial. O vice-presidente falou no seu trabalho relativamente às armas e falou na lei da violência contra as mulheres. “Progressivamente vamos fazendo as coisas”, disse.

Elizabeth Warren

A senadora de Massachusetts conseguiu finalmente afrontar diretamente o seu maior rival: Bernie Sanders. E fê-lo de uma forma muito direta: “Eu daria uma melhor presidente que Bernie”.

No entanto, segundo a Reuters, a candidata perdeu demasiado tempo a atirar a Bloomberg, muito mais do que a defender as suas ideias. “O núcleo duro do Partido Democrata nunca confiará nele”, chegou a dizer.

Bloomberg  chegou a revirar os olhos quando a candidata lhe exigiu ser mais transparente na sua empresa relativamente ao tratamento das mulheres. Referindo episódios de discriminação na gravidez de funcionárias e até mesmo acusando-o de ter pressionado uma funcionária a fazer um aborto. Ele negou a acusação e, ao tentar sacudir as críticas, argumentou que o seu papel enquanto prefeito de Nova Iorque após os atentado do 11 de setembro de 2011 traz-lhe uma experiência que nenhum outro candidato tem. “todas as apresentações que o senador quer apresentar não têm nada a ver com isso”, disse.

Michael Bloomberg

O empresário lucrou com o facto de o debate ser muito focado em apontar o dedo a Sanders permitindo-lhe recordar a sua experiência como prefeito de Nova Iorque e enfatizar os milhões que gastou em nome dos candidatos democratas ao Congresso e no controlo das armas.

“Eu sou a única escolha que faz algum sentido”, disse .”Eu tenho a experiência. Eu tenho os recursos. E eu tenho o histórico”, afirmou.

Biden mostrou-se confiante quando lhe perguntaram sobre o apoio que espera dos eleitores negros. “Eu ganharei os votos dos afro-americanos aqui em Carolina do Sul”, embora não os dando já como garantidos. “Estou aqui para pedir. Estou aqui para ganhá-los”, afirmou, segundo o The New York Times.

Pete Buttigieg

Foi um dos candidatos que mais atirou a Sanders. O prefeito de South Ben, no Indiana, mostrou-se preocupado com a agenda do seu principal adversário e avisou que a Rússia estava a tentar lançar o caos. Disse mesmo que uma possível sucessão sua a Trump iria “esgotar a Nação”.

Amy Klobuchar e Tom Steyer

Klobuchar, um senador do Minesota, e Steyer, um bilionário da Califórnia, estiveram, segundo a Reuters, mais apagados no debate. Kobuchar falou pela primeira vez ao fim de meia hora de debate, enquanto Steyer teve que se bater para chamar a atenção.

A sondagem feita antes do debate

Uma sondagem divulgada pela Reuters /Ipsos no dia do debate punha Bernie Sanders à frente da corrida à indicação Democrata para as presidenciais americanas.  Joe Biden conseguiu mais apoio entre os eleitores afro-americanos, embora tenha baixado dois pontos na sondagem realizada entre 19 e 25 de fevereiro.
Entre todos os eleitores registados como Democratas e independentes, 26 por cento disseram que votariam em Sanders, enquanto 15 por cento disseram que apoiariam Bloomberg e outros 15 apoiariam Biden.
A senadora Elizabeth Warren e o ex-prefeito Pete Buttigieg receberam o apoio de 10 por cento dos participantes cada. Outros 4 por cento disseram que votariam na senadora Amy Klobuchar, de Minnesota, e 3% disseram que apoiariam o bilionário filantropo Tom Steyer, escreve a Reuters.