A cônsul dos Estados Unidos em Ponta Delgada, Kathryn Ryan Hammond, declarou esta quarta-feira que se Portugal quiser rever o Acordo Bilateral de Cooperação e Defesa com os Estados Unidos deve dar o “primeiro passo”.

Em entrevista concedida à agência Lusa, a propósito dos 225 anos do consulado norte-americano, em Ponta Delgada, o “mais antigo do mundo continuamente operacional”, a cônsul nos Açores referiu que “se o Governo português pretender olhar o Acordo Bilateral, o governo dos Estados Unidos irá discutir esta questão, usando a Comissão Bilateral para encetar conversações”.

Para  Kathryn Hammond, o país deve dar o “primeiro passo”, apontando que Portugal “é um dos nossos parceiros e aliados: sei que este assunto, muito importante, tem sido discutido ao nível mais alto do Pentágono”.

Portugal e os Estados Unidos assinaram, em Lisboa, em 1995, o Acordo de Cooperação e Defesa, que inclui também o acordo técnico, que regulamenta a utilização da Base das Lajes e outras instalações militares portuguesas, e o acordo laboral, que regula a contratação de trabalhadores nacionais na base açoriana. Foi criada ao abrigo do Acordo a Comissão Bilateral Permanente, com a missão de promover a sua execução e a cooperação entre os dois países.

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Questionada sobre a intenção do presidente do Governo dos Açores, Vasco Cordeiro, de rever o Acordo Bilateral, a cônsul disse que ambos os governos “discutem sempre, ao mais alto nível, sobre questões como o Acordo”, bem como o ambiente, entre outros dossiês.

Em janeiro, Vasco Cordeiro considerou no parlamento dos Açores que se trata de “uma relação profundamente desequilibrada em prejuízo” de Portugal “e por isso é que deve ser alterada”. O governante açoriano lembrou que a iniciativa de revisão do acordo entre Portugal e EUA compete ao Estado português, adiantando que os interesses dos Açores devem ficar salvaguardados nessa futura revisão.

O chefe do executivo disse também que essa eventual revisão do Acordo não compromete as boas relações que atualmente existem entre Portugal e os Estados Unidos.

Para a cônsul dos Estados Unidos, “se o Governo dos Açores considera que a relação entre ambos os países está ‘desequilibrada’ é uma conversa que terá que ter com o Governo português“, sublinhando que as conversações entre ambos os países acontecem “ao mais alto nível”.

A representante dos Estados Unidos disse ainda o seu país não pretende promover mais nenhuma redução do efetivo militar e civil na Base das Lajes, nos Açores, mantendo o seu interesse na infraestrutura.

A cônsul nos Açores referiu que não tem “conhecimento de mais alguma redução”, havendo, neste momento, ao serviço, na Base das Lajes, cerca de 400 civis portugueses e 160 militares.

Kathryn Hammond recorda que é a única cônsul que não é honorária, algo que pretende “sublinhar o relacionamento dos Estados Unidos com os Açores”.

Em janeiro de 2015, o secretário de Estado da Defesa dos Estados Unidos, Chuck Hagel, confirmava a decisão do Pentágono de promover um downsize da Base das Lajes, no âmbito do qual se reduziu de 900 para 400 os trabalhadores portugueses e de 650 para 165 o pessoal militar e civil norte-americano. A medida provocou impactos económicos e sociais na ilha Terceira.

Para Kathryn Hammond, apesar da redução de pessoal, a Base das Lajes continua a ser “absolutamente importante” para o Estados Unidos, sendo neste momento o que os especialistas em geoestratégia e relações internacionais denominam de “base adormecida”, que poderá ser reativada, a qualquer momento, se necessário.

A cônsul norte-americana declarou, a propósito da poluição ambiental na Base das Lajes, que “os peritos de ambos os lados estão a discutir este assunto, estando-se a tentar apurar mais sobre esta matéria para se agir.

Kathryn Hammond anunciou que o embaixador dos Estados Unidos em Portugal, George E. Glass, vai estar de visita a várias ilhas dos Açores, em maio, a propósito das comemorações dos 225 anos do Consulado de Ponta Delgada.

Vai ser cunhada uma moeda comemorativa da efeméride com nove estrelas, representando cada uma das ilhas dos Açores, a par de 16 outras estrelas, representativas dos estados norte-americanos, no século XVI. A moeda contempla ainda uma imagem da bandeira do Espírito Santo, figura da qual os açorianos são devotos.

Relações oficiais dos Estados Unidos com os Açores começaram há 225 anos

As relações oficiais dos Estados Unidos com os Açores começaram há 225 anos, quando o Presidente George Washington nomeou o primeiro cônsul oficial dos Estados Unidos, John Street, em 1795.

Os Estados Unidos e os Açores possuem uma longa relação, tendo os primeiros habitantes do arquipélago chegado ao país por via da baleação, no século XVIII, uma vez que baleeiras norte-americanas vinham recrutar no arquipélago homens com reputação de bons marinheiros.

Depois do vulcão dos Capelinhos, na ilha do Faial, em 1957, o então senador John Fitzgerald Kennedy e um colega italiano, John Pastore, fizeram passar uma emenda no Senado, denominado de “Azorean Refugee Act”, que permitiu a emigração de milhares de açorianos, também de outras ilhas, que aproveitaram a abertura.

Neste momento, estima-se que existam 1,5 milhões de descendentes açorianos concentrados maioritariamente nos Estados de Massachusetts, RhodeIsland e Califórnia.

Durante algum tempo, os Estados Unidos tiveram um agente consular na ilha das Flores, e, em 1917, todas as operações do consulado fixaram-se em São Miguel.

Após John Street ter sido nomeado cônsul na Horta, Thomas Hickling, um empresário jovem americano que se mudou para São Miguel em 1769, foi nomeado vice-cônsul em Ponta Delgada, também em 1795.

Hickling deixou nos Açores lembranças e histórias que sobrevivem até hoje, sendo uma delas uma pedra com seu nome gravado, datada de 1770, que está situada perto de uma das piscinas vulcânicas do Vale das Furnas. O diplomata criou um palácio de verão que designou de “Yankee Hall”, nas Furnas, que se tornou a génese dos jardins do Hotel Terra Nostra.

O primeiro edifício do consulado em Ponta Delgada foi o Hotel São Pedro, atualmente uma escola de hotelaria. Durante o século XIX, representar os Estados Unidos tornou-se uma tradição para a família Dabney, uma vez que três gerações daquela família serviu o país, até que partiu em 1892, dos Açores.