Na semana passada, o Sporting foi a única das equipas portuguesas ainda na Liga Europa a jogar em casa. Foi também a única das equipas portuguesas, entre FC Porto, Benfica e Sp. Braga, a conseguir uma vitória. Esta semana, o Sporting era a única das equipas portuguesas a jogar no estrangeiro. E queria, com os minhotos já eliminados, fazer parte do contingente de equipas portuguesas que esta sexta-feira estariam a concurso no sorteio dos oitavos de final da Liga Europa. Para isso, bastava um empate com o Basaksehir.

Esta quinta-feira, em Istambul, os leões procuravam então o quinto jogo seguido sem perder, uma série positiva que comprova o momento convincente que a equipa atravessa no pós-Bruno Fernandes. Um Bruno Fernandes que, à semelhança de milhões de adeptos leoninos, olhou com agrado tanto para a vitória europeia contra o Basaksehir como para a vitória seguinte contra o Boavista. Dois resultados positivos, duas exibições sólidas e várias mudanças na equipa, entre lesionados, castigados e opções técnicas de Silas: que em nada apagavam uma temporada para lá de escassa e vazia mas que ainda ofereciam algum tipo de entusiasmo já na segunda metade da época.

Ficha de jogo

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Basaksehir-Sporting, 4-1 (5-4 no conjunto das duas mãos)

Segunda mão dos 16 avos de final da Liga Europa

Fatih Terim Stadium, em Istambul, Turquia

Árbitro: Mateu Lahoz (Espanha)

Basaksehir: Mert Gunok, Júnior Caiçara, Skrtel, Epureanu, Clichy, Aleksic, Okechukwu (Ozcan, 77′), Irfan Can Kahveci (Robinho, 89′), Visca (Ponck, 120′), Elia (Gulbrandsen, 85′) Demba Ba

Suplentes não utilizados: Volkan Babacan, Tekdemir, Ugur Uçar

Treinador: Okan Buruk

Sporting: Maximiano, Ristovski, Coates, Ilori, Acuña, Battaglia, Wendel (Eduardo, 90+1′), Bolasie (Plata, 60′), Vietto, Jovane (Doumbia, 72′), Sporar (Pedro Mendes, 108′)

Suplentes não utilizados: Diogo Sousa, Rosier, Borja

Treinador: Silas

Golos: Skrtel (31′), Aleksic (45′), Vietto (68′), Visca (90+2′ e 119′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Wendel (34′), a Aleksic (37′), a Vietto (43′), a Clichy (71′), a Epureanu (74′), a Kahveci (81′)

Sem Taça de Portugal, sem Taça da Liga, longe do primeiro lugar e até a lutar em desvantagem pelo terceiro, o Sporting olha para a Liga Europa nesta altura como uma espécie de bóia de salvamento. Quanto mais os leões progredirem, mais fácil será esquecer que o Sporting não está a lutar ativamente e realmente por nenhum título quando ainda estamos em fevereiro; assim que os leões fossem eliminados, a chapada de realidade que mostra o atual e verdadeiro momento desportivo do clube seria dolorosa. Por isso — por muito mais, mas também por isso –, Silas não escondia que já geria a equipa em função de a poupar ligeiramente nos embates internos ao fim de semana e tê-la praticamente na máxima força a meio da semana para a Europa.

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No domingo, contra o Boavista, o treinador leonino deixou Ristovski e Acuña a descansar e lançou Rosier e Borja no onze, para além de ter garantido um (merecido) voto de confiança a Gonzalo Plata, que foi titular em detrimento de Bolasie. Todos cumpriram — Plata fez bem mais do que cumprir –, o Sporting ganhou e esta quinta-feira, na Turquia contra o Basaksehir, Silas regressava ao onze tipo e a Ristovski, Acuña e Bolasie. A imprensa desportiva falou na possibilidade de o técnico optar por um meio-campo reforçado, a pensar na velocidade turca, lançando Eduardo para tirar uma peça do ataque, mas o setor intermédio continuou mesmo entregue apenas a Wendel e Battaglia, com Bolasie e Jovane nos corredores e Vietto nas costas de Sporar.

O Sporting entrou com o bloco baixo, a oferecer a iniciativa ao adversário e claramente a defender a vantagem na eliminatória, preferindo conter as investidas turcas em vez de procurar chegar ao golo. A partida começou num ritmo algo lento, com as dinâmicas enferrujadas e sem grande velocidade: Jovane foi o primeiro a rematar, ainda que muito ao lado, mas Sporting e Basaksehir chegaram mesmo ao fim do quarto de hora inicial sem qualquer remate enquadrado. Apesar disso, os turcos já tinham construído uma boa oportunidade para abrir o marcador, com um cruzamento largo de Clichy a partir da esquerda a encontrar Aleksic ao segundo poste, que cabeceou por cima (7′). A chance do Basaksehir acabava por confirmar a ideia de que os turcos procuravam explorar principalmente o lado direito da defesa portuguesa, onde Bolasie não recuava tanto para dobrar Ristovski e perdia mais bolas na fase de transição, permitindo incursões adversárias pela faixa.

A equipa de Silas foi subindo no terreno a partir do primeiro quarto de hora mas mostrou sempre algumas dificuldades em progredir pela faixa central, com o Basaksehir a forçar lateralizações que afastavam a bola das zonas de perigo. Vietto aparecia muito móvel nas costas de Sporar, de forma habitual, mas o avançado estava demasiado isolado junto à defesa turca para conseguir ligar o ataque ao setor intermédio e de construção. Ainda assim, o Sporting parecia paciente e confortável, até porque o Basaksehir não demonstrava uma criatividade superior — a aproximação do intervalo, porém, trouxe uma atrapalhação algo inexplicável aos leões, que começaram a cometer erros no setor mais recuado e acusaram um nervosismo que ainda não tinha aparecido.

Demba Ba protagonizou o primeiro susto num lance em que fez o mais difícil, ao falhar depois de ficar praticamente sozinho quase em cima da linha de golo (29′), mas o golo acabaria mesmo por aparecer logo na jogada seguinte. Canto batido na esquerda, Maximiano nega um primeiro remate ao defender para a frente, a defesa leonina não consegue aliviar e é Skrtel quem aparece a cabecear, num lance onde o guarda-redes português não fica muito bem na fotografia (31′). Mesmo com o golo sofrido e numa posição mais delicada, os leões continuavam em vantagem na eliminatória e tentaram reagir, com Acuña enquanto elemento mais inconformado da equipa e a beneficiar da melhor oportunidade até então, ao tirar um adversário da frente com um bom pormenor para depois rematar de primeira (39′).

Numa altura em que a equipa de Silas já pensava no intervalo — totalmente desencontrada, a cometer muitos erros na zona de construção e completamente remetida para o próprio meio-campo –, o Basaksehir acabou por conseguir marcar o segundo no último minuto da primeira parte. Num livre direto na direita, depois de uma falta de Vietto, Aleksic atirou para a baliza de Luís Maximiano e aumentou a vantagem dos turcos no jogo, para além de colocar o Basaksehir com um pé nos oitavos de final da Liga Europa (45′).

Na segunda parte, Vietto obrigou o guarda-redes turco a uma boa defesa logo no primeiro lance depois do intervalo (46′) e adivinhava-se uma boa reação do Sporting, que precisava agora de soltar as linhas e espaçar os setores para se lançar para a frente. O remate do argentino foi, porém, uma miragem no deserto, já que os leões não conseguiram impôr de forma clara e decidida um fluxo ofensivo constante, permitindo ao Basaksehir chegar à grande área de Luís Maximiano e empurrar a equipa portuguesa para o próprio meio-campo.

Bolasie não conseguia fazer a diferença na ala direita, Jovane não tinha bola na esquerda e mesmo Vietto parecia estar algo abaixo dos níveis habituais, a cometer muitas faltas depois de perder a bola e sem conseguir ligar o setor intermédio a Sporar, que mal tinha intervenção na partida. Battaglia e Wendel não controlavam o meio-campo e eram facilmente batidos por Aleksic ou Okechukwu, que compunham uma linha média muito combativa. Luís Maximiano evitou o terceiro golo dos turcos que deixaria o Sporting em maus lençóis, com uma dupla defesa a remates de Demba Ba (54′), e Silas reagiu às dificuldades da equipa com a entrada de Gonzalo Plata para o lugar de Bolasie, que esteve sempre muito apagado.

O avançado equatoriano, claramente em pico de forma, juntou-se aos dois elementos mais inconformados da equipa para fazer a diferença. Menos de dez minutos depois de entrar, Gonzalo Plata combinou com Acuña no corredor esquerdo e o lateral argentino tirou um bom cruzamento para a grande área: Vietto, que nem sequer tem como especial valência o jogo aéreo, subiu para cabecear e voltou a colocar o Sporting novamente em vantagem na eliminatória e com um pé nos oitavos de final (68′). Silas tirou Jovane e lançou Doumbia, para tentar defender a vantagem no conjunto das duas mãos, e os leões acabaram por beneficiar do melhor momento do jogo depois do golo de Vietto. Doumbia acertou na barra (88′), Battaglia e Sporar também tiveram oportunidades para resolver de vez o assunto mas o Sporting mostrou-se perdulário, não aproveitando a escassez de discernimento que se ia intensificando no Basaksehir com o adiantar do relógio.

Já nos descontos, depois de Silas colocar Eduardo e tirar Wendel mais para perder tempo do que para mexer na equipa, e já após Battaglia fazer um corte decisivo que evitou o golo do Basaksehir, Visca marcou como já tinha marcado em Alvalade e levou tudo para prolongamento (90+2′). O avançado trabalhou bem sobre Ristovski e rematou em jeito para a baliza de Max, castigando o Sporting pelas oportunidades desperdiçadas depois do golo de Vietto. No fim dos 90 minutos, estava tudo empatado e as duas equipas preparavam-se para mais meia-hora de futebol em Istambul.

O Sporting foi para o prolongamento com três médios de caráter defensivo e novamente a permitir investidas turcas, sem conseguir sacudir a pressão adversária e a cometer diversos erros: a equipa de Silas estava desconfortável, nervosa e ansiosa e não sabia mascaram as fragilidades defensivas que tornavam simples ao Basaksehir chegar à grande área de Luís Maximiano. No fim da primeira parte do tempo adicional, ainda com tudo empatado, o Sporting tinha 15 minutos para evitar decidir tudo nas grandes penalidades mas estava longe de conseguir criar oportunidades de golo.

Os leões tiveram mais bola no segundo tempo do prolongamento, Pedro Mendes entrou para o lugar de Sporar, Gonzalo Plata ainda rematou por cima mas o quase inevitável voltou a acontecer. Em cima do último minuto dos 120 possíveis, Vietto cometeu uma grande penalidade inexplicável sobre Júnior Caiçara: na conversão, a bisar, Visca bateu Luís Maximiano e colocou o Basaksehir nos oitavos de final da Liga Europa (119′).

O Sporting mostrou pouco, foi sempre demasiado curto e nunca conseguiu demonstrar aquilo que teoricamente sempre se disse durante a semana: que era melhor equipa do que o Basaksehir. Acabou goleado na Turquia, traído por dois golos ao cair do pano do tempo regulamentar e do prolongamento. Duas traições justificadas, quase exigidas por um conjunto que nunca mostrou realmente querer seguir em frente — Gonzalo Plata brilhou contra o Boavista mas foi deixado no banco por Silas, Pedro Mendes era uma de duas opções de ataque e Silas chamou-o na segunda parte do prolongamento e Eduardo entrou antes de uma bola parada que deu golo, noutra decisão questionável de Silas. E a melhor metáfora para o Sporting é mesmo Vietto, que marca o único golo dos leões, é o melhor em campo a par de Acuña mas comete a grande penalidade que deita tudo a perder. Quase como se fosse contra-natura o Sporting conseguir passar a eliminatória. Daqui para a frente, de fevereiro a maio, resta a Primeira Liga à equipa de Silas.