A designer de som Joana Niza Braga, que participa na secção “Berlinale Talents”, considera que o cinema português tem uma “nova geração guerreira” que continua a fazer filmes mesmo faltando apoios financeiros.

Com 28 anos e cerca de 60 filmes no currículo, a designer de som, que já várias vezes trabalhou com a realizadora Leonor Teles, recorda a sua última presença na Berlinale, precisamente quando “Balada de um Batráquio” (2016) venceu um Urso de Ouro para melhor curta-metragem.

Tínhamos acabado de sair da escola de cinema. Não havia dinheiro e a Leonor Teles estava a tentar fazer um filme, eu alinhei logo. Lembro-me que estava a fazer um ‘part-time’ na Fundação José Saramago e levava o meu computador para, nos tempos livres, editar o filme. Não tinha estúdio nem nada”, recordou à agência Lusa.

Desde a passagem pelo Festival Internacional de Cinema de Berlim, em 2016, houve “uma espécie de ‘boom’” na sua carreira, admite.

“Não tenho parado, mas agora estou a tentar acalmar um pouco. (…) Chamam-me ‘workaholic’ mas sinto sempre que tenho de ajudar o artista que está a acabar o projeto dele. Quando o filme chega às minhas mãos é porque normalmente já está na fase final, quando está para a edição de som e mistura, e caio sempre no mesmo. É viciante quando se faz aquilo que se gosta”, confessou Joana Niza Braga.

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A designer de som, que trabalha há cerca de quatro anos na “Loudness Films”, admitiu já ter pensado em sair de Portugal, uma ideia que tem sido adiada.

“Penso bastante nisso. Estive em Los Angeles e muita gente me disse para ir para lá, mas sou muito agarrada à minha família e a Portugal. Pode acontecer, mas não sei. Não gosto de fazer as coisas só pelo dinheiro”, sublinhou.

Joana Niza Braga foi um dos 255 nomes a integrar a secção deste ano de novos talentos da Berlinale, assim como o realizador e montador Paulo Carneiro e o realizador José Magro. “Este ano venho noutra secção, mas é bom reviver”, reconheceu

A designer de som acredita que está a aparecer “uma nova vaga” no cinema português, uma “nova geração guerreira”.

“Temos os nossos mestres, como costumo dizer, que é o [João] Botelho, o António-Pedro Vasconcelos, mas agora está a surgir esta nova vaga com a Leonor Teles, o Pedro Cabeleira, o Paulo Carneiro, o José Magro. É bom saber que não estancou quando apareceu a crise e foram cortados todos os apoios”, indicou.

“Desenvolveu-se esta ideia de ‘guerrilha’, todos juntos vamos tentar fazer filmes. Claro que é sempre preciso apoios, sempre. Mas é bom ver que estas novas gerações se esforçam e tentam ao máximo fazer cinema”, acrescentou.

“Terra Franca” (2018), de Leonor Teles, é o filme com o qual a designer de som concorreu à secção “Berlinale Talents”, um trabalho “duro”, admitiu, mas o primeiro que viu e que correspondeu totalmente às suas expectativas. Mas há outros trabalhos que Joana Niza Braga guarda na memória, como “Balada de um Batráquio” (2016)”.

“(…) Éramos apenas uns miúdos a tentar fazer alguma coisa”, referiu.

“O ‘Private Life’ (2018) julgo que era o segundo filme americano em que estava a trabalhar e tinha muito medo, achei que não era capaz. Mas no fim funcionou e ficou muito bem (…). Também o ‘Infância, Adolescência, Juventude’ (2018), do Ruben Gonçalves, me marcou muito. E, claro, o ‘Free Solo’ (2019), que ganhou o Óscar de Melhor Documentário no ano passado, uma experiência que nem dá para descrever”, partilhou.

A Berlinale termina no domingo.