Faltavam alguns minutos para o início jogo. José Mourinho, de gabardina e caderno na mão esquerda, aproveitou aqueles momentos antes da entrada das equipas para estar alguns minutos à conversa com os miúdos que se preparavam para seguir com os jogadores para o campo (e que tanta polémica deram no mês passado quando se tornaram públicos os valores que eram pagos para tal “regalia”). Sorridente, descontraído, bem disposto. O jogo começou, o português teve motivos para isso. Chegou o intervalo, tinha tantos ou mais. Mas aqueles saltos que dava no limite da área técnica aos 73′ pareciam estar a adivinhar qualquer coisa que se confirmaria mesmo – a armada nacional do Wolverhampton ainda tinha uma palavra a dizer. E um jogo para ganhar (3-2).

Nuno treinador lembrou-se do porquê de Nuno jogador achar Mourinho Special: Tottenham vence Wolves nos descontos

“Acho que o Nuno era um bom guarda-redes mas acho que é um treinador muito, muito bom. Acho que está mesmo a fazer um trabalho fantástico. Estamos numa geração em que às vezes os treinadores conseguem ter os seus trabalhos sem que alguém perceba porquê. Neste caso, tem tudo a ver com trabalho. Trabalho, trabalho e trabalho para provar como é bom. Espero que os fãs e os dirigentes do Wolverhampton me perdoem mas acho que tem as condições para ir mais longe e espero que um dia esse projeto chegue porque está a fazer um grande trabalho”, comentou Mourinho sobre o seu antigo guarda-redes que, mais uma vez, voltou a provar que é um dos técnicos revelação da Premier League cada vez mais apontado a outros voos no panorama europeu.

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O nosso relacionamento é muito bom. É um treinador fantástico e conheço-o bem. Fui seu jogador e tenho muita admiração por Mourinho. É algo público mas agora somos adversários”, retorquiu.

No final, Nuno Espírito Santo conseguiu vingar a derrota na primeira volta com um golo de Vertonghen já nos descontos e alcançou (finalmente) a primeira vitória diante do “mestre” José Mourinho, prolongando a saga de encontros consecutivos do Wolverhampton sem perder em Londres, uma cidade talismã da equipa.

Logo a abrir o encontro, numa altura em que os Wolves estavam ainda num processo de adaptação à linha de três centrais com que o Tottenham abordou a partida, Bergwijn voltou a justificar a aposta no mercado de inverno e inaugurou o marcador, numa recarga após grande defesa de Rui Patrício a desvio de Dele Alli numa jogada de envolvimento que teve em Lo Celso o principal protagonista (13′). No entanto, e quando nada o fazia prever, os visitantes conseguiram o empate: combinação na esquerda entre Diogo Jota e Rúben Vinagre, cruzamento do lateral para corte defeituoso de Tanganga e toque oportuno na área de Doherty a bater Gazzaniga, que substituiu à última hora o titular indiscutível e capitão Hugo Lloris (27′).

Apesar do maior domínio territorial, na posse e nos remates, tudo apontava para que o intervalo chegasse com o 1-1 no marcador até que Aurier, que já tinha estado na jogada do primeiro golo do Tottenham, ter um momento de inspiração individual em mais uma descida pelo corredor lateral direito em que fintou Rúben Vinagre para dentro e rematou de pé esquerdo em arco sem hipóteses para o português Rui Patrício (45′).

No segundo tempo, e num erro crasso que acabou por determinar um resto de encontro completamente diferente, os espaços deixados pelo meio-campo do Tottenham nas transições ofensivas do Wolverhampton permitiram que surgisse o efeito J nos visitantes: primeiro o avançado português fez o golo do empate, numa jogada que envolveu de novo o lateral Doherty (57′); depois fez a desmarcação para Raúl Jiménez entrar na área, tirar do caminho Tanganga (que teve uma tarde desastrada) e rematar para a reviravolta que fecharia o marcador (73′).

“Se estou frustrado, desapontado? Sim, ambos. É um resultado injusto, os jogadores não mereceram a derrota. Fomos castigados por erros de mentalidade porque temos de ser implacáveis contra equipas como os Wolves, que jogam bastante bem em contra-ataque. Fomos demasiado bonzinhos, demasiado simpáticos. Essa talvez tenha sido a única diferença entre as equipas”, comentou no final José Mourinho. “Foi um jogo muito, muito difícil. Devíamos ter iniciado melhor o jogo mas não entrámos tão bem. O Tottenham é uma equipa fantástica e consegue criar muitos problemas. A segunda parte foi muito melhor, mais organizada. A energia que colocámos no encontro foi extraordinária. Tenho grande admiração por Mourinho, é uma referência”, disse Nuno Espírito Santo.