“A diretora-geral de Saúde [Graça Freitas] tem feito globalmente um bom trabalho, com honestidade, transparência mas foi precipitada ao falar ao Expresso no cenário de um milhão de infetados em Portugal”, diz Luís Marques Mendes, comentador político, no seu habitual espaço do opinião na SIC. “Divulgar números tão exagerados”, diz Marques Mendes, “pode levar a uma atitude alarmista”. E a função da DGS é “informar e alertar, não é causar pânico e medo”. Estes não são números credíveis – “um milhão de infetados não existe sequer no mundo inteiro” e Graça Freitas tem de ter presente que “é uma diretora-geral, não é uma comentadora”.
Marques Mendes diz que, neste caso do novo coronavírus, “já há histeria a mais“. “Devemos evitar o pânico e praticar a prudência. Nem desvalorizar nem dramatizar. Como disse um médico italiano, ‘o medo é um vírus e a informação é a vacina'”. “Sabemos que há um risco, sabemos o que fazer, sabemos quais as precauções a tomar. O medo não resolve problema nenhum. Não é o fim do mundo, nem perto disso. Temos de confiar nas instituições de saúde e fazer, o mais possível, a vida normal“, acrescenta o comentador.
Já na economia é que há grandes razões para preocupação. “Vamos ter um abrandamento inevitável da economia mundial e europeia. Isso vê-se pela perturbação nas bolsas, no turismo, no consumo e nas exportações. E no risco de as economias italiana, alemã e francesa entrarem em recessão”, são economias que já não estão bem e podem ficar pior. E há outro risco que se junta a este, o da crise dos refugiados.
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Marques Mendes pediu, também, a demissão do presidente do Tribunal da Relação, Orlando Nascimento, pelo caso “gravíssimo” de alegadas irregularidades na distribuição de processos, além da já noticiada autorização a Vaz Neves para utilizar o Salão Nobre do tribunal para um julgamento privado, pelo qual recebeu 280 mil euros.
Sobre o chumbo de Vitalino Canas para o Tribunal Constitucional, Marques Mendes diz que o PS “andou sempre mal” em tentar nomear um homem que é “essencialmente um político”, um “mistério” que Marques Mendes diz não saber decifrar (desde logo, porque é que o PS avançou com o nome). Durante o processo, com a “contestação enorme” que houve, o PS não deveria ter mantido nome. Depois da votação, o PS continuou mal, com Ana Catarina Mendes a ter declarações “inaceitáveis” sobre as “forças de bloqueio”.
O PS “comporta-se como se fosse o dono disto tudo”, quando nem sequer tem maioria parlamentar, diz Luís Marques Mendes.
“É uma loucura” o processo do aeroporto do Montijo
Marques Mendes comentou, também, o caso do aeroporto do Montijo, um caso que considera ser “uma loucura”. “O novo aeroporto é urgentíssimo. O turismo que o diga” e a solução Portela + 1 está decidida desde 2015. No Governo Passos Coelho houve um grupo de trabalho que estudou quatro hipóteses possíveis (Beja, Sintra, Alverca e Montijo) e concluiu que a melhor solução era o Montijo. A hipótese Alcochete foi posta de lado há anos porque é muito mais caro — seis ou oito vezes mais caro — e tem tantos ou mais problemas ambientais que o Montijo, segundo entendidos na matéria”.
“Em função de tudo disto é uma loucura completa voltar à estaca zero”, diz Marques Mendes, acrescentando que há outra “loucura” que é um governo que está em funções há mais de quatro anos e “só agora descobriu que há uma lei que pode bloquear a construção do aeroporto”. “Porque é que o Governo não pensou nisto antes? Por que é que não acautelou a situação? Porque é que não negociou atempadamente com os autarcas?”, pergunta.
“Só resta ao Governo um caminho – deixar-se de arrogâncias, dialogar com os municípios que contestam o Montijo e negociar medidas compensatórias dos seus problemas” e “se, no final, algum município se mantiver intransigente, fazendo braço de ferro, então, sim, fará sentido mudar a lei”. “O interesse nacional não pode ficar refém de uma teimosia local“, afirma Marques Mendes, que diz que o PSD tem de se lembrar que esta solução já vem do tempo de Passos Coelho.
“O Governo está a desgastar-se a um ritmo brutal, enorme”
Num comentário aos quatro meses de vida, Marques Mendes diz que “o Governo está a desgastar-se a um ritmo brutal, enorme”. “O primeiro-ministro e o núcleo político do Governo deviam parar para pensar”, depois de vários casos que têm atormentado a governação, desde a negociação orçamental até aos casos mais recentes.
O PS “tem de partilhar poder”, parar de ser “arrogante” e “parar para pensar, caso contrário isto não acaba num pântano, acaba num caos“.
“Se António Costa não muda de vida, isto acaba muito mal. Depois de não ter conseguido maioria absoluta, por culpa própria, António Costa só tende a ter menos votação, não mais, caso haja uma crise política”, conclui Marques Mendes.