Heather Morris, autora de O Tatuador de Auschwitz e da sequela A Coragem de Cilka, pode vir a ser alvo de um processo judicial nos Estados Unidos da América. George Kovach, enteado de Cecilia Kovachova, uma sobrevivente do Holocausto que terá inspirado a personagem Cilka Klein, acusa a escritora neozelandesa de manchar o nome da madrasta com “mentiras devastadoras e ofensivas” com propósitos comerciais.

Publicado em outubro de 2019 no Reino Unido e Estados Unidos e em fevereiro deste ano em Portugal, pela editora Presença, o romance A Coragem de Cilka é a sequela do O Tatuador de Auschwitz, o bestseller de Morris sobre Lale Sokolov, incumbido de tatuar os prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz. O livro é baseado em entrevistas da autora com o sobrevivente, que lhe contou como se apaixonou por uma prisioneira que teve de tatuar.

A sequela A Coragem de Cilka conta a história de Cilka Klein, que se torna alvo da obsessão de Johann Schwarzhube, comandante de Auschwitz, que faz dela sua escrava sexual. Morris diz ter-se baseado em factos verídicos e nos testemunhos de prisioneiras nos campos de trabalhos forçados na Sibéria, para onde a personagem, tal como Kovachova, foi enviada depois de sair do campo de concentração nazi.

A capa da edição portuguesa de A Coragem de Cilka, que saiu em fevereiro passado, pela Editorial Presença

O enteado de Cecilia Kovachova garante que a madrasta nunca foi uma escrava sexual e que “não fez nenhuma das coisas que foram escritas por Morris. Mas os editoras não tiveram sequer a decência de responder às minhas cartas”, disse ao Daily Mail. George Kovach garante que está “há vários meses” a tentar resolver a situação e reparar a “grande injustiça que foi feita à Cecilia”.

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O enteado da sobrevivente do Holocausto chegou, durante o processo de pesquisa e escrita de A Coragem de Cilka, a encontrar-se com Heather Morris em Oakland, onde reside. A autora ter-lhe-á pedido que cedesse algumas fotografias e que escrevesse um posfácio para o seu livro. Kovach recusou-se depois de ler uma amostra do romance. “Pedi para que o livro não fosse publicado ou que deixasse claro que a Cilka era uma personagem totalmente ficcionada”, contou também ao Daily Mail.

Kovach acredita que “chegou a hora de resolver isto em tribunal. Vai custar-me muito dinheiro, mas vai valer a pena”, garantiu. “Estou determinado a limpar o nome da Cecilia. Ela era uma pessoa maravilhosa, uma sobrevivente e deixa-me lívido que tenha sido difamada desta forma”.

Esta não é a primeira vez que Heather Morris é acusada de distorcer os factos. Como lembrou o Daily Metal, por altura da publicação de O Tatuador de Auschwitz, a escritora neozelandesa foi acusada pelo centro de investigação do campo de concentração de ter escrito um livro com “imprecisões factuais” e “informação inconsistente”. O filho de Lale Sokolov referiu igualmente “imprecisões”, embora alguns meios de comunicação tenham avançado que este se tinha desentendido com Morris por causa de dinheiro, depois de o livro se ter tornado num sucesso mundial.