O Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, anunciou esta quarta-feira que, pela “primeira vez em Portugal”, utilizou uma técnica de intervenção cardíaca que representa “um enorme avanço na abordagem da doença cerebrovascular”.
Trata-se, segundo o responsável do Centro de Referência em Cardiologia de Intervenção Estrutural do CHUSJ, João Carlos Silva, de “uma técnica revolucionária para encerramento de ‘foramen ovale patente’ com pontos de sutura por cateterismo cardíaco, sem necessidade de cirurgia cardíaca”.
De acordo com o clínico, o “foramen ovale patente” é um orifício existente entre duas das cavidades do coração (as aurículas), que ocorre em 25% da população. Habitualmente, esclarece João Carlos Silva, é uma situação sem qualquer impacto na saúde, mas pode facilitar a ocorrência de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) e Acidentes Isquémicos Transitórios (AIT), uma vez que é uma potencial passagem de pequenos coágulos sanguíneos diretamente para a circulação arterial.
Este tratamento ocorreu no Serviço de Cardiologia, Unidade de Hemodinâmica do Centro Hospitalar Universitário São João, que integra o Centro de Referência em Cardiologia de Intervenção Estrutural.
Em termos concretos, esta técnica representa uma forma inovadora de se encerrar uma comunicação intracardíaca auricular, sem deixar vestígios”, sublinha o cardiologista.
O encerramento percutâneo do “foramen ovale patente” com pontos “é possível graças à solução Noblestitch, que surgiu nos EUA”, referiu o especialista, salientando que, para a realização do procedimento, a equipa local contou com a presença de Gerard Marti, médico especialista em Cardiologia de Intervenção Estrutural, no Hospital Vall Hebron, em Barcelona, pioneiro nesta área em Espanha.
O primeiro passo deste procedimento consiste em introduzir um cateter através da veia femoral, alcançando o coração e, mais especificamente, o “foramen ovale patente”.
Uma vez lá, este cateter que incorpora uma agulha vai libertar um fio e dar um ponto numa das extremidades do defeito. Um segundo cateter é então colocado, fazendo-se o mesmo processo na outra membrana do defeito. Finalmente, os dois fios são unidos e as extremidades do defeito aproximadas, encerrando-se assim o túnel entre as duas aurículas”, explicou João Carlos Silva.
Segundo o especialista, “esta nova técnica constitui inúmeras vantagens em relação ao tratamento convencional com dispositivos metálicos, quer para os utentes atingidos por esta situação quer para os profissionais de saúde”.
Em comunicado, o CHUSJ refere que a técnica clássica de encerramento do “foramen ovale patente” implica a utilização de dispositivos médicos de malhas metálicas que ocasionalmente podem associar-se a algumas complicações, que apesar de raras são potencialmente graves, como a embolização, a trombose, a erosão de estruturas vasculares ou arritmias.
Esta nova técnica para além de evitar essas eventuais complicações tem a vantagem de ser realizada com o doente acordado apenas com anestesia local e sem recorrer à realização de ecocardiograma transesofágico durante o procedimento”, acrescenta.