O chefe da diplomacia portuguesa disse esta quinta-feira esperar uma posição firme da União Europeia (UE) relativamente ao “jogo político” que a Turquia está a realizar usando migrantes “como peões”, após ameaçar abrir as fronteiras, mas pediu também compreensão.

A posição portuguesa é sempre a mesma: precisamos de firmeza quando a firmeza é necessária e, neste momento, é indispensável dizer à Turquia que os migrantes e os refugiados não podem ser usados como peões no jogo político”, disse à agência Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

Falando na capital croata, em Zagreb, antes de uma reunião dos chefes da diplomacia europeia, o governante pediu também “diálogo [para] compreender a situação em que a Turquia se encontra, as suas responsabilidades enormes no acolhimento e na integração de milhões de refugiados que estão hoje na Turquia”.

Questionado sobre uma eventual nova crise migratória na UE, dadas as ameaças de Ancara relativamente à abertura de fronteiras para passagem de migrantes e refugiados, Augusto Santos Silva defendeu que os Estados-membros devem “trabalhar para evitar esse cenário”.

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Devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance para, ao mesmo tempo, evitar qualquer crise humanitária, porque há esse risco, e em segundo lugar responder com determinação e também inteligência política à crise que hoje existe, apoiando a Grécia e outros países que fazem a fronteira externa da UE e falando com todos”, argumentou o chefe da diplomacia portuguesa.

E insistiu, afastando outro tipo de atuação: “É falando com todos que resolvemos os problemas”.

Nos últimos dias, a tensão entre Ancara e Bruxelas aumentou após a Turquia ter anunciado a abertura de fronteiras para deixar passar migrantes e refugiados para a UE, ameaçando assim falhar os compromissos assumidos com o bloco comunitário.

Com a medida, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pretende garantir mais apoio ocidental na questão síria, mas a iniciativa já foi veemente criticada por líderes de topo da UE, inclusive pela presidente do executivo comunitário.

Apesar a Bulgária e o Chipre também serem pressionados, é sobretudo a Grécia que enfrenta esta pressão migratória nas suas fronteiras externas com a Turquia, o que levou o país a pedir, no passado domingo, que a agência europeia da guarda costeira, a Frontex, lançasse uma intervenção rápida nas fronteiras externas da Grécia no Mar Egeu.

A Bulgária também solicitou apoio europeu para lidar com a chegada de migrantes e refugiados à sua fronteira.

A UE e a Turquia celebraram em 2016 um acordo no âmbito do qual Ancara se comprometia a combater a passagem clandestina de migrantes para território europeu em troca de ajuda financeira.

Porém, a Turquia, que acolhe no seu território cerca de quatro milhões de refugiados, na maioria sírios, anunciou ter aberto as fronteiras com a Europa, ameaçando deixar passar migrantes e refugiados numa aparente tentativa de pressionar a Europa a assegurar-lhe um apoio ativo no conflito que a opõe à Rússia e à Síria.

Esta questão vai estar em foco na reunião informal de hoje, que se realiza no Luznica Castle, um castelo localizado a cerca de 20 quilómetros de Zagreb.

Estará, ainda, em destaque no Conselho dos Negócios Estrangeiros de sexta-feira, que se realiza na Biblioteca Nacional e Universitária de Zagreb, e para o qual se esperam decisões.