Bruno Fernandes e Bernardo Silva jogam na mesma cidade desde há pouco tempo, cruzam-se nos mesmos escalões da Seleção Nacional durante vários anos, jogaram em rivais da capital portuguesa e atualmente fazem parte da geração mais entusiasmante de jogadores portugueses das últimas décadas. Mais do que isso, tanto um como outro atingiram um patamar que não é para todos: o patamar de, atualmente, poderem ser apenas Bruno ou Bernardo. Quando se fala de futebol, os apelidos de um e de outro já não são necessários. São Bruno e Bernardo, como um qualquer irmão mais novo, um qualquer primo em segundo grau ou um qualquer genro que conquista a sogra com a simpatia. São, sem dúvida, dois meninos bonitos do futebol português.

Este domingo, em Old Trafford, Bruno e Bernardo estavam em barricadas opostas. O primeiro, em claro bom momento de forma, liderava o Manchester United e estreava-se nos dérbis da cidade; o segundo, numa fase competitiva que tem sido mais volátil nos últimos jogos, fazia parte da armada do Manchester City que queria desforrar a derrota de dezembro no Etihad contra o principal rival geográfico. Também a contribuir para a quota portuguesa no dérbi de Manchester, João Cancelo era titular na direita da defesa do City.

Na antevisão, Guardiola deixou escapar que Bruno Fernandes é um “jogador excecional” mas acabou por ser Bernardo Silva a desdobrar os maiores elogios ao colega de Seleção. “O Bruno é um bom amigo, joguei com ele desde os Sub-19 de Portugal. [O Manchester United é um grande clube para ele, é uma grande oportunidade e ele tem estado muito bem, fico feliz por ele porque é meu amigo (…) Começou bem e esperemos que continue assim. Ele aguenta a pressão, foi capitão do Sporting durante mais de duas épocas e era o líder. Acho que ele pode ser o líder do Manchester United também”, disse em entrevista o jogador do Manchester City.

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No jogo em si, Guardiola não teve receio em explicar que, já sem o objetivo de conquistar a Premier League, começa a encarar os jogos internos a pensar também na Europa, neste caso na eliminatória da Liga dos Campeões contra o Real Madrid. Do outro lado, o grande foco de Solskjaer é ainda chegar aos quatro primeiros lugares que dão acesso à Champions do próximo ano e que estão a três pontos, na figura do Chelsea. Assim sendo, Guardiola deixava Mahrez no banco, oferecendo a titularidade ao jovem Phil Foden, e estava ainda desprovido do fulcral Kevin De Bruyne, este por lesão; já Solskjaer não tinha grandes restrições mas optava claramente por um onze mais defensivo e cauteloso, com três centrais e Matic em vez de McTominay, para tentar construir um muro à frente do setor mais recuado.

Além de Bruno Fernandes e Bernardo Silva, também João Cancelo era titular no dérbi de Manchester

Na primeira parte, o Manchester City controlou os 15 minutos iniciais e confirmou-se aquela que seria a dinâmica mais expectável: o City com mais bola, a rendilhar o jogo à volta da grande área de David De Gea e à procura de linhas de passe para entrar nos últimos 20 metros do meio-campo do United. A equipa de Solskjaer atuava da forma que se sente mais confortável, recuada e com os setores juntos e compactos mas pronta para desdobrar para o ataque em transição rápida assim que fosse possível — um modelo que resultou no dérbi de dezembro e ao qual o treinador norueguês parecia manter-se fiel. Apesar do maior controlo, o City não conseguiu criar verdadeiras oportunidades de golo e foi o United, por intermédio de Bruno Fernandes, a realizar o primeiro remate da partida (16′). Um remate que acabou por desbloquear o resto da primeira parte e que definiu aquilo que seria o destino do jogo até ao intervalo.

O Manchester City foi mostrando algumas dificuldades em parar as movimentações de Martial da esquerda para a faixa central — principalmente Fernandinho, com muitas fragilidades na hora de fazer a dobra a Cancelo — e foi precisamente por aí que o Manchester United foi galgando terreno à equipa adversária. Se Wan-Bissaka, assente numa grande exibição, desequilibrava na ala direita, Martial beneficiava da maior presença de Bruno Fernandes na esquerda para se infiltrar na defesa do City e abrir espaço a uma maior mobilidade do jogador português na zona circundante da grande área.

O golo do United acabou por surgir precisamente através de uma combinação entre Bruno Fernandes e Martial, uma jogada claramente ensaiada desenvolvida na perfeição pelos dois jogadores. O português bateu um livre de forma vertical e o francês foi receber já na grande área, atirando rasteiro para bater Ederson (30′). Martial tornava-se o primeiro desde Cantona a marcar ao City em três dérbis seguidos na condição de titular, Bruno envolvia-se num golo do Manchester United pela sexta vez desde que se mudou para Inglaterra (três golos, três assistências). Até ao intervalo, o United manteve o controlo que tinha demonstrado nos instantes anteriores ao golo e dominou o City, que perdeu discernimento nos últimos instantes da primeira parte e saiu para o balneário em claras dificuldades.

A segunda parte começou logo com um golo anulado pelo VAR a Sergio Agüero, que apareceu isolado na cara de De Gea mas estava em posição irregular (48′). O Manchester City correu atrás do prejuízo, como não podia deixar de ser, mas continuou a mostrar muitas dificuldades na hora de chegar com perigo à baliza do United, sendo evidente a falta que De Bruyne faz na equipa. Bernardo e Agüero foram substituídos por Mahrez e Gabriel Jesus ainda antes da hora de jogo, Sterling falhou uma boa oportunidade para empatar (76′) e o Manchester United foi adquirindo confiança na partida, com a clara noção de que o relógio corria a seu favor. Daniel James esteve perto de provocar um erro de Ederson, Bruno Fernandes saiu já perto do apito final para dar lugar a Ighalo e McTominay ainda aproveitou um mau lançamento do guarda-redes do City para fazer um grande golo de baliza aberta e aumentar a vantagem já nos descontos (90+6′).

O Manchester United venceu o Manchester City pela segunda vez esta temporada, depois da vitória no Etihad em dezembro, e ficou a três pontos do pódio e do Chelsea. Bruno Fernandes fez mais uma assistência, voltou a ser dos melhores elementos da equipa de Ole Gunnar Solskjaer, tirou a coroa a Bernardo Silva e é agora o novo príncipe de Manchester: o novo irmão mais novo, o novo primo em segundo grau e o novo genro que conquista a sogra.