Há uma semana que um átrio e uma cafetaria no Centro Hospitalar Universitário do Porto – Santo António começaram a ser adaptados para terem outra função. Com os trabalhos terminados, a partir desta terça-feira o espaço estará a funcionar como uma área provisória de contenção e de encaminhamento dos casos suspeitos do surto do novo coronavírus. Nas palavras de José Barros, diretor clínico deste hospital, este é um “circuito próprio e independente”, uma vez que todo o caminho que é feito até aqui pelos casos suspeitos é separado das urgências ou de qualquer outra zona do hospital, para evitar um possível contágio.

Do lado direito das urgências, uma porta já tem a indicação: “Covid-19 Acesso exclusivo”. É por aqui que os casos suspeitos deste vírus entram, depois de a linha telefónica SNS24 referenciar o caso e encaminhá-lo para o hospital. “Já estamos a contar com estes doentes porque há um contacto telefónico prévio”, explica José Barros. Dentro desta área, há uma sala de enfermagem, quatro gabinetes médicos de observação e sete espaços individuais de isolamento.

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Nesta zona podem estar 11 casos suspeitos em simultâneo à espera dos resultados das análises. “Serão aqui observados clinicamente, fazem as colheitas para análises e esperam em espaços individuais pelo resultado. Se o resultado for positivo, há um circuito próprio para serem dirigidos ao serviço de infecciologia, onde ficarão internados. Os negativos voltarão à comunidade”, acrescenta o diretor clínico.

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A zona onde este circuito foi montado foi criada para ser utilizada em casos de catástrofes ou epidemias, tendo já preparados oxigénio, gases e aspiração. José Barros, em conversa com os jornalistas, sublinha que a adaptação deste espaço começou a ser pensada “ainda antes de se falar num hospital de campanha”. A acompanhar os doentes — e “exclusivamente dedicados à doença” — vão estar sempre três médicos infecciologistas de manhã e à tarde e dois durante a noite. Estes profissionais de saúde vão dar apoio não só no atendimento mas também no encaminhamento e acompanhamento dos doentes na enfermaria.

O tempo de espera neste espaço pelo resultado dos testes pode variar. Tudo porque as análises são feitas em grupo duas vezes por dia, ou seja, são enviadas para avaliação em grupo e não à medida que cada uma é feita individualmente. “Têm de ser agrupados porque os reagentes começam a escassear no mercado e temos de ser muito racionais na sua utilização. Às vezes, quando o indivíduo é o último a entrar naquele grupo, a análise sai rapidamente; se é o primeiro, pode demorar mais tempo. Podíamos fazer tudo isto muito mais rápido, em duas ou três horas, mas estaríamos a desperdiçar reagentes que nos podem vir a faltar no futuro”, clarifica o diretor clínico.

No futuro, a zona que agora serve para responder “à crise desta doença” vai servir como uma “zona tampão” para as obras de requalificação do serviço de urgência do Hospital Santo António, que já estão preparadas para concurso público internacional. Isto significa que esta zona vai acolher outras áreas enquanto a urgência estiver em obras.

A acompanhar os doentes vão estar sempre três médicos infecciologistas de manhã e à tarde e dois durante a noite

Os casos confirmados e pouco sintomáticos

O Hospital de Santo António já atendeu 55 casos suspeitos do novo coronavírus, tendo oito deles sido confirmados positivos (e que ainda estão internados). O primeiro caso positivo nacional foi detetado neste centro hospitalar: um médico de 60 anos que esteve no norte de Itália. Depois disso, os restante sete casos foram confirmados durante o fim de semana, o que indica que o perfil de evolução da doença ainda não é estável. Todos os casos, acrescenta o diretor clínico, “têm uma ligação epidemiológica a um foco original em Itália ou Espanha”. E também todos eles “têm um quadro clínico estável e pouco sintomático”.

Os casos positivos estão internados na ala de infecciologia e, acrescenta José Barros, alguns deles “já recuperaram clinicamente”, mas as análises ainda dão resultado positivo, permanecendo, por isso, internados. “Este é um dos problemas que temos: estes indivíduos são pouco sintomáticos, evoluem rapidamente para a cura clínica, mas a cura analítica é mais prolongada e imprevisível, podendo demorar algumas semanas”. De 48 em 48 horas, são feitas novas análises.

Para o diretor clínico do hospital de Santo António, e com o avançar da doença, poderá acontecer que “estes doentes, mesmo com análises positivas e já curados clinicamente, regressem à comunidade em evicção social”, ou seja, em isolamento em casa. “Para já ainda não tivemos essa necessidade e a Direção-Geral da Saúde também ainda não deu indicações claras do que fazer nessas circunstâncias, mas parece-nos óbvio que iremos atingir esse patamar em que a pessoa curada, mesmo com análises positivas, voltará para a comunidade e ficará em isolamento social”, acrescenta, adiantando que o hospital está, por agora, preparado para receber até 32 doentes.

José Barros acredita que “é provável que o número de casos venha aumentar”. Quanto à hipótese de haver falta de material, há apenas uma resposta: “O material não abunda, tem essencialmente é de ser gerido com racionalidade. Nós não tivemos até agora falta de nenhum tipo de material nem rotura de nenhum tipo de material, temos é alertado as pessoas para o seu uso em situações indicadas”.