O surto do novo coronavírus em Itália, e as medidas aplicadas pelo Governo italiano, “preocupam mais” o Governo do que a situação que se vive na China, devido aos efeitos nas importações e exportações portuguesas, segundo o secretário de estado adjunto e da Economia, João Neves. A nível mundial, o impacto no turismo está a ser “fortíssimo”, acrescenta o responsável.

“Itália preocupa mais do que a China, não apenas do ponto de vista de abastecimento de produtos — a Itália é um parceiro comercial do ponto de vista de importações bastante mais importante do que a China”, mas também no que toca às exportações. “Temos visto um crescimento das exportações para Itália superiores a 10%, abrangendo um leque variado de produtos, desde o vestuário, ao calçado, produção de componentes automóveis”, disse João Neves, em entrevista na rubrica Direto ao Assunto, da Rádio Observador.

Coronavírus: secretário de Estado explica medidas para empresas

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Ainda assim, as empresas, garante o secretário de Estado, não estão a viver “uma situação de interrupção das cadeias de abastecimento, salvo casos muito pontuais“. “Nem sequer podemos falar de setores mais abrangidos por dificuldades. Estamos a falar de empresas situadas em setores, não de setores industriais”.

A China está a dar sinais de uma “possível retoma, pelo menos parcial, das cadeias de abastecimento, e de recuperação dos stocks intermédios”, necessários para a produção de alguns dos produtos nacionais, ainda que tenhamos “um nível de abastecimento direto da China relativamente limitado”.

O setor do turismo, avança João Neves, é um dos mais afetados, com vários cancelamentos. A nível mundial, o impacto está a ser “fortíssimo e é natural que do ponto de vista das deslocações para Portugal esse seja o primeiro reflexo”. Apesar disso, o secretário de Estado nota que os portugueses estão a substituir as férias no exterior por deslocações no interior do país.

Questionado sobre se o cenário de uma possível recessão está em cima da mesa, João Neves não se comprometeu, e preferiu a cautela. “Estamos ainda muito longe para perceber quais os impactos deste vírus na atividade económica, não sabemos sequer o ritmo que podemos vir a ter de propagação do vírus nos principais mercados de destino das nossas exportações.”

Governo vai facilitar a suspensão temporária dos contratos de trabalho nas empresas mais afetadas pelo Covid-19

O Governo apresentou aos parceiros sociais, na segunda-feira, medidas para as empresas lidarem com o surto do Covid-19, como o reforço de uma linha de crédito para as empresas mais afetadas — medida que entra em vigor no dia 12 de março. O objetivo é “aliviar as tesourarias das empresas“. Mas como vão as empresas provar que a diminuição da atividade se deveu ao Covid-19?

No caso das empresas de turismo, é necessário apresentar prova de que há diminuição significativa daquilo que são as reservas nas atividades turísticas. Nas restantes empresas, é necessário entregar “dados sobre as encomendas, é um processo simples e de simples verificação”. Não ficou, porém, esclarecido de que forma esta informação prova que a quebra de atividade foi causada pelo novo coronavírus.

Além disso, o Governo anunciou que vai facilitar o regime de lay-off (suspensão do contrato de trabalho ou redução do horário) para “evitar insolvências” e “proteger a capacidade produtiva instalada das empresa e os postos de trabalho”, mas o Governo espera que a adesão a este regime não seja generalizada.