O primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes, denunciou esta quarta-feira que a sua residência privada está “cercada de militares fortemente armados”, sem o seu conhecimento.

Numa publicação na rede social Facebook, dirigida aos guineenses e à comunidade internacional, Aristides Gomes questiona se o plano para o “silenciar”, que tem denunciado nos últimos dias, “está em execução”.

A Lusa passou à frente da residência de Aristides Gomes, no centro de Bissau, e viu que a Ecomib, força de interposição da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) estacionada no país desde 2012, não estava no local, onde era visível a presença de uma viatura das forças de segurança, bem como alguns elementos. A Ecomib também não estava estacionada no Palácio da Presidência.

Em declarações aos jornalistas na terça-feira, antes de viajar em visita oficial para o Senegal, Níger e Nigéria, o autoproclamado Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, disse que tinha dado ordens para que as forças da Ecomib fossem acantonadas, lembrando que a sua missão termina no final do mês de março.

Dado como vencedor das eleições presidenciais da Guiné-Bissau pela Comissão Nacional de Eleições, Umaro Sissoco Embaló tomou posse como Presidente, sem aguardar a decisão do Supremo Tribunal de Justiça em relação a um recurso de contencioso eleitoral apresentado pela candidatura de Domingos Simões Pereira.

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“Ordenei ontem (segunda-feira) ao primeiro-ministro o acantonamento das forças da Ecomib. Uma pessoa não está em guerra e hoje é a última vez que vão ver uma caravana da Ecomib na minha escolta pessoal. Eu confio nas forças da República da Guiné-Bissau. Quem garante a segurança é o governo e o primeiro-ministro já tem dispositivos montados para garantir a segurança de todas as pessoas”, afirmou.

Na sequência da tomada de posse, Umaro Sissoco Embaló demitiu Aristides Gomes, que lidera o governo que saiu das legislativas e que tem a maioria no parlamento do país, e nomeou Nuno Nabiam para o cargo.

Após estas decisões, os militares guineenses ocuparam e encerraram as instituições do Estado guineense, impedindo Aristides Gomes e o seu governo de continuar em funções e permitindo que o Nuno Nabiam e o seu governo iniciassem funções.

O presidente da Assembleia Nacional Popular, Cipriano Cassamá, que tinha tomado posse como Presidente interino, com base no artigo da Constituição que prevê que a segunda figura do Estado tome posse em caso de vacatura na chefia do Estado, renunciou ao cargo por razões de segurança, referindo que recebeu ameaças de morte.

Umaro Sissoco Embaló declarou que não há nenhum golpe de Estado em curso no país e que não foi imposta nenhuma restrição aos direitos e liberdades dos cidadãos.

Mediadora da crise guineense, a CEDEAO voltou a ameaçar impor sanções a quem atente contra a ordem constitucional estabelecida na Guiné-Bissau, acusou os militares de se imiscuírem nos assuntos políticos e cancelou uma deslocação de peritos ao país para ajudar a resolver o contencioso eleitoral.

As Nações Unidas, a União Europeia e a Comunidades dos Países de Língua Portuguesa apelaram para o diálogo e à resolução da crise política com base no cumprimento das leis e da Constituição do país.