O presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia diz que Portugal é um bom aluno no tratamento dos doentes em estados mais avançados de insuficiência renal, mas que é preciso começar mais cedo a prevenir.

Em declarações à agência Lusa nas vésperas do Dia Mundial do Rim, que se assinala na quinta-feira, Aníbal Ferreira lembra que “Portugal é um excelente exemplo em relação ao tratamento dos doentes nos estadios mais avançados” e que é reconhecido por isso a nível internacional,

“A seguir a Espanha, somos o país que mais transplanta rins por milhão de habitantes”, afirma o responsável, recordando que a hemodiálise tem cobertura em todo o país.

Do que diz respeito aos estadios mais avançados, devemos estar todos muito orgulhosos pelo trabalho que tem vindo a ser feito nos hospitais pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), pelas faculdades e também com a colaboração das associações, quer médicas, quer associações de doentes”, acrescentou.

O responsável sublinha, contudo, que é preciso começar mais cedo a prevenir, sobretudo porque as causas da insuficiência renal nos países desenvolvidos podem ser evitadas com alguns cuidados extra.

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“É claro que precisamos de começar mais cedo a prevenir a insuficiência renal visto que as principais causas nos países desenvolvidos, onde felizmente Portugal se encontra, são a diabetes e a hipertensão”, afirmou.

A diabetes é responsável por quase metade dos doentes em diálise e “um diagnóstico mais precoce e um acompanhamento mais sequencial, quer pelos médicos de família, quer pelos especialistas, poderá reduzir significativamente a necessidade de estes doentes virem a fazer diálise”, defende.

Aníbal Ferreira chamou ainda a atenção para os novos medicamentos no mercado, há dois a três anos, que podem, simultaneamente, “tratar a diabetes, proteger o rim e tratar a insuficiência cardíaca”.

“Provavelmente, nos próximos anos, vamos colher frutos desta intervenção terapêutica, que é extremamente promissora”, disse.

O presidente da SPN disse ainda que o facto de Portugal ser dos países que tem mais doentes em diálise por milhão de habitantes, tendo em conta o envelhecimento da população, significa que “os doentes são tratados até muito tarde, têm uma esperança de vida maior” e que “há um investimento das populações, das famílias e das coletividades em acompanhar estes doentes”.

“Temos doentes com 85 e 90 anos a fazer diálise. Alguns há mais de 10 ou 15 anos”, exemplificou, sublinhado que esta situação também reflete o envelhecimento da população.

“Na Europa a 28, Portugal é quem tem a população mais idosa e isso reflete-se nos doentes com patologias crónicas, seja demências, seja insuficiências de outros órgãos, como a insuficiência renal”, afirmou.

Portugal tem cerca de 12.500 doentes em diálise e 7.000 doentes transplantados. “É um número que, para o nosso país, é grande, mas também tem este aspeto positivo de significar que o SNS (uma vez que tudo isto é feito através dos hospitais públicos) está a funcionar no acompanhamento destes doentes e está a tratá-los corretamente”, considerou.

Aníbal Ferreira defende que Portugal, em termos de prevenção, “claramente podia fazer mais e melhor, sobretudo nos estadios mais iniciais de desenvolvimento das patologias que vão levar à diabetes”.

Este ano, o Dia Mundial do Rim volta ao apelo à prevenção dos grandes fatores de risco, como a diabetes e a hipertensão, como da automedicação com os analgésicos ou anti-inflamatórios, o controle, pelo menos uma vez por ano, dos valores das análises ao sangue e à urina.

Além do bom controlo destas patologias, Aníbal Ferreira chama a atenção ainda para a necessidade de controlar igualmente os hábitos alimentares para evitar a obesidade, não fumar e praticar exercício físico.

“Só assim é possível evitar a diabetes e melhorar a função renal”, concluiu.

Estima-se que 850 milhões de pessoas em todo o mundo tenham doenças renais de várias causas. Até um em cada dez adultos em todo o mundo tem doença renal crónica.