Era um dia como outro qualquer e, pelas 16h, Nélson Costa foi buscar o seu filho, de quatro anos, à escola. Mas, desta vez, não conseguiu entrar. “Disseram-nos que uma menina estava com febre numa sala com uma educadora e, por precaução, os outros estavam noutra sala acompanhados”, disse ao Observador esta quinta-feira. Por suspeitarem que se tratava de um novo caso de coronavírus, durante várias horas, pais, familiares e educadoras tentaram por diversas vezes ligar para a linha de saúde 24, mas as chamadas caiam constantemente.

Ao contactarem, por alternativa, o 112, foram informados que aquele serviço de urgência só poderia acionar uma ambulância do INEM ao local por ordem da linha de saúde 24, o que nunca chegou a acontecer.

Pela hora do jantar, um café vizinho ofereceu uma refeição às crianças e os pais colocaram cobertores à porta da escola, sem nunca conseguirem manter qualquer contacto com os filhos.

Já passava da meia-noite quando uma das seis educadoras que se encontravam dentro do edifício veio à porta chamar os encarregados de educação para irem buscar as crianças. Depois deles, entrou também um médico do Centro de Saúde Maia/Valongo e a vereadora da educação da Câmara Municipal da Maia.

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Do lado de fora, eram muitas as expressões indignadas e inconformadas. “Isto é uma vergonha, foi preciso vir a comunicação social para se lembrarem de nós”, ouvia-se à porta do Jardim de Infância. Depois de cerca de 20 minutos no interior do edifício, os pais das 25 crianças foram saindo a conta-gotas do local, com os filhos no colo, muitos a dormir enrolados em mantas.

José Pereira foi um deles e, antes de ir para casa, partilhou com os jornalistas que não recebeu qualquer indicação médica. “Disseram-nos para levarmos os meninos para casa, mantermos a nossa vida normal, sem quarentena, e que amanhã seriamos contactos pelo centro de saúde”, afirmou.

O Jardim de Infância de Barroso, na Maia, irá reabrir esta sexta-feira, mas José garante que o seu filho não irá comparecer.

À saída do local, Emília Santos, vereadora da educação da Câmara Municipal da Maia, disse que a menina, de quatro anos, com febre tinha uma amigdalite e também iria para casa.