A conselheira para a Saúde de La Rioja, uma Comunidade Autónoma no norte de Espanha, garante que 246 dos mais de 260 diagnosticados com coronavírus na região foram infetados no mesmo funeral. As contas feitas pelos especialistas espanhóis concluem que La Rioja é mesmo o território em toda a Europa com a maior incidência da Covid-19, com 45,4 de infetados por cada 100 mil habitantes, uma taxa superior aos 41,72 da região italiana da Lombardia. Em Espanha, estes dois dados têm sido associados a um único nome e a uma única pessoa: Camarón.

Camarón, cujo nome verdadeiro é Fernando Pérez, foi um dos primeiros infetados com coronavírus cuja identidade foi conhecida em Espanha. O funcionário de um stand de automóveis, de 52 anos, casado e pai de seis filhos, ainda está internado e em isolamento — mas falou com o jornal El Mundo para contar aquela que diz ser a história verdadeira das últimas semanas e para se defender das notícias que o acusam de ter infetado centenas de pessoas num único funeral. Ao jornal espanhol, Camarón começa por revelar que é de etnia cigana e que o funeral onde marcou presença no dia 23 de fevereiro agregou pessoas de várias regiões espanholas, incluindo um casal que tinha regressado há poucos dias de Itália.

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No dia 1 de março, Camarón deu entrada no Hospital Santiago Apóstol com sintomas gripais e ainda não voltou a sair de lá. Foi diagnosticado com coronavírus e as notícias dos dias seguintes, quando começaram a aparecer casos em catadupa na região de La Rioja, depressa o identificaram como o paciente zero.

Terá sido ele quem contagiou centenas de pessoas no funeral onde esteve e nos sítios por onde depois andou — apareceram vários pormenores, como o facto de o espanhol de 52 anos ter organizado jantares com dezenas de pessoas em casa. Duas semanas depois, com uma evolução dramática que obrigou o governo de Pedro Sánchez a decretar o estado de alarme no país, Camarón garante que afinal esteve cinco dias fechado em casa quando começou a sentir os primeiros sintomas antes de ir ao hospital e defende-se: “Tratam-me como se fosse um terrorista. Não infetei ninguém”.

Camarón explica então que o foco de contágio terá surgido no funeral do dia 23 de fevereiro mas que não foi ele a origem a disseminação do vírus. Defende que foi apenas o primeiro a ter sintomas, o primeiro a dirigir-se ao hospital e o primeiro a ser diagnosticado e que a “irresponsabilidade”, como ele próprio a designa, foi das restantes pessoas que estiveram no funeral e que continuaram a fazer a vida normal mesmo já depois do teste positivo de Camarón.

O espanhol de 52 anos critica ainda o governo espanhol, dizendo não entender como é que no dia 8 de março, no passado domingo, estavam equipas de intervenção a entrar em bairros ciganos em La Rioja para controlar o isolamento da população e nas grandes cidades eram permitidas manifestações com centenas de pessoas para assinalar o Dia Internacional da Mulher. Uma indireta que vai diretamente para Pedro Sánchez, cuja mulher está contagiada e esteve nessa manifestação.