O registo descontraído do filme não afasta a importância da mensagem que vários italianos em quarentena foram desafiados a deixar a eles mesmos… 10 dias antes. Isto é, quando o país registava ainda cerca de dois mil casos positivos de Covid-19 e cerca de 200 mortos.

Os últimos dados conhecidos de Itália dão conta de quase 25 mil casos confirmados, mais de 1.800 mortos e cerca de 2.300 pessoas já curadas. Os números vindos do “pior cenário possível” tornaram-se realidade e levaram o governo a decretar a quarentena obrigatória a todo o país. Alguns italianos registaram em vídeo mensagens para eles próprios “há dez dias”, o número de dias que se estima que Portugal, Estados Unidos, Reino Unido ou Espanha, por exemplo, tenham de avanço e podem usar para tentar conter o contágio da pandemia.

“Estás ocupado? Para só um minuto!”, começa um dos italianos que mais tarde reconhecerá que desvalorizou todos os avisos porque a “China parece distante”. “Eu até gozava com as pessoas que usavam máscara”, diz uma das mulheres que se filma, dez dias depois, a utilizar máscara. Outra das mulheres vai mais longe: “Para de gozar com a tua mãe que te diz para comprar uma máscara e vai já comprá-la, idiota.”

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“Eu? Há dez dias fazia reuniões no trabalho, jantava fora com os meus amigos, ao ginásio, ao cabeleireiro, as banalidades que nunca fizeram mal a ninguém”, assume uma das italianas que se filma da sala de casa, durante a quarentena enquanto outro homem é claro: “daqui a dez dias a vida não será nada como hoje”.

Há quem, num registo leve brinque com a pouca probabilidade de se encontrar um país inteiro de quarentena: “Uma nação inteira em casa. Não esperavas esta, hun?”; “Uma bela quarentena, daquela que só se vê nos filmes”.

“Há dez dias eram dois mil contagiados, hoje são mais de 18 mil e já passámos a barreira dos mil mortos”, diz um dos homens ao “seu eu de há dez dias” que continuava a fazer uma vida normal, desvalorizando os casos que surgiam um pouco por todo o país depois da região da Lombardia ter registado um grande número de casos.

Para todos, a solução é só uma: aproveitar os dez dias de vantagem para ficar em casa e impedir a propagação do novo coronavírus. “Vais viver momentos que não imaginaste, como ontem, quando saímos todos à rua”, encoraja uma jovem antes de outra concluir esperançosa: “descansem, isto vai terminar em breve”.