Youtube, WhatsApp, Google Classroom e aulas virtuais são apostas tecnológicas da Escola Portuguesa em Macau (EPM) no ensino à distância há mais de mês e meio, devido ao surto de Covid-19, disse à Lusa o presidente da instituição.

Num momento em que Portugal enfrenta este novo desafio, Manuel Machado olha para a experiência acumulada desde o início de fevereiro em Macau e deixa conselhos aos agentes da comunidade escolar portuguesa: não entrem em pânico, sigam fielmente as indicações das autoridades de saúde, não pensem em cumprir o programa na íntegra, não sobrecarreguem os alunos com trabalho de casa e reforcem o sentido de pertença que encurte distâncias entre alunos, professores e encarregados de educação.

Num momento em que se avolumavam casos em Macau, um dos primeiros territórios no mundo a ser afetado pela epidemia, a direção da escola, pais e professores delinearam por meio de reuniões não presenciais uma estratégia inicial face à suspensão do reinício das aulas e ao desafio das aulas à distância.

Uma estratégia colocada em prática no primeiro mês que também não deixou o ensino de crianças com necessidades educativas especiais de fora, com intervenções dos respetivos docentes sempre que necessário.

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Do 5.º ao 12.º ano de escolaridade a estratégia passou fundamentalmente pela utilização da plataforma Google Classroom, do 1.º ao 4.º ano, com recurso à escola virtual, via a aplicação de videoconferência Zoom Meeting.

Consoante os anos de escolaridade e as disciplinas, outras ferramentas foram utilizadas, como o programa Powerpoint, a plataforma de partilha de vídeos Youtube e a rede social WhattsApp.

Após primeiro mês, em março, assim que foi possível realizar uma reunião geral de professores, optou-se por reforçar de forma generalizada, e em paralelo, a aposta no Google Classroom e nas aulas de vídeo conferência, que se mantêm até à data, um processo que conseguiu juntar pais, alunos e professores numa espécie de mesmo ecossistema escolar.

Numa primeira etapa, cada uma das disciplinas era lecionada uma vez por semana, sendo que agora foi reforçada carga horária a algumas disciplinas, de forma a garantir a necessária preparação para os exames nacionais, cujas datas podem agora até estar em risco, dada a situação que se vive em Portugal, sublinhou o presidente da EPM.

Esta é uma “situação completamente nova e nunca antes experimentada na escola”, com alunos e a maioria dos pais em casa, salientou o responsável.

Criou-se alguma ansiedade nos alunos que foram para casa, nos pais [que passavam] todo o dia com os filhos, com hábitos completamente alterados por parte de toda a comunidade educativa e isso implicou esforço de todas (…) e felizmente foi correspondido por todas as partes”, acrescentou.

A estratégia tem vindo a sofrer ajustamentos ao longo do tempo e “não foi fácil porque implicou a utilização por muitas pessoas de ferramentas que não estavam habituadas a utilizar”, explicou, referindo que “muitos professores tiveram de se adaptar”.

As disciplinas não estão a ser lecionadas ao mesmo ritmo a que se processavam as aulas presenciais, “mas também esse não é o objetivo, o objetivo é que no fundo a comunidade educativa se mantenha próxima, como se a escola estivesse aberta”.

Uma nova etapa começou há poucas semanas, quando muitos dos trabalhadores começaram a regressar ao trabalho, ainda com os filhos sem poderem voltar à escola. Apesar de os “pais, na verdade, não poderem fazer agora o acompanhamento que faziam” e de se ter de ter em conta uma nova adaptação, “de uma maneira geral os alunos estão já habituados a esta rotina”, assegurou Manuel Machado.

É natural que todo a gente esteja ansiosa [em Portugal], mas a existência de aulas virtuais é uma forma dos alunos, embora fora da escola, não se sentirem completamente isolados”, uma vez que “a parte da sociabilização [ainda que à distância] é também muito importante”.

Ou seja, os alunos “perdem a possibilidade de vir à escola, de estarem uns com os outros, de estarem com os professores, mas através do apoio online percebem que não estão completamente isolados”, concluiu o responsável.

Em Macau, depois de uma fase inicial em que foram identificadas 10 pessoas infetadas, com todos os pacientes a receberam já alta hospitalar, nos últimos três dias foram registados cinco novos casos em três dias.

Macau suspendeu o reinício das aulas no início de fevereiro e estabeleceu um calendário para o regresso faseado à escola a partir de 30 de março, começando com o ensino superior, mas com as datas ainda a serem alvo de ponderação consoante a evolução do surto no território.

Já em Portugal, entre as medidas para conter a pandemia, o Governo suspendeu as atividades letivas presenciais em todas as escolas desde segunda-feira. Já a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou na terça-feira o número de casos confirmados de infeção para 448, mais 117 do que na segunda-feira, dia em que se registou a primeira morte em Portugal.