Excluindo a China, o primeiro país a enfrentar o surto do novo coronavírus, Espanha é agora o terceiro país com maior número de casos e mortos em todo o mundo, depois de Itália e do Irão. São já mais de 11 mil os casos positivos da Covid-19 no país e o número de mortos já ultrapassou os 500. Em pleno surto, as autoridades de saúde espanholas reconheceram na terça-feira que não têm capacidade para fazer todos os testes necessários.

Em países como a Coreia do Sul ou Alemanha, por exemplo, o elevado número de testes realizados permitiu um controlo da propagação da doença mais eficaz e esta parece ser uma das chaves para a resolução do problema, segundo a comunidade científica internacional que se tem debruçado sobre a pandemia.

O coordenador de emergências espanhol, Fernando Simón, considerou a insuficiência de testes “uma questão de logística” e acredita que o problema pode ficar resolvido “em dois ou três dias”, segundo o jornal El País, mas a comunidade científica espanhola já tinha alertado para “a gravidade do que se avizinhava”.

A falta de testes será de certa forma suavizada com a medida de quarentena imposta aos espanhóis, porém continuará a ser necessário testar o maior número de pessoas possível para tentar parar cadeias de transmissão, evitando “hospitalizações e, em último caso, mortos”, segundo explicaram os especialistas ao jornal espanhol.

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Responsáveis hospitalares espanhóis apontam falhas na “preparação do sistema”. “O sistema não foi preparado para a gravidade do que se avizinhava. Há menos de uma semana não podíamos fazer uma PCR [tipo de análise] para coronavírus sem pedir autorização. Podia pedir uma PCR para uma gripe, mas não para coronavírus”, aponta um chefe de doenças infeciosas de um hospital que não foi identificado pelo jornal.

Segundo o El País, no dia 9 de março quatro sociedades científicas espanholas enviaram uma carta à tutela da Saúde onde afirmavam ser de “máxima prioridade” a adoção das medidas necessárias para “garantir a identificação (e isolamento) precoce do maior número possível de casos, sendo para isso necessário adequar a capacidade e estratégia de diagnóstico”.

“Estava tudo desenhado para fazer frente a um número limitado de casos e não se dotou os laboratórios dos meios para um aumento exponencial da procura. Nem se dimensionou a logística para recolher milhares de amostras ao domicílio”, especificou a uma fonte não identificada.

Em Portugal, há já alguns municípios que avançaram para a realização de testes rápidos (Porto, Cascais e Lisboa) em coordenação com as ARS respetivas, com o objetivo de testar o maior número de pessoas possível. Serão testadas pessoas previamente referenciadas pelas autoridades de saúde, sendo que nos locais adaptados para os testes em Cascais será possível realizar o teste sem indicação da autoridade de saúde, fazendo o respetivo pagamento — cujo valor ainda não está definido, avançou ao Observador o presidente da câmara municipal, Carlos Carreiras. Em todos os locais, nos três municípios, só será possível realizar o teste mediante um agendamento prévio.

Na segunda-feira, o diretor da Organização Mundial da Saúde Tedros Ghebreyesus deixou explicou a necessidade de realização do maior número de testes possível: “Não podemos parar esta pandemia se não soubermos quem está infetado. A mensagem é simples para todos os países: façam o teste a cada caso suspeito. Se o resultado for positivo, sinalizem e investiguem com quem esteve em contacto essa pessoa nos dias antes de ter sintomas e façam o teste também a essas pessoas”, disse.