O impacto do recolhimento domiciliário que serve para tentar travar a propagação do SARS-CoV-2, o novo coronavírus que se tem disseminado a uma velocidade estonteante em boa parte do mundo, tem tido, além das consequências de saúde (mais de 270 mil casos de infeção confirmada e mais de 11 mil mortes), um impacto devastador nas economias.

O setor cultural é um dos setores abalroados, até por o modelo de subsistência e negócio de artistas como músicos e atores — para não falar de técnicos, managers, roadies e afins — passar sobretudo pelos espetáculos ao vivo, que estão a ser cancelados um pouco por todo o lado.

Nos últimos dias, têm sido muitos os que, recolhidos em suas casas, dão música à distância aos fãs, de John Legend e Chris Martin (do grupo Coldplay) ao indie Kevin Morby, passando pelos portugueses Ricardo Toscano, Bruno Santos e Rita Redshoes e pelos  78 artistas portugueses que se juntaram para o Festival Eu Fico Em Casa. Este novo coronavírus, contudo, também já inspirou obras e composições novas, algumas de artistas mais conceituados e afamados, outras de artistas que de repente se tornaram virais.

Em sua casa, um dos artistas que revelou uma canção nova inspirada pelo momento atual foi o guitarrista, cantor e compositor uruguaio Jorge Drexler — que até se apresentou em Portugal no passado mês de novembro e que já tocou e cantou com artistas portugueses como António Zambujo e Júlio Resende. Como nota o jornal espanhol El Mundo, o uruguaio lançou um vídeo no seu canal oficial de Youtube a interpretar ao vivo um tema novo que compôs, “CODO CON CODO”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A canção, tocada à guitarra e com o que parece ser um produto desinfetante por perto, foi indiscutivelmente inspirada pela propagação da Covid-19 pelo mundo, como aliás Drexler explica na legenda do vídeo que publicou. Nessa legenda, o músico refere que enfrenta as angústias “escrevendo e pegando na guitarra”.

“CODO CON CODO”, que em português significa algo como “lado a lado” ou “próximos”, é assim uma canção que nasce de uma tentativa de “entender esta época em que a maneira de mostrar afeto por outra pessoa passa por não lhe dar a mão”, explica Drexler na legenda do vídeo. É também sobre isso que a canção versa: sobre um futuro em que “voltarão os abraços, os beijos dados com calma”, sobre “a paranóia e o medo” não serem a solução, sobre manter as distâncias”. Ora oiça por si mesmo:

Também Bono, emblemático vocalista de uma das maiores bandas de pop-rock das últimas décadas, os U2, revelou uma canção inspirada pelo novo coronavírus. No vídeo em que interpreta a canção, publicado na conta oficial de Youtube dos U2, Bono começa por dizer que se trata de um tema que compôs “há mais ou menos uma hora” em Dublin e que, “acha”, chama-se “Let Your Love Be Known”.

Na legenda do vídeo publicado no canal do Youtube no Instagram, Bono explica que o tema é dedicado “aos italianos que o inspiraram… aos irlandeses… a toda a gente neste St. Patrick’s day que está num momento difícil e ainda canta. Para os médicos, enfermeiros, cuidadores e profissionais que estão na primeira linha, é para vocês que cantamos”. Na canção, Bono fala de percorrer “as ruas de Dublin” ouvindo “o silêncio” e não vendo “ninguém por perto” — se a letra for literal, é um sinal de que o recolhimento domiciliário em Dublin ainda não é tão apertado como no sul da Europa — e estar a pensar em pessoas que não conhece, mas com as quais se importa.

Menos emotivo, mais humorístico e festivo, tem-se mostrado um novo artista viral da Internet. O nome artístico é Mister Cumbia, o nome de batismo é Iván Montemayor e a nacionalidade é mexicana, garante o jornal espanhol El País.

Nas últimas semanas, este “Mister Cumbia” tem publicado canções relativas ao novo coronavírus em plataformas de streaming como o Spotify a uma velocidade impressionante. São todas alusivas ao atual momento, como aliás se percebe pelos títulos, de “La Cumbia del Coronavirus” a “El Reggaeton Del Coronavirus”, passando por “El Huapango Del Coronavirus”, “La Cumbia Del Covid-19” e “Lavate Las Manos”. O melhor é ouvir por si (e por sua conta e risco…):