Como devem agir os familiares de pessoas infetadas com Covid-19 ? Em que consiste a quarentena? E quanto tempo deve durar? Com o objetivo de responder às dúvidas que possam levar ao controlo da propagação da epidemia, o Ministério da Saúde espanhol lançou um manual com os procedimento a adotar em caso de infeção pelo novo coronavírus. Nas páginas do documento oficial do governo pode ler-se que, em caso de contacto com alguém infetado, o mais indicado é a “quarentena ou isolamento em casa durante 14 dias”. E só uma “avaliação” feita pelos serviços de saúde poderá justificar o desrespeito pelas regras.

Ora nenhum destes procedimentos foi seguido pelo vice-presidente Pablo Iglesias, que deveria ter ficado de quarentena depois da sua companheira, a ministra da Igualdade, Irene Montero, ter recebido um resultado positivo para a Covid-19. E desde então, têm subido de tom as críticas ao comportamento do líder do Podemos. Numa só semana, Iglesias desrespeitou por duas vezes as regras da quarentena voluntária. Aos jornalistas, assim que os exames de despistagem do coronavírus à sua mulher foram conhecidos, a 12 de Março, anunciou:

“Não tenho o novo coronavírus. Mas vou ficar os 14 dias de quarentena a cuidar da minha família e a trabalhar desde casa. Aproveito para agradecer aos profissionais de saúde, os heróis e heroínas do nosso país”.

Só que 24 horas depois deste discurso, Iglesias já estava a participar num Conselho de Ministros extraordinário que aprovou o Estado de Alarme em Espanha e que ficou marcado por uma tensão entre os ministros do PSOE e os do Podemos, segundo o jornal El Mundo.

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Na semana passada, o vice-presidente voltou a sair de casa e esteve no Palácio da Moncloa (a residência oficial do primeiro-ministro) a participar numa conferência de imprensa conjunta com o ministro da Saúde espanhol, Salvador Illa. Durante a tarde, esteve ainda no Conselho de Ministros e deu uma entrevista juntamente com a Ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, e o Ministro da Inclusão, Segurança Social e Migração, José Luis Escrivá. E o que poderia ser mais um dia na vida do líder do Podemos, transformou-se num facto político. Isto porque o manual do ministério da saúde prevê ainda que seja evitado o “contacto entre pessoas que tenham convivido ou estado próximas de doentes infetados por Covid-19”. Um comportamento que Pablo Iglesias desrespeitou. E voltou, novamente, a repetir na sexta-feira quando presidiu a reunião do Conselho Interterritorial de Serviços Sociais.

Mas Iglesias não é o único político espanhol a anunciar a quarentena e a desrespeitar as regras logo de seguida. Adriana Lastra, porta-voz do PSOE, passou por uma uma situação semelhante. Depois de ter anunciado nas redes sociais que voluntariamente se submetia a um período de quarentena — após o contacto com um colega de trabalho que apresentava sintomas e acabou mesmo por ver confirmada a infeção por Covid-19 — dias depois, Adriana já estava no Congresso dos Deputados durante o anúncio feito pelo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, de declarar o estado de emergência nacional pela Covid-19.

Um caso especial é mesmo o de Pedro Sánchez. Apesar mulher, Begoña Gómez, estar infetada com o novo coronavírus, fontes do governo espanhol confirmam que tanto ela como o marido se encontram “estáveis e a seguir as medidas de prevenção estabelecidas pelas autoridades sanitárias”. Em cima da mesa, segundo escreve o El Mundo, nunca esteve a possibilidade do primeiro-ministro entrar em quarentena. Uma atitude que tem sido elogiada pela comunicação social, numa altura em o país conta com vinte mil infetados e mais de duas mil mortes. Já a atitude de Pablo Iglesias não tem sido bem recebida.  Segundo a imprensa, o político “poderia estar a teletrabalhar sem nenhum problema” e só para ter “visibilidade e não por motivos de força maior” é que decidiu sair de casa e ir para até à residência do primeiro-ministro. “Quis passar uma mensagem política mas esta não é a melhor altura para isso”.