O embaixador de Portugal em Díli disse esta terça-feira à Lusa não existirem registos de qualquer agressão física a qualquer cidadão estrangeiro em Timor-Leste relacionadas com a pandemia da covid-19.

“Não há registo nenhum de agressões físicas a estrangeiros, muito menos a portugueses, relacionadas com a covdi-19, ou outra situação”, afirmou José Pedro Machado Vieira, acrescentando que as autoridades timorenses estão a acompanhar “de perto” a situação.

Fui informado pelas autoridades timorenses que estão atentas à questão e que ficaram alerta pelas notícias que foram divulgadas em Portugal e garantiram que vão acompanhar de muito perto a situação e envidar esforços para garantir a segurança de estrangeiro e da nossa comunidade”, salientou.

José Pedro Machado Vieira reagia a uma notícia divulgada em Portugal, de acordo com a qual professores portugueses em Baucau teriam sido agredidos e ameaçados.

A Lusa tentou contactar vários docentes, que não quiseram prestar declarações, mas consideraram a notícia “muito empolgada”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros timorense considerou aquelas alegações “alarmistas e sem fundamento”, mas indicou que a notícia causou preocupação, tendo já chegado ao Presidente timorense.

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“Foi pedido comprovação destas alegações, inclusive com a polícia em Baucau, e não há registos de qualquer agressão. Não há qualquer sentimento contra estrangeiros e muito menos contra os nossos irmãos portugueses“, afirmou Dionísio Babo.

“Nunca existiu esse tipo de ódio contra ninguém, muito menos os portugueses, que são muito respeitados e acolhidos com um sentimento emocional por Timor”, disse.

O político reiterou os apelos à calma e admitiu que o Governo timorense está a tomar medidas para lidar com a situação, responder à apreensão e garantir no possível o bem-estar de todos, incluindo estrangeiros.

Também o ministro interino do Interior, Filomeno Paixão, disse à Lusa que não há denúncias de agressão física a qualquer estrangeiro no território, comprovando apenas informações de incidentes de intimidação sem gravidade.

Quase todos os professores portugueses, integrados no mesmo projeto que os docentes de Baucau, bem como outros portugueses no país, já pediram para serem repatriados.

O embaixador português adiantou existir um plano de contingência, mas que as medidas necessárias “vão ser adotadas as medidas que são necessárias e tendo em conta os níveis de ameaça e de perigo e as preocupações de toda a comunidade portuguesa”.

O diploma rejeitou ainda acusações de abandono e sublinhou que todos os contactos feitos estão a ser acompanhados, através de reuniões regulares com os responsáveis dos projetos de cooperação no país e com a embaixada da União Europeia.

Nos últimos dias, vários estrangeiros relataram à Lusa vários incidentes, nenhum deles com gravidade, em que foram intimidados, com o uso da expressão “corona malae”, habitualmente usada em Timor-Leste para referir estrangeiros.

Apesar desses incidentes, a situação em Díli e no resto do país é de normalidade, com sinais apenas de um aumento da compra de arroz e outros produtos básicos pela população e de uma afluência maior aos supermercados.

Nos últimos dias, os bancos registaram mais filas, que responsáveis do setor atribuíram ao pagamento de salários e pensões.

A intimidação sentida em Baucau por professores portugueses, destacados na segunda cidade do país, levou o embaixador de Portugal a ordenar que os docentes fossem para Díli.

No fim de semana, vários rumores nas redes sociais tentaram relacionar o primeiro caso confirmado da covid-19 no país, com um caso suspeito relacionado com Baucau.

Os incidentes mais graves até agora registados pelas autoridades não envolveram estrangeiros e centraram-se na oposição de comunidades locais à instalação na zona de centros de quarentena para a covid-19.

A situação nesses locais também já está mais calma depois do reforço policial e da visita do líder histórico timorense Xanana Gusmão que, na segunda-feira, pediu calma à população e explicou tratar-se de uma medida preventiva e de proteção para todos.

Em comunicações enviadas à Lusa por familiares dos professores referiram um suposto incidente de apedrejamento que teria ocorrido no hotel.

O responsável português da unidade hoteleira desmentiu a informação e afirmou que existirem outros hóspedes no hotel, também portugueses, e que os funcionários, timorenses e portugueses, estão a trabalhar “com total normalidade”.

Os professores vindos de Baucau ficaram alojados num hotel no centro de Díli, tendo o mesmo responsável indicado à Lusa estar disponível para continuar a receber estes professores com um “preço de contingência”, que torne a acomodação possível.