O líder da oposição no Mali, Soumaïla Cissé, que desapareceu esta quarta-feira enquanto fazia campanha no centro do país, foi raptado, indicaram esta quinta-feira fontes do governo e dois membros da sua comitiva.

“Todas as medidas possíveis estão a ser tomadas” para encontrá-lo, disse o governo, numa declaração cujo título era “sequestro do líder da oposição”. Dois membros da equipa de Soumaïla Cissé confirmaram também, embora sob anonimato, que o líder partidário tinha sido raptado.

O partido liderado por Soumaïla Cissé, a União pela República e Democracia (URD), anunciou na noite de quarta-feira à noite o desaparecimento do seu líder quando fazia campanha para as eleições parlamentares de domingo, no centro do país.

“O URD lamenta informar a opinião nacional e internacional que o seu presidente, o ilustre Soumaïla Cissé, líder da oposição do Mali, e a sua delegação em campanha para as eleições legislativas no distrito eleitoral de Niafunké, estão desaparecidos desde as 15h30 desta quarta-feira, 25 de março de 2020”, disse o partido em comunicado .

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Eles estavam a sair de Saraféré para ir a Koumaïra, onde eram esperados por volta das 16h30. Nem o presidente da URD nem qualquer membro da sua delegação pode ser contactado pelos seus telefones neste momento”, adiantava o comunicado.

O partido disse estar “profundamente preocupado” e apelou ao governo, às forças armadas e de segurança e à Missão das Nações Unidas (Minusma) para que “usem todas as suas energias para encontrá-los”.

Soumaïla Cissé foi ministro das Finanças e já concorreu três vezes à presidência do Mali.

As eleições legislativas deste domingo são vistas como uma parte importante do esforço político que deve acompanhar a ação militar em curso para fazer face à deterioração das condições de segurança no país, devastado pela guerra. A campanha está a ser complicada pelos riscos de segurança e pelas medidas adotadas pelas autoridades contra a pandemia da Covid-19.

Porém, o Presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita (IBK), anunciou esta quarta-feira à noite que as eleições legislativas de domingo no país irão realizar-se, apesar das restrições causadas pela expansão da pandemia do novo coronavírus, que se manifestou oficialmente no país, precisamente naquele dia, com o anúncio dos dois primeiros casos. Desta forma Ibrahim Boubacar pôs fim a vários dias de rumores de que as eleições iriam ser adiadas.

Ainda na mesma quarta-feira, três partidos da oposição assinaram um manifesto conjunto pedindo o adiamento do ato eleitoral por causa da crescente insegurança em grande parte do país, a que se adiciona o aparecimento de casos de infeção por Covid-19 já confirmados.

Depois de conhecidos estes dois primeiros casos de infeção, o governo decretou o encerramento das fronteiras terrestres – com exceção para o trânsito de mercadorias – e o recolher obrigatório das 21h às 5h, bem como o encerramento de escolas e a proibição de reuniões de qualquer tipo anunciadas há alguns dias.

Estas eleições legislativas no país já foram adiadas duas vezes – a última das quais em dezembro – devido ao clima de insegurança no país.

De acordo com o sistema maliano, inspirado no francês, as eleições realizam-se em duas voltas: a primeira, no próximo domingo, e a segunda está prevista para 12 de abril. A zona em que Soumaïla Cissé desapareceu, na região de Timbuktu, é uma área onde operam os jihadistas ligados à al-Qaida.